O terreiro de umbanda de Campinas que suspendeu o atendimento ao público após diversas denúncias de assédio sexual contra um dos líderes espirituais justificou o fechamento em um posicionamento oficial nesta terça-feira (19).
Em nota publicada durante a manhã, o centro alegou que a suspensão temporária foi uma medida de “prudência, bom senso, zelo, controle e de respeito voltada à preservação do templo interior de cada consulente”.
“Os recentes acontecimentos que vieram a público podem fazer surgir natural divergência de pensamentos, condutas e posturas relacionadas a cada indivíduo e sua forma de ver os fatos, de sentir a vida e a religiosidade”, afirma o texto.
O comunicado alega que o corpo sacerdotal está se dedicando a uma reorganização interna e que conta com o retorno à normalidade dos trabalhos.
“Estamos certos de que em breve a casa seguirá seu caminho de tradição e prática dos fundamentos da umbanda: a fé, o amor e a caridade”, finaliza.
No dia 14, a 1ª DDM (Delegacia de Defesa da Mulher) de Campinas instaurou um inquérito para investigar denúncias de assédio sexual contra o diretor espiritual do terreiro de umbanda. Até o momento, foram identificadas quatro vítimas. O homem está afastado das funções desde 29 de junho (veja abaixo).
LEIA MAIS
Homem morre em troca de tiros com o Baep em Americana
Ladrão que atacava motoristas em semáforos no Centro de Campinas é preso
O CASO
Os relatos que levaram a Polícia Civil a abrir uma apuração partiram de mulheres que integram a equipe de atendimento do local. Ao tomar conhecimento das denúncias, a instituição decidiu afastar o médium.
O caso chegou à Armac (Associação dos Religiosos de Matriz Africana de Campinas), que se manifestou. Assinada pelo conselho de religiosos, a nota defende que o terreiro enfrente “a apuração com transparência de ações”.
“Sem se descuidar das garantias do devido processo legal e de legalidade preservando as garantias constitucionais e que, para tanto, deve possibilitar imediato acolhimento, preservação e apoio para as vítimas”, alega a Armac.
A associação que representa as religiões de matriz africana diz ainda repudiar “veementemente a cultura do machismo presente na sociedade brasileira, bem como qualquer atitude da prática de crime de assédio sexual e assédio moral, racismo, homofobia, intolerância, ou racismo religioso”.
VÍTIMAS
Uma vítima do líder espiritual de umbanda acusado de assédio sexual em Campinas afirmou que ele pedia segredo do ato criminoso porque isso podia “destruir a fé” das pessoas. No relato, a vítima, que preferiu não se identificar, afirmou que o Pai de Santo iniciou as ações durante um atendimento individual.
“Em 2014, eu estava ainda de licença-maternidade e passei na sala dele de atendimento. Esse tipo de atendimento é comum, individual, a gente sempre pede ajuda. E na hora de sair da sala, eu levantei, ele levantou, ficou bem próximo a mim, e eu com a minha filha no colo. Eu assustei quando ele colocou a mão dele dentro da minha roupa. E eu assustei, dei um tranco para trás”, diz.
OUTRAS DENÚNCIAS
A Armac informa ainda que recebeu na semana passada outras denúncias de assédio sexual e que “muitas vezes as mulheres não denunciam por medo e pela magnitude sexual imposta” por líderes, ou dirigentes espirituais.
LEIA TAMBÉM
8 meses após morte, Marília Mendonça quebra recorde histórico no Spotify