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CotidianoVítima de assédio diz que líder espiritual de umbanda pedia segredo: 'vai destruir a fé'

Vítima de assédio diz que líder espiritual de umbanda pedia segredo: ‘vai destruir a fé’

Homem trabalhava como terapeuta em terreiro de Campinas, mas foi afastado; veja relato de vítima de Campinas

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Vítima relata assédio em terreiro de Campinas (Foto: Reprodução/EPTV)

Uma vítima do líder espiritual de umbanda acusado de assédio sexual em Campinas afirmou que ele pedia segredo do ato criminoso porque isso podia “destruir a fé” das pessoas. O caso foi revelado nesta quinta-feira (14) e o homem atuava em um terreiro de umbanda na região do Taquaral.

No relato, a vítima, que preferiu não se identificar, afirmou que o Pai de Santo iniciou as ações durante um atendimento individual.

“Em 2014, eu estava ainda de licença-maternidade e passei na sala dele de atendimento. Esse tipo de atendimento é comum, individual, a gente sempre pede ajuda. E na hora de sair da sala, eu levantei, ele levantou, ficou bem próximo a mim, e eu com a minha filha no colo. Eu assustei quando ele colocou a mão dele dentro da minha roupa. E eu assustei, dei um tranco para trás”, relata. 
 
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Segundo a vítima, o líder espiritual teria dito que o procedimento era normal e que era utilizado para passar a energia. “E me falou que eu guardasse segredo, porque as pessoas não iriam entender”, disse. A vítima relata que o homem associava isso a destruição da fé no terreiro e na religião – leia mais abaixo.

PRESSÃO PSICOLÓGICA

A mulher ainda relata a pressão psicológica que sofreu e que a impediu de relatar o caso.

“Ele colocou um peso nas minhas costas que se eu falasse sobre isso e as pessoas não entendessem, que o terreiro iria cair por minha causa. Que são milhares de pessoas, famílias que são assistidas pela casa, e eu iria destruir a fé. Eu destruir a fé? Então eu não contei, porque tudo o que o pai de santo fala para a gente é lei. A gente deposita toda nossa fé ali. Não contei para meu marido, nem para ninguém. Isso causa muita dor em mim”, diz.

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A vítima comenta que os abusos continuaram até 2020, antes da pandemia da covid-19. Segundo ela, depois do episódio na casa, na região do Taquaral, outras situações ocorreram no Vale das Garças, em outra unidade da associação, conhecida como “Aldeia”.

“Estávamos passando por dificuldades financeiras, e como tudo que é relacionado com matéria, quem cuida é Exu, em conversa com meu marido ele disse que para ajudar a gente teria que fazer alguns trabalhos, e fomos algumas vezes. A chácara ao lado é dele (…). Ele levava meu marido em um quartinho que tinha fundo, deitava meu marido na esteira e fazia o ritual, que era normal para a gente. Vela, espada, carranca de Exu. Dizia para ele fazer os pedidos deles, mas que ele ficasse lá até ele voltar”, relata.

Durante o ritual, o líder espiritual ficava sozinho com a vítima, que teria de fazer entregas para a Pomba-gira, uma das entidades da religião. Segundo a vítima, o pai de santo explicava que o marido não seguia as orientações direito e que ela tinha de ajudá-lo e, para isso, mandava ela ficar nua.

“Ele introduzia o órgão dele em mim, falava que era para ajudar meu marido, que eu precisava da energia dele, porque Exu trabalha com energia sexual, que é matéria, sexo, e eu precisava disso. Falava para eu ficar firme e ajudar meu marido. Depois eu saía chorando, ficava mal, mas ele sempre tinha a mesma história, de que não podia falar, que as pessoas não iriam entender, e que seu eu contasse para meu marido, iria quebrar o trabalho e iria ficar pior do que estava”, relata.

DIFÍCIL REUNIR FORÇAS

O marido de uma das mulheres que denunciou o caso de abuso sexual disse que foi difícil reunir forças para expor o caso.

“Não está sendo fácil. Eu abri meu coração para todo mundo, entreguei meu jaleco. A gente estava lá por fé, por amor. Muitos ali estavam ali pelo bem, fazendo o bem por muitos. Essa pessoa conseguiu estragar uma casa, muitas famílias. Ele não vai destruir a minha família. Mas não vou ficar tranquilo enquanto não ver esse cara preso”, diz.

Segundo o homem, ele só descobriu que a mulher havia sido vítima após os casos começarem a ser expostos na casa, e ele entendeu que a esposa poderia ter sido um alvo do Pai de Santo.

“Um dia antes de tudo vir à tona, acreditava sim, nele. Tudo aconteceu com a procura de um amigo da casa, que perguntou se não estava estranhando a saída de algumas pessoas. Aí ele me contou o que estava ocorrendo, deu nomes. Na hora eu já me emocionei. Terminei a conversa com ele, deu um estalo. Liguei para minha esposa, nem entrei na empresa e fui para casa”, conta.

INQUÉRITO

A 1ª DDM (Delegacia de Defesa da Mulher) de Campinas instaurou um inquérito para investigar denúncias de assédio sexual contra o diretor espiritual do terreiro de umbanda. Ele está afastado das funções (veja mais abaixo).

Os relatos que levaram a Polícia Civil a abrir uma apuração partiram de mulheres que integram a equipe de atendimento do local. Ao tomar conhecimento das denúncias, a instituição decidiu afastar o médium das atividades no dia 29 de junho.

O caso também chegou à Armac (Associação dos Religiosos de Matriz Africana de Campinas), que se manifestou por nota nesta quinta-feira (14). Assinado pelo conselho de religiosos, o comunicado da entidade defende que o terreiro enfrente “a apuração dos fatos com transparência de ações”.

“Sem se descuidar das garantias do devido processo legal e de legalidade preservando as garantias constitucionais e que, para tanto, deve possibilitar imediato acolhimento, preservação e apoio para as vítimas”, alega a Armac.

A associação que representa as religiões de matriz africana diz ainda repudiar “veementemente a cultura do machismo presente na sociedade brasileira, bem como qualquer atitude da prática de crime de assédio sexual e assédio moral, racismo, homofobia, intolerância, ou racismo religioso”.

TERREIRO SE MANIFESTA

O terreiro existe há 71 anos e a administração disse que o homem seguirá “afastado até a devida apuração dos fatos pelas autoridades”. O suspeito não foi localizado pela EPTV Campinas para se posicionar sobre o caso.

OUTRAS DENÚNCIAS

A Armac informa ainda que recebeu nesta semana outras denúncias de assédio sexual e que “muitas vezes as mulheres não denunciam por medo e pela magnitude sexual imposta” por líderes, ou dirigentes espirituais. 
 
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