Uma pesquisa da Unicamp, em Campinas, analisou amostras de 12 rios da Bacia PCJ (Piracicaba, Capivari e Jundiaí) e encontrou 38 contaminantes emergentes utilizados em muitos produtos como antiaderentes, surfactantes, pesticidas, entre outros. Esses contaminantes não são removidos ou eliminados pelos processos tradicionais de tratamento de água para consumo humano.
Com uma amostragem ampla, a pesquisa de doutorado do pesquisador Raphael D´Anna Acayaba avaliou as condições de rios como o Atibaia, em pontos de Campinas, Paulínia e Jaguariúna, além dos rios Capivari, Jaguari, Jundiaí, Piracicaba, Atibainha, Cachoeira, Camanducaia, Corumbataí e Pirapitingui.
Os níveis de alguns desses contaminantes encontrados nos rios da Bacia do PCJ já são superiores aos limites máximos que garantiriam a proteção do ecossistema aquático. A tese foi orientada pela professora Cassiana Montagner, do Instituto de Química da Unicamp.
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Em Campinas, foram avaliadas, ainda, amostras dos ribeirões Anhumas e Pinheiros. A situação mais preocupante foi identificada no rio Jundiaí. Dos oito PFAS (compostos per-e e polifluoroalquilados) estudados, seis foram quantificados em concentrações que variaram de dois nanogramas por litro a 14 ng L-1. O limite recomendado pela legislação de índices considerados toleráveis por agências ambientais australianas varia de 1,7 a 5 ng L-1.
No Rio Pirapitingui, um dos ácidos, o perfluoropentanóico, atingiu o nível de 50 ng L-1, mas foi o único encontrado naquele curso d’água. No estudo da Bacia PCJ, em seis das 14 amostras analisadas, foram identificados valores acima da concentração limite. A avaliação para a vida aquática apresentou quocientes de risco (QR) entre 8,7 e 20,9, sendo o rio Piracicaba o ponto mais preocupante.
“A avaliação de risco mostrou que, apesar de as concentrações quantificadas nos trabalhos publicados serem da faixa de poucos nanogramas por litro, já são superiores aos limites máximos que garantiriam a proteção do ecossistema”, afirma o pesquisador.
A SUBSTÂNCIA
Pouco conhecidos e estudados no Brasil, os PFAS estão presentes em mais de 4 mil compostos, sendo encontrados em materiais como a espuma de extintores de incêndio, colchões, estofados, carpetes, embalagens de fast-food e produtos revestidos com antiaderentes, tais como panelas e frigideiras. A contaminação por esse tipo de material pode, a longo prazo, provocar severos danos à saúde humana, inclusive câncer, alerta Acayaba.
“No Brasil, não temos muitos estudos sobre isso, mas nos EUA, por exemplo, os dados apontam que cerca de 95% dos adolescentes e adultos apresentam algum nível de contaminação por PFAS”, diz o pesquisador, que chamou a atenção também para os riscos que esses produtos representam para o meio ambiente.
A BACIA PCJ
A bacia PCJ possui uma área de drenagem de pouco mais de 14 mil km², onde vivem aproximadamente 5,5 milhões de pessoas, em mais de 70 municípios. Nesta região, há atividades econômicas que vão desde agropecuária e sucroalcooleira até indústrias, como a petroquímica e têxtil, além de polos de alta tecnologia.
De acordo com os pesquisadores, o trabalho é uma espécie de alerta para a situação dos rios da região. Segundo eles, a bacia do PCJ encontra-se em situação vulnerável e não atende pré-requisitos importantes da ONU para garantia da qualidade das águas e de um ambiente seguro para a vida aquática.
OUTRAS SUBSTÂNCIAS
Os pesquisadores encontraram, ainda, altas concentrações de pesticidas, assim como de fármacos, nas águas dos rios da região. Entre os pesticidas, os mais frequentes foram Atrazina, Diuron, Ametrina e Imidacloprido. Todos apresentam coeficientes com grande risco para a vida aquática.
Dos 15 pesticidas que compuseram a avaliação de risco, sete obtiveram valores superiores a dez. Para a Atrazina e Diuron, o valor foi 63, enquanto para Ametrina e Imidacloprido os valores foram superiores a 100. Valores de QR acima de um indicam que a concentração determinada do contaminante apresenta risco para a biota aquática.
A Atrazina, utilizada sobretudo para o controle de pragas na agricultura, está presente em todas as amostras coletadas, chegando a registrar níveis 500 vezes superiores aos critérios estabelecidos pela literatura científica para a proteção da vida aquática. No Rio Atibaia, por exemplo, o quociente de risco chegou a 92. No Ribeirão Pinheiros, atingiu 50,3, e no Anhumas, 40,5.
O Diuron, que é usado no controle de ervas daninhas em plantações de algodão, café e cana, também aparece em níveis altos nos ribeirões Pinheiros e Anhumas. A Ametrina e o Imidacloprido são usados no controle de pragas nas folhas de cana de açúcar, mas o segundo é usado também nas culturas de batata, cebola, citros, feijão e tomate. A aplicação desse pesticida se dá muitas vezes nas folhas e no solo.
O QUE DIZ A CETESB
Em nota, a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) informou que monitora os compostos emergentes das classes dos interferentes endócrinos (hormônios femininos) e anti-inflamatórios (corticoides) desde 2013, em águas superficiais do Estado, empregando bioensaios, incluindo pontos na bacia PCJ.
“Os resultados obtidos para esses compostos ao longo desses anos foram negativos ou estiveram em concentrações relativas muito baixas. Esse monitoramento possui a importância de levantar um diagnóstico dessa classe de compostos na água bruta dos corpos hídricos paulistas, uma vez que até o presente momento não existe um critério de qualidade estabelecido para esses compostos que utilizam bioensaios”, informou a companhia.
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