Por Roberta Jansen
A Fiocruz apresentou nesta terça-feira (22) o primeiro lote de vacina contra a covid-19 inteiramente produzida no Brasil. Trata-se da vacina de Oxford/Astrazeneca que vinha sendo fabricada na fundação desde o ano passado com o IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo) importado. Com a transferência da tecnologia prevista em contrato, a partir de agora, o IFA também está sendo produzido regularmente no Brasil.
O primeiro lote da vacina 100% nacional já foi entregue ao Ministério da Saúde e é composto de 550 mil doses do imunizante. Ao todo, o ministério receberá da Fiocruz este ano 105 milhões de doses de Oxford/Astrazeneca, sendo 45 milhões deles inteiramente produzidos no País. A transferência de tecnologia de uma vacina de terceira geração é crucial também para o desenvolvimento de novos imunizantes para doenças para as quais ainda não há prevenção.
“A liberação das primeiras vacinas covid-19 100% nacionais, agora disponíveis para o Ministério da Saúde, é um marco da autossuficiência brasileira”, afirmou a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima. “Termos realizado uma transferência de tecnologia desse porte em tão pouco tempo para atender uma emergência sanitária só reafirma o papel estratégico de instituições públicas como a Fiocruz para o desenvolvimento do País.”
A Fiocruz já produziu um volume de IFA nacional suficiente para a fabricação de aproximadamente 25 milhões de doses da vacina. Deste total, 2,6 milhões de doses já foram envasadas, incluindo as 550 mil já entregues. As demais estão em diferentes etapas.
“Com a entrega das primeiras doses da vacina totalmente nacionalizada, estamos encerrando um ciclo em que internalizamos toda a tecnologia do imunizante e estabelecemos a produção em larga escala”, explicou o diretor de Bio-Manguinhos/Fiocruz, Maurício Zuma. “Nossa planta industrial está preparada, com capacidade extra, podendo operar e entregar conforme a demanda, considerando os tempos de produção e controle de qualidade.”
A produção 100% nacional garante disponibilidade do imunizante para o Programa Nacional de Imunização (PNI), quaisquer que sejam os esquemas vacinais necessários. A fabricação da Oxford/Astrazeneca no País não garante ainda a autonomia total em vacinas contra covid, mas representa um percentual significativo do total de doses necessárias.
O contrato entre Fiocruz e Oxford/Astrazeneca foi assinado em setembro de 2020. Em junho do ano seguinte foi firmada a transferência de tecnologia. Desde então, o IFA produzido em Bio-Manguinhos passou por diversos processos de validação e controle de qualidade, no Brasil e no exterior, e toda a documentação técnica foi elaborada e submetida no fim de novembro à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
“Para a Fiocruz, é muito importante não só ter podido entregar a vacina para a população brasileira, mas também incorporar essa nova tecnologia”, resumiu o vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Marco Aurélio Krieger. “Doenças negligenciadas (para as quais não há vacinas) e mesmo outras doenças infecciosas poderão se valer dessa nova tecnologia.”