O HC (Hospital de Clínicas) da Unicamp, em Campinas, registrou nos últimos três anos um aumento no de quase 30% no número de pacientes que buscam atendimento pelo SUS (Sistema Único de Saúde) no ambulatório de especialidades. Os números de consultas passaram de 305,2 mil em 2020 para 394,2 mil em 2022.
O ambulatório oferece 33 especialidades médicas e atende a saúde de ao menos 60 cidades, que encaminham pacientes para atendimento em Campinas. Às portas do ambulatório abrem às 7h, mas ainda na madrugada é possível ver filas de pessoas vindas de diversas cidades buscando atendimento. Alguns pacientes enfrentam viagens longas até chegar a Campinas.
FILAS LONGAS
A doméstica Balbina de Fátima Silva é uma das que enfrentam a fila no hospital. Moradora de São Sebastião da Grama, ela enfrenta uma distância de mais de 150 km para ser atendida em Campinas. “Saímos 4h da manhã, chegamos aqui quase 7h”, contou.
O hospital universitário da Unicamp é mantido por uma parceria entre governo do Estado de São Paulo e recursos federais do SUS. Considerado um hospital de grande porte e alta complexidade, a unidade oferece atendimento por meio de convênios com prefeituras, que encaminham os pacientes para qual não há atendimento especializado na cidade.
“Meu marido teve um AVC em abril, tem que chegar cedo, é por ordem de chegada né. Senão vier para a Unicamp lá não tem esse tipo de atendimento”, contou outra paciente que veio Hortolândia e enfrentava a fila desde cedo. “Saímos 5h, se não vier para cá lá não tem atendimento”, completou.
A dona de casa Cláudia da Silva também é outra paciente que migrou em busca de atendimento. No caso dela, a espera por cirurgia ortopédica enfim estava terminando.
“Lá na minha cidade não tem, eu preciso de cirurgia, e ai preciso vir para cá, mas hoje estou vindo para internar, para fazer a cirurgia, graças a Deus”, comemorou.
ALTA DEMANDA
Durante a manhã a reportagem da EPTV Campinas registrou filas longas de pacientes esperando por atendimento em especialidades. Ao raiar do dia, as filas viram o quarteirão do estacionamento do hospital.
A superintendente da Unicamp, Elaine Cristina Ataide, explica que os ambulatórios recebem alta demanda de cidades de todo o Estado.
“As cidades só têm a gente como uma referência para esses pacientes. Então como cada ambulatório atende por volta de 50, 60, às vezes 100 pacientes por período, de manhã e a tarde, quando chegam os pacientes no mesmo momento até eles serem direcionados essas filas acabam acontecendo”, explicou.
O aumento na demanda nos últimos anos é justificado pelo período da pandemia de covid-19, período em que muitos perderam planos de saúde e migraram para o SUS. Um dos porteiros do hospital, Eliu Soares de Oliveira, conta que já viu pessoas de todos os lugares procurando atendimento.
“Trabalho há 10 meses aqui. Do tempo que estou aqui já vi gente do Rio de Janeiro, Mato Grosso, Minas Gerais e até de outros países, Argentina, Colômbia…”, relatou.
ESPECIALIDADES
Segundo o HC, é mantido um convenio com 64 cidades para oferecer 300 sessões de quimioterapia por mês. No entanto, em função da grande demanda, estão sendo atendidos em média 1 mil pacientes mensais.
“O principal gargalo acaba sendo os pacientes com diagnóstico de câncer, que têm esse diagnóstico na sua unidade básica de saúde, ou nos centros especializados, e acabam sendo encaminhados para um serviço terciário e quaternário. Por que estão vindo mais pacientes? Porque com o advento da pandemia, esses pacientes acabaram tendo neoplasias mais avançadas, necessitando vir para um hospital de nível terciário e quaternário, como é o nosso”, explicou a superintendente.
Segundo a superintendente, outro gargalo grande que vem acontecendo, é na área de cardiologia. Como os casos são complexos, alguns pacientes passam anos na fila, e muitos não tem previsão de alta.
“Há 33 anos eu venho aqui. A gente não tem condição própria para vir então tenho que aceitar a condição da Prefeitura da minha cidade. Lá não tem especialidade que preciso”, relatou a dona de casa Aline Cardoso, moradora de Ibaté.
E A SOLUCÃO?
Segundo a superintendente do HC, uma solução ideal para a grande demanda do hospital tem relação com a prevenção de doenças e aumento de vagas para atendimento. Sobre isso, o ambulatório tem feito mutirões de quimioterapia pra reduzir as filas. Em março, devem acontecer corujões – com atendimento à noite de radioterapia.
Apesar de toda a demora, os pacientes são gratos pelo atendimento do hospital. “A saúde já está bem deficiente no nosso país, se não tivesse uma Unicamp o que seria? Mesmo com toda essa dificuldade é essencial”, relatou a administradora Roseli Jacinto, que esperava na fila por atendimento para a mãe, que tem diagnóstico de lúpus.