Motivo de críticas entre moradores, trabalhadores e frequentadores, a degradação da região central de Campinas fica ainda mais evidente nas madrugadas, quando o movimento na área cai drasticamente. A realidade mistura o sofrimento e a dependência química das pessoas em situação de rua com a tensão e a preocupação dos poucos comerciantes que atuam no horário.
Sem carros e com as calçadas vazias, quem trabalha em trailers e quiosques de lanches no horário noturno vê de perto e detalha os problemas e desafios gerados pela presença cada vez maior de grupos e indivíduos em vulnerabilidade. “Você vê alguns, mas aí, depois de dois ou três dias, você vê outro pessoal. E aí vai acumulando”, conta o comerciante Edno Nogueira de Souza.
O panorama fica claro ao longo do calçadão da Rua 13 de Maio, que costuma ficar repleto de consumidores e pedestres nos horários comerciais. Após a meia-noite, é comum encontrar muitas pessoas em colchões e barracas improvisadas. Entre elas, estão homens que não conseguem se livrar do vício em drogas. “Não consigo parar. Eu fumo ‘pedra’. Estou há quatro dias sem dormir”, diz um deles.
Cientes da existência de um Centro Pop (Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua) na Rua José Paulino, os indivíduos reclamam sobre a falta de vagas para passar as noites. O problema é que do lado de fora, muitos deles sofrem com o preconceito. “Estou há seis meses na rua e encontrei pessoas com o coração fechado. Preferem me julgar primeiro”, relata um jovem que precisou sair de casa após se desentender e brigar com a família.
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Ajuda e dependência
A realidade dura também expõe um dilema vivido por quem trabalha e frequenta a região durante as madrugadas, já que a falta de condições faz os a população de rua pedir ajuda para se alimentar. “Ficam pedindo e perturbando quem quer comer. Muitas vezes querem agredir. Aí ficam revirando lixo. Eu perco as contas de quantos me pedem”, alega o comerciante Marcos Vinícius.
No local, também é comum a venda dos lanches para comprar drogas. A situação, inclusive, foi flagrada pela reportagem da EPTV Campinas, que entrevistou um dependente químico que recebeu um lanche de uma consumidora e confirmou que venderia o alimento para poder comprar pedras de crack. “Não é pra mim. Eu vou dar um trago”, reconheceu o homem.
Recicláveis e higiene
Incômoda para os comerciantes que temem perder clientes, a sujeira causada pelo lixo revirado é intensificada pela comercialização de materiais recicláveis. Moradora do Centro, Camila Vitachi afirma que o número de estabelecimentos de compra e venda de produtos deste tipo aumentou. “Tem crescido o número de casas de recicláveis. É fácil pra vender e creio que não é regularizado”, critica.
Pouco antes e durante o amanhecer, porém, a dor de cabeça é outra, já que muitas fachadas, entradas e calçadas ficam sujas devido à falta de banheiros para a população de rua. Por isso é comum que os trabalhadores tenham que limpar os locais para deixar os estabelecimentos em condições para os clientes.
“Cada dia tá aumentando mais e a convivência é péssima. Eles são agressivos, sujam em volta da banca, urinam e fazem necessidade”, diz um comerciante da região central que não quis se identificar à EPTV Campinas.
O que diz a Prefeitura?
Em posicionamento enviado à EPTV, a Prefeitura de Campinas diz que as denúncias e reclamações sobre o lixo e as situações suspeitas podem ser feitas através do número de telefone 156. Além disso, diz que faz regularmente o recolhimento do lixo e as varrições de calçadas de ruas e avenidas e alega ainda que a área conta com lixeiras distribuídas por vários pontos do Centro.
Conforme o último levantamento da Prefeitura, feito em 2021, 932 pessoas vivem em situação de rua na cidade. Metade delas vive na região leste, que inclui a região central. Além disso, oito em cada 10 são homens, 37% das pessoas vieram de outros estados e 29% disseram que nasceram em Campinas. Por fim, mais da metade informou que vive nas ruas há mais de dois anos.
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