SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Petistas e entusiastas da terceira via para a eleição presidencial de 2022 dividiram a surpresa com o bom resultado para o ex-presidente Lula (PT) na pesquisa Datafolha divulgada nesta quarta (12) e comungam da avaliação de que será difícil para o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) se recuperar do tombo na aprovação.
Outro cenário claro entre políticos ouvidos pela reportagem é a polarização entre Lula e Bolsonaro, que estrangula as opções do grupo que tem buscado angariar apoios mais ao centro -e que vai de Ciro Gomes (PDT) a João Amoêdo (Novo). Membros de partidos ligados à construção de uma alternativa, no entanto, ainda se dizem otimistas em relação ao crescimento de seus candidatos.
Segundo a pesquisa, Lula alcança 41% das intenções de voto no primeiro turno, contra 23% de Bolsonaro. O ex-presidente venceria o segundo turno das eleições com 55% dos votos, contra 32% do presidente.
Além disso, o governo Bolsonaro tem a aprovação de 24% dos brasileiros, a pior marca de seu mandato até aqui. O percentual dos que consideram a gestão ótima ou boa era de 30% em março, quando foi feito o levantamento anterior.
Os que rejeitam o governo, considerando-o ruim ou péssimo, eram 44% e são 45% na nova pesquisa, realizada nesta terça (11) e quarta (12), com 2.071 entrevistas presenciais em 146 municípios de todo o Brasil. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
CLIMA DE ALERTA
Como mostrou o jornal Folha de S.Paulo, o clima no Planalto e no centrão é de alerta em relação aos números ruins para Bolsonaro. No PT, por outro lado, há comemoração, mas também cautela.
Petistas avaliam que, a mais de um ano da eleição, ainda é possível que o favoritismo de Lula diminua, caso a vacinação e alguma retomada da economia no ano que vem beneficiem Bolsonaro.
Da mesma forma, Lula pode perder pontos conforme for alvo de ataques dos demais candidatos -embora neste ponto pese o fato, apontado por seus aliados, de que o ex-presidente tem aprovação e rejeição mais sólidas, visto que já foi testado no governo.
A ordem no partido é seguir a mobilização e a aproximação com nomes de esquerda e de centro, ainda que a aposta seja a de que o centrão continuará apoiando Bolsonaro até o último minuto possível e fará alianças regionais conforme seus interesses em 2022.
Membros do PT também têm evitado entrar de cabeça na campanha antecipada, ressaltando que a agenda do partido neste momento é lidar com a pandemia, embora a viagem de Lula a Brasília, quando se reuniu com nomes do centro e até aliados de Bolsonaro, tenha extrapolado a questão do auxílio emergencial e ganhado contorno claramente eleitoral.
“Nossa centralidade nesse momento não é eleição, mas defender vacina para todos, emprego para todos, auxílio emergencial e que a CPI responsabilize Bolsonaro. Estamos discutindo um programa de recuperação e transformação. A pesquisa é boa, mas há longo caminho pela frente, temos que ter pé no chão”, afirma Jilmar Tatto, secretário de comunicação do PT.
“A pesquisa mostra que Bolsonaro se mostrou insensível e não cuidou da vida das pessoas. Por outro lado, a pesquisa mostra que Lula dá conta, ele deu conta no passado, é a esperança do povo”, diz.
O resultado também foi visto de forma positiva por líderes do PSOL, que ressaltaram a pior aprovação de Bolsonaro. O partido, no entanto, está dividido entre aqueles que pregam uma adesão à candidatura de Lula, corrente que engloba Guilherme Boulos, e aqueles que defendem a candidatura do deputado federal Glauber Braga (RJ) à Presidência da República.
“É preciso redobrar a luta pelo ‘fora, Bolsonaro’ e avançar com o programa que defendemos pra tirar o país dessa realidade de morte e miséria”, afirmou nas redes sociais a deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP), defensora da candidatura própria.
“A gente ficou muito feliz com o resultado, foi muito expressivo. É um resgate da esperança do povo e da confiança no Lula. Uma comparação que o eleitor faz do governo Lula e do que está acontecendo agora, mostra a decepção com Bolsonaro”, afirma a presidente do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR).
