A avião da Voepass que caiu em Vinhedo na última sexta-feira (9) já vinha passando por uma série de paradas para manutenção nos últimos meses. A primeira delas aconteceu no dia 11 de março. Depois de uma viagem de Recife, em Pernambuco, para Salvador, na Bahia, um relatório oficial descreveu problemas no sistema hidráulico durante o voo e um contato anormal da aeronave com a pista na hora do pouso. Segundo o documento, foi um choque da cauda do avião com a pista, que causou um dano estrutural na aeronave.
De acordo com o comandante aposentado de ATR, Ruy Guardiola, este é um dado importante para as investigações. “O problema hidráulico, em qualquer aeronave, seja um ATR, um Boeing ou um Airbus ele é altamente significativo.”
A aeronave ficou estacionada na capital baiana por 17 dias, até 28 de março, quando voou para passar por consertos na oficina da Voepass, em Ribeirão Preto.
O avião só voltou a voar comercialmente no dia 9 de julho, mais de três meses depois, em uma rota de Ribeirão Preto para Guarulhos, onde um novo problema voltou a acontecer. Desta vez, o relatório apontou despressurização em voo. Por isso, a aeronave foi novamente levada para Ribeirão Preto, onde ficou em manutenção por mais quatro dias.
Depois dos reparos, no dia 13 de julho, o avião voltou às atividades comerciais. Um dia antes do acidente com o avião da Voepass, no dia 8 de agosto, uma passageira registrou um vídeo dentro da aeronave. Nele, ela relata problemas com ar-condicionado. De acordo com a gravação, um passageiro chegou até a tirar a camiseta para aguentar as altas temperaturas.
Formação de gelo pode ser uma das causas da queda do avião
Um dos fatores mais importantes a serem analisados é a possiblidade de presença de gelo durante a rota entre Cascavel, no Paraná e Guarulhos, na última sexta-feira. Outros pilotos que passaram pelo mesmo trecho no dia da queda do avião da Voepass, relataram o problema. Além disso, o boletim de meteorologia mostrava formação severa de gelo no trajeto que o avião ia percorrer.
O ATR é um turboélice, uma classe de aviões que voa justamente nas altitudes onde o gelo costuma se formar. Por isso, de acordo com o professor do Centro Técnico Aeroespacial e da Fatec, Marcos Souza, existem sistemas específicos para derreter esse gelo e evitar acidentes.
“São resistores que aquecem e não permitem ou se formar o gelo, ele derrete. E isso você costuma colocar nos tubos de pitot, que indicam a velocidade, na entrada do motor, no para-brisa. Então, o piloto, quando ele está indo para uma região passível de formação de gelo, ele liga esse sistema.”
De acordo com Marcos, outro ponto muito sensível, é a asa. Isso porque, o acúmulo de gelo diminui a velocidade e, em consequência, a sustentação da aeronave, principalmente quando há formação da borda da frente.
“Essa região é crucial para você conseguir ter sustentação em toda a asa. E é justamente aqui onde forma o gelo. Você vai perder essa sustentação, ela vai ser muito menor e a aeronave cai começar a cair”, explicou.
Para que isso não aconteça, existe um recurso que pode ser utilizado: voar em uma altitude mais baixa. E, neste caso, não é necessário esperar autorização da torre de controle.
Segundo o ex-comandante de ATR, Diego Amaro, quando o piloto encontra gelo, essa deve ser a primeira medida adotada.
“Quando tu começa a descer, o avião acelera. Começou a acelerar o avião, isso vai te livrando, automaticamente, da condição de gelo”, explicou.
Segundo a aeronáutica, não houve pedido do ATR para voar mais baixo. Dados do site sueco Flightradar, que rastreia voos em mais de 150 países, mostram o avião nivelado a mais de 17 mil pés, cerca de cinco mil metros. Um pouco antes da queda, ele baixa bruscamente para 16.700 mil pés e volta, de repente, para 17.200 pés e, então, cai.
Ex-funcionários falam sobre situação dos aviões da Voepass
A todos os dados técnicos, se somam informações sobre os métodos da empresa Voepass e da antecessora, a Passaredo.
De acordo com o diretor-presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Henrique Hacklaender, a pandemia da Covid-19 afetou negativamente os negócios da empresa.
“Depois da pandemia, os tripulantes têm percebido níveis de fadiga ainda maiores”, afirmou.
Além disso, ex-funcionários da empresa fazem críticas à manutenção das aeronaves. De acordo com esse ex-funcionário, que não quis se identificar, a segurança não é um fator primordial para a Voepass.
“A empresa colocava a segurança em segundo, terceiro lugar. Visava mais o lucro. Tinha um avião que a gente apelidava de Maria da Fé, porque ele só voava pela fé, não tinha explicação de como um avião daquele estava voando.”
Humorista relatou problemas com avião da Voepass no mês passado
O humorista, Jonathan Nemer, relatou problemas durante uma viagem com a Companhia Aérea em um vídeo publicado nas redes sociais no mês passado. De acordo com a publicação, os problemas aconteceram durante trajeto entre Rio Verde, em Goiás e São Paulo.
“Um dos piores voos até hoje. Não costumo reclamar, mas avião muito velho, atraso de mais de uma hora, ar-condicionado não funciona, assentos que não reclinam, serviço de bordo ofereceu apenas água em um voo de duas horas. Olha que sou fã e torço muito pela Voepass, mas hoje foi triste. Comissárias educadas e simpáticas”, escreveu na publicação.
Investigações
As investigações do acidente em Vinhedo ainda estão no começo. Novos dados, principalmente das caixas pretas, podem mudar o rumo das apurações. Mas, por enquanto, as hipóteses principais são:
- Por algum motivo técnico, pilotos não perceberam acúmulo de gelo e seguiram voando na mesma altitude até perder sustentação.
- Pilotos perceberam o acúmulo de gelo, mas os procedimentos seguidos não eliminaram esse gelo e o avião perdeu sustentação.
- Além da questão do gelo, também pode ter havido algo relacionado ao dano estrutural que os mecânicos detectaram em março.
Para Diego Amaro, o piloto e copiloto fizeram tudo o que podiam.
“Ali, os pilotos, tenho certeza absoluta, caíram, morreram lutando, entendeu? Eles morreram tentando fazer o que podiam fazer”.
Com informações da EPTV Campinas
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