A CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que investiga o presidente afastado da Câmara de Campinas, Zé Carlos (PSB), ouviu nesta quarta-feira (26) o empresário Celso Palma. Palma é responsável pelo contrato da TV Câmara e confirmou um pedido de propina para renovar o contrato. Por conta disso, Zé Carlos é alvo de uma investigação do Ministério Público por corrupção passiva.
De acordo com o empresário, o primeiro pedido de propina aconteceu quando Zé Carlos ainda não era presidente da Casa. A CPI disse hoje que vai apurar também este caso. O depoimento de Celso Palma começou às 10h de hoje e ele respondeu perguntas de oito vereadores, integrantes da comissão e também de parlamentares inscritos.
Ele confirmou que recebeu pedido de propina para que o contrato com a TV Câmara fosse mantido recentemente.
“Basicamente a última conversa foi essa. Que ele precisava de um valor pra saber se ia renovar o contrato ou não. Nessa conversa ele falou: ‘Celso, independente se você me der o valor ou não, eu vou renovar o seu contrato’. Tanto é que nesse áudio eu falo: ‘pô, vereador, o senhor falou que era independente. Eu não vou concordar”. E ele falou: ‘não… precisa ajudar, precisa colaborar’. Alguma coisa assim que ele fala. Que é exatamente pedindo o valor que ele tinha pedido na outra reunião pra saber se minha resposta era sim ou não. E obviamente, foi não”, disse.
Essas conversas, de acordo com Palma, foram com Zé Carlos e com o advogado dele, Rafael Creato – então subsecretário de relações institucionais da Câmara. Segundo Celso Palma, as negociações foram dentro da Câmara e no escritório de Creato.
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SEGUNDA REUNIÃO
Em um dos áudios, Rafael Creato chega a dizer que precisa de uma “contraprestação”. “Então, ele (presidente Zé Carlos), queria saber qual seria a contraprestação para manter (o contrato), o que a empresa pode fazer pra ajudar…”, diz o advogado.
Para o empresário, ficou claro que o termo contraprestação era “o que ele poderia dar de valor para o presidente. “Isso foi na segunda reunião que eu tive com Rafael Creato, dentro do gabinete dele. E quando ele falou isso foi um espanto. Basicamente ele queria valores, dinheiro”, afirmou.
OUTROS DEPOIMENTOS
Previsto para esta quarta, o depoimento do vereador Marcelo Silva (PSD), que recebeu as denúncias contra o presidente afastado, foi remarcado para a próxima terça-feira, 1º de novembro, às 14h.
Além disso, outras pessoas ainda serão convocadas pela CPI, como Rafael Creato, subsecretário de relações institucionais da Câmara – também alvo da investigação – e o vereador Zé Carlos. O presidente afastado foi alvo de operação do Ministério Público em agosto. A defesa de Zé Carlos mantém a posição de que só vai se manifestar no processo. Já o representante de Creato disse que o depoimento do cliente dele no MP ocorreu nesta quarta.
DEPOIMENTO DE EMPRESÁRIO
O depoimento do empresário Celso Palma foi o primeiro da CPI. Ele confirmou o pedido de propina e disse que achou a situação “constrangedora”. “Tá se sujando por R$ 1 mil por mês”, afirmou ele.
“O que ele me falou foi que o Rafael (subsecretário da Câmara) já tinha passado a minha proposta pra ele e que a proposta… ele aceitava a minha proposta mesmo, que não tinha problema. A gente chegou ao valor de R$ 1 mil no final das contas. R$ 1 mil por mês já estava resolvido. Eu achei absurdo, eu falei, cara, pensei comigo, né? Tá se sujando em troco de R$ 1 mil por mês numa situação dessas, constrangedora”, falou.
RELATOR E INTEGRANTES
A CPI tem como relator o parlamentar Major Jaime (PP) e o prazo de 90 dias corridos para conclusão dos trabalhos teve início em 10 de outubro. Os outros integrantes, definidos por sorteio são:
- Paulo Gaspar (Novo) – presidente
- Paolla Miguel (PT)
- Carmo Luiz (PSC)
- Paulo Bufalo (PSOL)
- Luiz Cirilo (PSDB)
- Higor Diego (Republicanos)
ÁUDIOS
Gravações que foram usadas para embasar o MP (Ministério Público) na denúncia de corrupção contra o presidente da Câmara de Campinas, Zé Carlos, mostram o parlamentar negociando com prestadores de serviço e pedindo “ajuda” para definir a continuidade de contratos.
Os promotores apuram um suposto esquema de cobrança de propina na Casa de Leis. Segundo as investigações, Zé Carlos exigia vantagens pessoais para manter ou renovar contratos da Câmara Municipal.
Os novos áudios, obtidos pela EPTV Campinas, mostram conversas gravadas por um empresário que fez a denúncia. Na conversa, de janeiro do ano passado, Zé Carlos sinaliza que pode desistir de fazer uma nova licitação e renovar o contrato com o empresário se ele não “o ajudar”.
“Eu tenho um tempo para fazer uma licitação, tenho quatro meses para fazer uma licitação, eu não quero fazer se você não me ajudar”, diz Zé Carlos. “Claro, eu estou aqui pra isso”, responde então o prestador.
“Eu posso fazer essa nova licitação ano que vem se a gente não se acertar. Eu não quero prejudicar você. Eu quero saber o que nós podemos melhorar, aonde nós podemos chegar, entendeu? Pra gente dar uma… temos que dar uma enxugada”, completou o presidente da Câmara.
Em outra gravação, Zé Carlos chega a falar de “garantia de ajuda”. “(…) que o acordo feito é 800, entendeu? Ele garantiu, ele garantiu que vai me ajudar… você me ajuda (…)”. O áudio foi registrado em 2 de agosto de 2021.
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