O trânsito na região de Campinas está com uma quantidade cada vez maior de motoristas com idade mais avançada. Dados fornecidos pelo Detran (Departamento Estadual de Trânsito) mostram que as cidades da região contam com uma população de 13.521 motoristas com idade entre 81 e 100 anos, número 25,7% maior do que a quantidade apurada em 2022, que era de 10.749 motoristas nessa faixa etária.
Esses condutores são os que têm CNH (Carteira Nacional de Habilitação) ainda ativa. Dentro desse valor, a cidade de Campinas é a que concentra a maior parte dos motoristas mais velhos, com 4.845 condutores com idade entre 81 e 100 anos, o que equivale a 35,8% do total.
Motoristas acima dos 80 anos em Campinas
Um exemplo de morador de Campinas com experiência longeva ao volante é o Ricieri Dezem. Com 81 anos, ele conta que não tem dificuldade em dirigir e que mantém este hábito muito ativo em sua vida, rodando cerca de 100 a 150 km por dia para as mais diversas atividades: ir no clube, na academia, jogar vôlei ou levar a sua esposa onde precisa.
Ricieri dirige principalmente nas rodovias de Campinas e passa bastante pela Norte-Sul, mas não tem muito costume de trafegar dentro da cidade. Ele afirma não enfrentar nenhum problema com outros motoristas no trânsito por conta de sua idade mais avançada, mas observa que os mais jovens costumam andar “muito apressados”.
“Tem um pessoal muito barbeiro no trânsito, passa pela gente correndo, não tem respeito”, comenta. Os motoristas mais jovens são mais expressivos no trânsito campineiro quando comparados aos mais idosos, em que só o intervalo dos 18 aos 35 anos acumula 172.164 condutores.
Moradora do Parque Alto Taquaral, Ivanilde Maria Celeio de Toledo também faz parte do grupo de motoristas acima dos 80 anos e concorda que os mais jovens ficam “muito afoitos” no trânsito. Por não se preocupar em “correr” ao andar nas vias de Campinas, ela percebe que os demais motoristas têm o costume de “tomar a frente” por conta da pressa. “No fim, eles acabam parando no semáforo seguinte e a gente para atrás”, complementa.
A idade também não é um empecilho para Ivanilde conseguir dirigir o carro no dia a dia. “Eu vou na igreja, supermercado, não tenho dificuldade nenhuma, meus reflexos estão em ordem”, conta.
Tendência de motoristas mais velhos
O crescimento da quantidade de motoristas entre 81 e 100 anos na região de Campinas não é nada fora do esperado, já que a tendência para os próximos anos é ter cada vez mais condutores com idade mais avançada, conforme explicou o professor Creso de Franco Peixoto, da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Segundo ele, a faixa etária de motoristas acima dos 80 anos tende a aumentar, principalmente na região Sul e Sudeste do Brasil, por conta da mudança no formato da chamada “pirâmide etária” que foi apresentada nos últimos anos pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Essa pirâmide mostra a distribuição de diferentes grupos etários numa população.
“A evolução da porcentagem de pessoas com idade um pouco maior, tanto na média quanto na mediana, são indicadores da frequência cada vez maior de motoristas em faixa etária elevada”, explica. Com isso, o aumento de 3.904 para 4.845 motoristas acima dos 80 anos em Campinas seria um dos resultados dessa evolução.
O risco no trânsito é maior com motoristas mais idosos?
Quanto a um possível risco da presença cada vez maior de motoristas de idade mais avançada no trânsito, Peixoto reforça que as estatísticas são claras e que os acidentes com maior gravidade acontecem normalmente na faixa etária bem menor.
“Motoristas com idade bem reduzida em relação aos de faixa etária elevada são normalmente aqueles que são predominantes em acidentes com mais vítimas e vítimas fatais, em função de uma série de fatores”, conta. De acordo com ele, o que explica essa tendência seria um pouco de “racionalidade” por parte dos condutores mais velhos, já que é normal que uma pessoa que chegou em uma faixa etária mais elevada preocupe-se em se manter viva.
Por outro lado, o jovem acaba tendo uma influência maior em várias questões humanas com relação à “percepção de velocidade, a emoção e comportamento”. O professor de Unicamp detalhe que eles são fortemente influenciados por questões grupais e por culturas indevidas, como a questão do excesso de velocidade, dirigir alcoolizado e ainda o uso indevido de celular.
Ele destaca a dependência do celular como um fator de risco no trânsito, algo que está mais presente em pessoas com faixa etária menor. “Eles nasceram no mundo totalmente digitalizado, isso reforça esse problema do uso indevido do celular e que aumenta os riscos na condução viária muito mais na baixa faixa etária do que na elevada”, afirma Peixoto.
Renovação da CNH
O prazo de validade da CNH varia de acordo com a idade do condutor, em que ele vai diminuindo quanto maior a faixa etária. Para motoristas com até 50 anos, esse prazo é de 10 anos, já o grupo de 50 a 70 anos tem cinco anos, e para aqueles acima dos 70 anos a validade da habilitação cai para três anos.
A renovação é feita a partir de alguns exames médicos obrigatórios que verificam se uma pessoa está apta a conduzir determinado veículo. Um dos aspectos que devem ser analisados é a capacidade de percepção visual mínima, já que com o avanço da idade há uma tendência natural de maior dificuldade para ver perto ou ver longe, conforme explica o professor.
Peixoto avalia os períodos estabelecidos para renovação, no ponto de vista legal, de “razoáveis a bons”. Mas ele afirma que o principal questionamento que deve ser colocado é quanto a eficácia desses exames, em que precisa ser analisado até que ponto eles são realmente capazes de dar o aval para que uma pessoa possa dirigir.
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