Um mapeamento feito pela Prefeitura de Campinas apontou os bairros onde há mais casos de violência contra a mulher registrados na cidade. Os números levantados tiveram como base os atendimentos na rede de proteção municipal, que abrange todos os casos de violência entre elas a física, sexual e psicológica.
A faixa etária mais afetada é de mulheres entre 18 e 40 anos, com maior concentração de ocorrências nos bairros da região dos distritos do Campo Grande e Aparecidinha, além do Centro (veja mais abaixo).
Segundo os números, no ano passado, 917 vítimas foram acolhidas em Campinas, representando um aumento de 54% nos casos em apenas dois anos.
Neste ano, até julho, foram cinco casos de feminicídio em Campinas. O caso mais recente de violência ocorreu na segunda-feira, (31) quando uma jovem grávida levou três tiros do próprio companheiro – um deles na testa. A vítima foi socorrida em estado grave e segue internada no Hospital PUC-Campinas. Ontem, a Prefeitura lançou a campanha ‘Agosto Lilás’, que marca a conscientização pelo fim da violência contra a mulher.
PERFIL E LOCAIS
Segundo o levantamento do Sisnov (Sistema de Notificação de Violência em Campinas), em 2022 dos 917 registros de violência contra a mulher 520 foram de agressão física, já 161 dos casos foram de violência sexual e 146 envolviam violência psicológica.
Do total de registros, 655 dos casos de agressão foram cometidos na própria residência da vítima. Os agressores, na maioria dos casos, são atuais companheiros, maridos ou ex-cônjuges.
Confira os bairros com maiores números de casos:
1) Vila União
2) Satélite Íris
3) Jardim Bassoli
4) Centro
5) Padre Anchieta
A secretária municipal de Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos, Vandecleya Moro, afirma que os dados têm objetivo de direcionar políticas públicas para as áreas com maiores índices de violência.
“Quando nós falamos de dados, o objetivo é que tenhamos a estruturação das políticas públicas que já existem, para que sejam direcionadas e assertivas, e também ajudem na formulação de novas medidas. É necessário entender quem é essa mulher que sofre violência, onde reside, qual o índice de violência de cada região é importante para atuar naquela área”, disse.
O AUMENTO
Segundo o levantamento, nos últimos anos três anos é notado um aumento dos registros de violência contra a mulher em Campinas, após uma diminuição em 2020, que pode ter sido causada pelas restrições impostas pela pandemia de covid-19.
Veja o número de casos de violência a mulher nos últimos anos:
- 2017: 605
- 2018: 832
- 2019: 719
- 2020: 594
- 2021: 681
- 2022: 917
De acordo com Vandecleya, o aumento dos casos também pode ter relação com o fato das mulheres agora se informarem mais e entenderem os ciclos de violência vivenciados.
“O aumento do número se dá também pela conscientização da mulher. Quando nós chegamos a essas mulheres mostrando que há saídas, mecanismos para esses acolhimentos, também aumentam as notificações. Muitas vezes vemos mulheres que vivem situações de violência e muitas vezes não reconhecem que estão nessa situação”, disse.
VIVENCIADO NA PELE
O exemplo dado pela secretária foi vivenciado na pele por uma moradora que precisou passar por diversas agressões para pedir ajuda após um relacionamento abusivo. A vítima, que prefere não se identificar, conta como conseguiu sair do ciclo de violência e procurar apoio.
“No começo foi tudo lindo, mas depois de uns três anos ele começou a ter violência comigo. Foi parte de ciúmes, rasgava minha roupa, batia na minha cara, me agredia, ameaçava. Eu pensava que era porque ele me amava né, mas aí já era um ciclo de violência doméstica e eu não sabia. Um dia eu fui de novo à Delegacia da Mulher, de lá mandaram eu fazer exame de corpo de delito, aí o médico arrancou um folheto e perguntou se eu conhecia o Ceamo, porque não aguentava mais ver eu indo lá toda vez machucada”, contou.
A vítima conta que no serviço municipal conseguiu apoio e segurança. “Lá eu encontrei minha verdadeira família, que me abraçou, acionou a medida protetiva, Guarda Municipal, tudo. Hoje eu me considero uma sobrevivente, uma guerreira”, disse.
ONDE DENUNCIAR
Em Campinas, os casos de violência contra a mulher podem ser denunciados pelo disque 180, que direciona os casos para os canais responsáveis.
Além do canal e das denúncias diretamente nas delegacias, as vítimas podem buscar apoio nos serviços assistenciais e no Ceamo (Centro de Referência e Apoio à Mulher), espaço de acolhimento e informações sobre os direitos da mulher no exercício da sua cidadania.
O serviço busca o enfrentamento dos problemas que afligem as mulheres para fortalecer a sua autoestima e, consequentemente, romper o ciclo da violência. Está localizado na Avenida Francisco Glicério, 1269, no Centro.