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Assentamento Bela Vista realiza projeto de leitura coletiva

O Brasil profundo sob nossos pés” conclui sua primeira edição, realizada no Assentamento Bela Vista e, entre os resultados, está um poema de Cássia Santos

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Projeto de leitura coletiva no Assentamento Bela Vista resulta em poesia (Foto: Divulgação)

 

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Após dois meses de encontros semanais, foi concluído na última terça-feira (03), a primeira edição do projeto de leitura coletiva “O Brasil Profundo sob nossos pés”, realizado no Assentamento Bela Vista. O encerramento foi marcado por muita emoção, criatividade e possíveis desdobramentos.

“O Brasil profundo sob nossos pés” é um projeto da Secretaria Municipal da Cultura, em parceria com a Coordenadoria Executiva de Agricultura, que leva leitura coletiva a comunidades, assentamentos, quilombos e demais agrupamentos sociais relativos à luta pelo direito à terra e à liberdade.  

A proposta de leitura foi o romance “Torto Arado”, do escritor e geógrafo baiano Itamar Vieira Júnior, obra de autor brasileiro de maior sucesso no Brasil e no mundo, atualmente.

O projeto, proposto e desenvolvido por Carlos Fonseca, coordenador executivo de Cultura, cientista social e doutor em estudos literários pela Unesp de Araraquara, visa estimular a leitura, principalmente por meio da identificação social do grupo de leitores com a obra lida.  

“Nos encontros, os leitores e leitoras discutiam o trecho da obra lido desde o encontro anterior, de onde eram levantadas questões relacionadas ao romance, mas também à suas histórias de vida”, explica o coordenador.

De acordo Com Carlos Fonseca, “Torto Arado” desvela a herança da exploração escravagista, a formação dos assentamentos, quilombos, a força da mulher, quase sempre silenciada ou diminuída ao longo da história. 

“Dentre os resultados do projeto no Assentamento Bela Vista, destacamos o poema de Cássia Santos, que declara ter sido estimulada a voltar à escrita com a participação no projeto. Cássia é professora coordenadora, e tem uma longa história com comunidades indígenas”, conta.

A próxima edição de “O Brasil Profundo sob nossos pés” deverá ser realizada no Assentamento Monte Alegre, em data a ser definida.

“Fui História”, de Cássia Santos

Morada de araras, de onças, macacos,

De bichos preguiças, de porcos do mato,

De um povo altivo, gigantes, Panarás.

Estreitos caminhos os levavam para lá e para cá.

Fui tingida pelo sangue derramado,

De vermelho me fizeram Sesmaria,

Tive a mata toda derrubada,

Os que sobraram fugiram em agonia.

Escalpelada, destruída, fui monocultura,

Negros me irrigavam com suor e lágrimas,

O sal de imensa amargura,

De trabalho, de castigos de tão sofridas criaturas.

Amarguei em café e açúcar,

Negros rotos, descalços se foram,

Brancos tomaram seu lugar,

Enganados italianos os substituíram.

Me rasgaram em estradas,

De terra, de ferro.

Perfuraram alicerces para casas,

Outro grande erro.

Desgastada e envenenada, fui abandonada,

Pela aristocracia fundiária.

Ocupada por um povo discriminado,

Tornei-me terra da Reforma Agrária.

Hoje sou diversa, toda dividida,

Sirvo a um princípio humanista

Pertenço a uma gente decidida,

Me chamam assentamento Bela Vista.

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