Nesta semana, saíram as notas de vários vestibulares. E as notas que mais ganham destaque na grande imprensa, sem desmerecer todos os outros concursos, são as notas de Redação do Enem.
A razão desse destaque é simples. O ENEM é nacional, ou seja, congrega milhões, não milhares, de candidatos do Brasil todo. Neste ano de 2022, foram quase dois milhões e quatrocentos mil candidatos e candidatas que sentaram o popô na cadeira das escolas e abriram o tema de redação, o complexo “Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil”.
Esses dois milhões de candidatos escreveram sobre o tema acima. No entanto, apenas dez ou vinte candidatos, no máximo, tirarão a nota máxima, os desejados mil pontos. Isso demonstra um problema sério, o de que os alunos brasileiros deixam a desejar na sua maturidade textual, já que a grande maioria tirará em torno de 600 pontos, que não dá acesso a nenhuma carreira competitiva.
A façanha de serem tão poucos competitivos gera nos alunos e professores a neura do quem tirou mil, a nota máxima? Especulações daqui, dali, de lá. As escolas postam as notas mais competitivas, propagandas são veiculadas, todas as escolas e cursos de redação publicando os pupilos vencedores com nota máxima ou notas competitivas, os 900+.
Leitores, estou nesta lida de sala de aula há quarenta anos e, como vivemos na sociedade do espetáculo e da meritocracia, entendo perfeitamente que o sistema escolar passa por esta distorção, como diria Machado de Assis, lá no maravilhoso Quincas Borba, ou seja, a distorção do “aos vencedores, as batatas”.
E o recado que quero deixar aos que não conseguiram a façanha vitoriosa, tirando notas inferiores a 800 na Redação, é o de que é preciso acreditar no seu potencial, de que é preciso a dedicação à leitura de articulistas críticos, de anotar repertórios e dados durante o Ensino Médio.
Os que obtêm notas competitivas, sempre digo isso aos alunos, não fizeram a redação na hora, ali, no gogó dos 45 minutos do segundo tempo da folha em branco à frente, o relógio apitando o término da prova. Fizeram o treino constante, semana após semana, analisando redações que conseguiram a nota máxima, estudando os argumentos ali colocados e escrevendo redações e mais redações.
Portanto, o ano começou e é preciso foco e determinação no planejamento de como avançar para se ter autonomia textual. Bora?