Gleisi ressaltou que é cedo para avaliar se a tendência de Lula é de subida ou queda daqui em diante. “Não tem jogo jogado, falta muito tempo. A gente não tem nem a definição de que Lula vai ser o candidato. Defendemos isso, mas depende dele.”
A petista apontou ainda que a terceira via não consegue despontar e que falta a esse bloco um projeto claro de país. Para ela, a decepção com Bolsonaro se estende àqueles que um dia o apoiaram como o ex-juiz Sergio Moro (sem partido), o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM) e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).
SEGUNDO GRUPO
A pesquisa mostra, embolados no segundo grupo, Moro com 7%, Ciro com 6%, o apresentador Luciano Huck (sem partido) com 4%, Doria com 3%, e, empatados com 2%, Mandetta e o Amoêdo.
Esse bloco de presidenciáveis, que se aproximou para lançar um manifesto pela democracia em março, prega união em torno da construção de uma terceira via e mantém conversas entre si nesse sentido, embora, na prática, líderes partidários admitam a dificuldade de convergência.
As análises desse campo partem do pressuposto, porém, de que Moro e Huck não chegarão a ser candidatos de fato devido a seus compromissos profissionais e há o risco de que seus eleitores migrem para Bolsonaro e Lula.
Para o presidente do PDT, Carlos Lupi, o Datafolha demonstrou que a estratégia de Ciro de mirar uma vaga no segundo turno contra o PT, ou seja, tomar o lugar de Bolsonaro na polarização e atrair os votos anti-PT, é acertada.
“Começa a se construir um segundo turno Lula versus Ciro. É algo que venho falando desde dezembro e que começa a ganhar corpo. Bolsonaro tende a derreter cada vez mais e a representar o espectro mais radicalizado da sociedade, do ódio, da discriminação da direita mais raivosa”, afirmou à coluna Painel, da Folha de S.Paulo.
Membros do PSDB apontam que a via para o crescimento do centro nas pesquisas está na metade da população que ainda não escolheu nem Lula nem Bolsonaro. O Datafolha mostra que, na pesquisa espontânea, 49% dos entrevistados não sabe em quem votar.
A avaliação da pesquisa, porém, diverge entre apoiadores e detratores de Doria no partido. O PSDB tem prévias marcadas para definir seu presidenciável entre Doria, o governador gaúcho, Eduardo Leite, o senador Tasso Jereissati (CE) e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio.
Para fugir da polarização, o partido tem repetido o discurso de que Lula e Bolsonaro se retroalimentam, e que o presidente é responsável por viabilizar a volta do PT ao poder.
DORIA
Doria é o terceiro com maior rejeição, 30%, atrás de Bolsonaro (54%) e Lula (36%). A marca de 3% na intenção de votos alimentou os questionamentos internos sobre a viabilidade eleitoral de Doria, sobretudo considerando que o governador tem o ativo de ter viabilizado a vacinação no país.
Já aliados do governador dizem acreditar que, com o tempo e a campanha, é possível reverter os danos à sua imagem, que atribuem aos anúncios negativos em relação a pandemia, como as restrições de comércios e restaurantes. A diferença, pregam tucanos do Palácio dos Bandeirantes, é que a rejeição de Doria não é consolidada como a de Lula e Bolsonaro, e tende a cair após a exposição de pontos positivos da gestão.
À Folha de S.Paulo Gilberto Kassab afirmou que a pesquisa indica que nomes da terceira via que apareceram até agora não pegaram junto ao eleitor. Mas ele insiste no caminho de centro e diz ser preciso encontrar uma nova opção. O presidente do PSD vem atuando a favor do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).
Outro entusiasta da terceira via, o deputado federal Júnior Bozzella (SP), vice-presidente do PSL, também vê espaço para que o centro cresça. Para ele, a polarização hoje é de “qualquer um ou todos contra o ditador [Bolsonaro]”.
“Bolsonaro perde para Lula para o centro, ele é rejeitado, odiado, isso está liquidado. Só existe um jeito de Lula não ser presidente, que o segundo turno seja ele contra o centro. E, para o centro chegar ao segundo turno, é o que todo mundo já sabe: precisa se unir e ter um candidato só”, completa.