A vereadora Paolla Miguel (PT) foi alvo de injúria racial durante a sessão da Câmara de Campinas na noite desta segunda-feira (8). O grito de “preta lixo” teria partido de um grupo que acompanhava a reunião e foi ouvida por membros da Casa.
A petista foi ofendida por gritos racistas enquanto falava na tribuna sobre o preconceito contra o rap. O xingamento gerou reação imediata dos colegas, que denunciaram o crime ao presidente do Legislativo Municipal, Zé Carlos (PSB).
O próprio Zé Carlos pediu a palavra. “Alguém na plateia disse uma besteira e a gente está gravando a sessão. Quem falou, vai pagar. Três vereadores já me procuraram para falar do racismo”, afirmou ele, após pedir o tempo a Paolla.
O vereador Gustavo Petta (PCdoB) também se manifestou sobre o caso. “Estamos ouvindo aqui manifestações racistas. Racismo é crime. Quero a requisição dos vídeos e de captação do som. A pessoa vai pra cadeia”, disse.
Logo após as falas, Paolla voltou a discursar. “É mais do que necessário que a gente tenha uma cidade antirracista, que combata, inclusive, as expressões que estão sendo citadas no plenário, porque as pessoas acham que isso não é racismo. Campinas foi uma das últimas a abolir a escravatura”, encerrou.
REAÇÕES E SUSPENSÃO
Ao fim do tempo de fala de Paolla, outros vereadores reforçaram posição contrária à injúria sofrida por ela. Mariana Conti (PSOL) e Guida Calixto (PT) subiram à tribuna logo depois e foram vaiadas enquanto discursavam.
“Repudio veementemente. Querendo ou não, o racismo não dá pra vocês o direito de falar o que querem. Isso é crime. O PT repudia isso. Querendo ou não, vai ter mulher preta e periférica na Câmara sim”, afirmou Guida Calixto.
Na transmissão ao vivo da sessão pelo YouTube, não foi possível ouvir nitidamente o xingamento racista. De acordo com o vereador Gustavo Petta (PCdoB), porém, uma pessoa de um grupo de manifestantes teria gritado a ofensa “preta lixo”.
“Absurdo. Ouvimos pessoas no plenário gritando ‘preta lixo’. Vamos pegar as gravações, vamos atrás, porque esse tipo de manifestação é crime. Eu nunca vi isso em sessão”, ressaltou o parlamentar, que ouviu vaias durante a fala.
A sessão ordinária continuou tensa por alguns minutos e foi suspensa pelo presidente Zé Carlos depois que Petta e Nelson Hossri (PSD) se desentenderam e discutiram fora dos microfones. Eles chegaram a ser contidos pelos colegas.
GRUPO DE MANIFESTANTES
Um grupo com bandeiras do Brasil e de Israel e roupas verdes e amarelas marcou presença no plenário desde o início da sessão. Os manifestantes demonstraram apoio a uma proposta feita pelo vereador Nelson Hossri que pede a proibição da exigência do comprovante de vacinação na cidade.
O PL (Projeto de Lei) não seria votado nesta segunda, mas a mobilização aconteceu por conta do requerimento de urgência de Hossri para que a discussão acontecesse hoje. O pedido não recebeu apoio suficiente dos vereadores. Das 11 assinaturas necessárias, apenas sete foram registradas.
BOLETIM E APURAÇÃO
A vereadora Paolla Miguel disse não ter ouvido a ofensa de forma nítida, mas afirmou ao fim da sessão que registraria um BO (Boletim de Ocorrência) por injúria racial a partir das imagens e do áudio gravados durante a reunião. Ela deve procurar uma delegacia junto com outros vereadores.
“O pessoal da TV Câmara me enviou o vídeo com o momento para que eu conseguisse registrar um boletim de ocorrência. Os ataques foram se ampliando e é muito triste isso no mês da Consciência Negra e enquanto eu falava do projeto do Conselho da Comunidade Negra. É um sentimento de impotência. A gente tá longe de vencer o racismo da cidade. Vou registrar um boletim de ocorrência, inclusive com testemunhas”, afirmou.
Já a assessoria da Câmara de Campinas alegou que o presidente Zé Carlos “determinou apuração pra tentar identificar e punir” o responsável pela injúria racial. O Legislativo, inclusive, já separou o trecho de vídeo e áudio no qual a ofensa é cometida.