A Operação Black Flag, deflagrada nesta semana pela Polícia Federal de Campinas, expôs uma vida de ostentação dos integrantes de uma quadrilha que atuava na região.
Fraudes em empréstimos de bancos públicos bancaram desfiles de carros importados, iates, vinhos caros, joias, e um padrão cinematográfico de luxo de empresários integrantes de uma organização criminosa. Um relatório divulgado pelo MP (Ministério Público) cita nomes dos investigados e as empresas envolvidas na ação. O documento tem mais de 1,1 mil páginas.
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A operação teve como alvo um grupo econômico da região de Campinas que teria utilizado empresas de fachada e pessoas físicas falsas para movimentar recursos financeiros. A organização foi identificada pela Receita Federal durante o trabalho de fiscalização. O grupo é acusado de fraudes no sistema financeiro nacional e de lavagem de dinheiro na ordem de R$ 2,5 bilhões.
COMO COMEÇOU
O esquema foi desmontado pela receita e Polícia Federal 11 anos depois dos primeiros golpes da organização criminosa.
Tudo começou em 2010, com um empréstimo no Desenvolve São Paulo, agência de fomento do estado. O valor, de R$ 69 milhões de reais, até hoje não foi quitado.
No ano seguinte, outro empréstimo de R$ 2,5 milhões na Caixa Econômica foi feito. Nas transações, a garantia eram duplicatas frias, em nome de empresas que não existiam. Capitalizado, o grupo passou a falsificar documentos de pessoas e empresas e fez das fraudes um grande negócio.
PADRÃO CINEMATOGRÁFICO
Imagens mostram como era a casa de alto padrão em Valinhos onde morava um dos integrantes da quadrilha. Nas buscas, a PF encontrou diamantes e outras joias. Nos cofres os agentes descobriu ainda R$ 1,2 milhão em espécie. Durante as buscas, pelo menos dez carros de marcas de luxo foram apreendidos e encaminhados à sede da PF, em Campinas.
Na coleção de vinhos, garrafas que começam custando R$ 8 mil. Em Paraty, no litoral do Rio de Janeiro, um barco avaliado em quase R$ 5 milhões foi apreendido. Todas as aquisições foram compradas com dinheiro do crime. Os bens foram bloqueados e ficam agora à disposição da Justiça.
QUEM SÃO E COMO FAZIAM?
A representação do Ministério Público mostra quem são os principais integrantes da quadrilha, chefiada por Rodolfo Portilho Toni, empresário e piloto de Formula Porsche. A equipe dele tinha como patrocinador a empresa New Energies, que atua no ramo de energia e é uma das investigadas no esquema.
Em uma foto do relatório, Rodolfo aparece com o piloto e sócio João Paulo Escudeiro Mauro, também preso na operação. A empresa New Energies tem sede em São Paulo mas também uma sala no Spot Galeria, condomínio de escritórios de Campinas onde a PF cumpriu mandados de busca.
Mayara Bianchi, que era casada com Rodolfo também correu na formula Porsche e foi a primeira mulher nessa modalidade. Segundo o relatório do MP ela recebeu mais de R$ 3 milhões do esquema entre 2010 e 2012.
O casal Rodolfo e Mayara articulou um aumento fictício do capital da empresa “Lionfer” , do ramo metalúrgico que fica em Sumaré. De modestos R$ 16 mil, o patrimônio foi para R$ 2 milhões, e assim a empresa mostrou que teria fôlego financeiro para quitar os empréstimos em bancos públicos, o que não aconteceu.
TESTAS DE FERROS
Outra estratégia do grupo foi incluir ex-funcionários como “testas de ferro” das empresas abertas e até a família de Rodolfo na participação acionária dos negócios. O pai, Oswaldo Toni e a mãe Maria Luiza Portillo Toni foram presos, acusados de participação no esquema.
Pelo menos 68 pessoas foram identificadas no esquema de fraudes. Em meio a confusão de empresas fantasmas e documentos falsificados, pessoas humildes movimentavam grandes quantias em dinheiro.
O saque no caixa era feito geralmente por funcionários e ex-funcionários das empresas. Um motorista, por exemplo, movimentou mais de R$ 60 milhões de reais segundo a Receita Federal.
Para montar o esquema complexo, foi preciso contar com um expert em contabilidade. O relatório do MP aponta a participação de Aedi Cordeiro dos Santos como gestor dos CPFSs falsos.
Ele é o sócio administrador da JJA Assessoria Fisco Contabil, empresa tradicional que fica no bairro Nova Campinas. Segundo a representação, ele criou pessoas físicas e jurídicas falsas e é apontado como parceiro de Rodolfo Toni nas fraudes. Também foi presa a esposa dele, Cleonice Rodrigues Gomes, apontada como coautora na abertura das empresas.
EMPRESAS
De acordo com o relatório da investigação, para movimentar o dinheiro e despistar a Receita foram criadas empresas fantasmas. Entre elas estão:
– OL Industria Metalúrgica, que recebeu R$ 617 mil segundo a investigação;
– Capital Brasil Investimentos e Participação, beneficiada com R$ 677 mil;
– Flixeten Sociedade Anônima, que ganhou R$ 475 mil;
– Lim Tecnologia de Cortes Soldas e Usinagens;
– AT & T do Brasil Investimentos e Participações.
O endereço dessa última empresa fica na rua Jose Bonifácio numero 2510, no Jardim das Paineiras, onde funciona o SPA Kalmma, em Campinas. Outra unidade do SPA fica no Cambuí. Nos dois locais a PF cumpriu mandados de busca.
A investigação mostra ainda que os recursos obtidos por meio de fraudes e sonegação de tributos foram usados na criação de uma off shore, empresa do ramo de energia com sede no Panamá. Ela se chama Sandylon Investments, que ajudava a reintroduzir o dinheiro enviado para fora do país.
OUTRO LADO
A defesa da família Portilho Toni foi procurada, mas a reportagem não conseguiu contato. O advogado da JJA Assessoria Fisco Contábil informou que a empresa e o proprietário Aedi Cordeiro não têm relação com os crimes, e alegou que os clientes usaram a empresa para dar aparência legal aos crimes.