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CotidianoEstudante do Campo Grande, em Campinas, é aprovada em medicina na França

Estudante do Campo Grande, em Campinas, é aprovada em medicina na França

Lucila Teixeira da Silva enfrentou falta de tempo, rotina exaustiva e aneurisma cerebral do pai para realizar sonho de ser médica

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A estudante Lucila Teixeira da Silva (Foto: Luciano Claudino/Código19)

Acordar às 5h, pegar o ônibus do Parque Floresta III às 5h30 e chegar no colégio, na Ponte Preta, às 7h. Às 13h15, sair do colégio e ir para o estágio. Às 17h30, sair do estágio com uma folga de uma hora e meia antes de entrar na aula, às 19h, no Cambuí, onde permanecia até às 22h. Chegar em casa à meia noite, jantar, estudar e dormir quatro horas, para recomeçar no dia seguinte. A rotina, que já cansa só de ler, é da estudante Lucila Teixeira da Silva, de 22 anos, aprovada em medicina em uma universidade da França.

Moradora do distrito do Campo Grande, em Campinas, a estudante enfrentou a rotina exaustiva, a falta de tempo e ainda a dificuldade de um aneurisma cerebral do pai, no ano de vestibular, para realizar o sonho de se tornar médica.

No último dia 31, Lucila foi às lágrimas ao descobrir que foi escolhida para cursar medicina na Université de Limoges, na cidade de Limoges, na França.

O COMEÇO DO SONHO

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A jornada de Lucila começou em 2017, no segundo ano do ensino médio. A jovem sempre quis ser médica, desde criança. “Ela juntava as bonecas, estetoscópio de brinquedo, fingia que estava trabalhando”, conta Selma Silva, mãe da jovem.

Sem condições de pagar uma faculdade, a mãe ofereceu à filha um curso técnico na área da saúde, para que ela conseguisse um emprego e pudesse perseguir o sonho.

A jovem se matriculou, então, em um curso de técnico em enfermagem, em uma escola de Campinas. A mãe trabalhava como motorista de van escolar e fazia doces para vender. Já o pai era motorista de ônibus.

No ano seguinte, em 2019, a estudante se manteve firme no objetivo. “Acordava às 5h para pegar o ônibus às 5h30 porque o colégio era longe, chegava lá às 7h. De lá saía direto para o estágio, que alternavam entre hospitais de Campinas, Sumaré e Valinhos. Às 19h30 tinha que estar no curso. Ficava lá até 22h30 e depois ia pra casa. Chegava por volta da meia noite e ainda ia comer e fazer lição”.

UM OBSTÁCULO

No pior ano, em termos de rotina, um obstáculo a mais. Em março de 2018, Lucila terminaria o ensino médio e poderia prestar um vestibular, mas um rompimento de aneurisma cerebral deixou o pai internado. Com o problema, a família teve que se mudar para a casa dos avós maternos com os dois irmãos mais novos, para melhorar a acessibilidade do pai.

Além da rotina exaustiva nos estudos, a estudante ajudava a cuidar do pai quando não estava no estágio e aos fins de semana, o que excluía a possibilidade de lazer.

“A maior dificuldade dessa época foi essa intercorrência com meu pai. A coisa mudou muito na minha família, desde o psicológico até a organização, porque meu pai, quando saiu do hospital, ficou completamente acamado, dependia da gente pra tudo”, relatou Lucila.

Mesmo com a rotina apertada e as dificuldades, Lucila aguentou o ano todo e concluiu os estudos. 

Ela conta que o segredo é “não desistir” (Foto: Luciano Claudino/Código19)

ESTUDO NA FRANÇA

Após a conclusão do ensino médio e do curso técnico, em 2019, Lucila estava desempregada. Através da mãe de um amigo, a estudante ficou sabendo sobre a possibilidade de estudar na França, através de um processo seletivo do Campus France, órgão do governo francês, que seleciona estudantes estrangeiros para universidades do país. A jovem se empolgou e começou a amadurecer a ideia.

Em 2020, a então formada técnica de enfermagem conseguiu seu primeiro emprego no Hospital da PUC-Campinas, e começou a fazer aulas de francês com um professor particular. Após um ano de estudos, ela foi aprovada na prova de proficiência da língua, requisito para a então candidatura na França.

A jovem então se inscreveu, realizou uma prova no idioma e uma entrevista, feita pela União Francesa de Campinas. Além disso, enviou todo seu histórico de estudos ao órgão francês.

Durante o processo, três universidades poderiam ser escolhidas pela estudante, o que foi feito. Enquanto aguardava o resultado, a estudante achou que não conseguiria.

“No começo de março deste ano eu tive a resposta da primeira universidade, dizendo que não aceitariam estudantes de fora da União Europeia. A segunda me respondeu no dia do meu aniversário, no último dia 29, falando que meu nível não era suficiente.
Passei meu aniversário e o dia seguinte chorando. Fiquei muito mal, com medo de não dar certo. No dia 31 de maço, às 5h15, eu recebi a resposta da última universidade. Tomei café, saí, fui à academia. Gastei toda a energia, antes de ver o resultado. Quando vi que passei, não conseguia parar de chorar”, conta Lucila.

ORGULHO PARA A MÃE

Selma da Silva, de 44 anos, disse que chegou a achar que as dificuldades levariam a filha a desistir do sonho.

“Durante o ensino médio, achei que ela ia tirar essa ideia de medicina da cabeça. Então conversei com ela e disse que eu e seu pai não tínhamos condição de pagar a faculdade, pela nossa condição, e que ela teria que fazer o técnico e arrumar um emprego para ir atrás do sonho”, explica.

A filha aceitou a condição e prosseguiu até a aprovação no último dia 31, que encheu a mãe de orgulho.

“Com as duas respostas negativas, eu já tinha até preparado um texto para consolar ela. Mas aí quando cheguei em casa e ela me contou da aprovação, ela que teve que fazer um texto pra mim”, contou a mãe, emocionada.

Selma diz que Lucila a enche de orgulho e mandou um recado para a filha: “A mãe te ama filha, você é a realização do meu maior sonho e pode ter certeza que o que estiver ao nosso alcance, meu e do pai, nós iremos fazer”, disse.

UMA NOVA ETAPA E VAQUINHA

Questionada sobre a motivação que o levou a perseguir o sonho, Lucila disse que o segredo é não desistir.

A família tem realizado rifas e vendido chocolates para ajudar na arrecadação para a viagem da jovem ao país europeu, que deve acontecer em agosto. Uma vaquinha online foi criada por amigos para ajudar na arrecadação (clique aqui para ajudar).

“A educação é o principal pilar que sustenta uma sociedade. Corra atrás, do jeito que der, não tenha medo do desconhecido, use os recursos que tiver e não desista”, disse a jovem. 

*Sob supervisão de Luciana Félix

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