Foram só quatro jogos, mas Ariel Holan já contribuiu ao colocar uma (boa) pulga atrás da orelha do futebol brasileiro.
Em primeiro lugar, é evidente como o Santos mudou sua estrutura tática. Cuca e Ariel Holan falam idiomas distintos para além do português e do espanhol. Na linguagem futebolística, um falará sobre a aceleração pelas laterais, em contra-ataque, e o outro versará sobre o jogo de posição.
O Santos de Holan se coloca em campo como um time que inicia sua organização ofensiva com três jogadores (recurso que também foi utilizado por Cuca em contextos que sua equipe precisava ser propositiva), com uma variação: normalmente, é Alison quem forma essa primeira linha junto com os defensores, mas ontem (17), no empate com o Deportivo Lara, foi Pará quem cumpriu essa função.
Na segunda linha, um meio-campista se posiciona junto com os dois laterais, ou com um lateral e outro meio-campista. Com isso, compreende-se como Vinicius Balieiro se adaptou tão bem ao papel de lateral, já que se comporta como meia no modelo de jogo de Holan. Outro que vem se destacando é o jovem Sandry, mais um raio que caiu na Vila Belmiro.
No ataque, a ideia é sempre ter quatro jogadores atuando em profundidade: dois pelos lados do campo, como extremos; outra dupla por dentro (em regra, posicionados entre os zagueiros e os laterais da linha defensiva rival). Entretanto, também houve uma alteração na partida contra os venezuelanos. Marcos Leonardo foi o único atacante centralizado, enquanto Jean Mota compôs o meio-campo com Sandry, permitindo que Alison ficasse localizado entre os defensores e esses dois meio-campistas.
Esse é o desenho (ainda incipiente) do Santos de Ariel Holan.
Contudo, mesmo em pouquíssimo tempo de trabalho, o treinador que saiu do hóquei na grama para vencer a Copa Sul-Americana com o Independiente, foi mais um a colocar um ponto de interrogação em um dos falsos paradigmas do futebol.
Sem querer descambar para o tecnicismo (até porque, se isso bastasse, todo professor de redação seria Guimarães Rosa), o que Ariel Holan, Abel Ferreira, Jorge Sampaoli, Jorge Jesus, Eduardo Coudet e (pasmem!) Maurício Barbieri têm nos mostrado é que o “tempo”, como parâmetro de análise em relação ao trabalho de qualquer treinador, não deve tratar sobre a capacidade de posicionar jogadores dentro de um determinado sistema tático ou de implementar conceitos gerais de um modelo de jogo. Todos os técnicos têm de dominar métodos (que compõe sua metodologia) para a aplicação desses elementos que são basilares.
Portanto, consiste em um equívoco imaginar que um ano de treinamento seja necessário para que um técnico organize sua equipe em um 4-3-3 ou posicione um determinado atleta em amplitude. Isso é o mínimo. O “tempo” (conceito que, na realidade, poderia ser substituído por “continuidade”) aponta que as relações e as interações que levam um time a aprimorar seu rendimento necessitam de um aprofundamento dos vínculos e dos próprios conceitos de jogo que, na maioria das vezes, acontecem somente em um processo de longo prazo — que, inclusive, contará com oscilações no percurso.
Com isso, de nada adiantar reivindicar o “tempo” como recurso abstrato, desconsiderando o próprio processo e seu potencial em perspectiva futura. O futebol não é jogado no mundo das ideias. Por isso, a materialidade não pode faltar na análise.
Entretanto, é importante ressaltar: isso não significa fazer coro com o resultadismo. Entre a metafísica e a materialidade, o resultadismo nada mais é do que sensacionalista.