CARTA À PATRÍCIA
Patrícia, permita-me a intimidade, senhora, embora não nos conheçamos. E a intimidade me permitirá também chamá-la de você, tudo bem? Se, nos seus 44 anos de vida, você sofreu de velhofobia, termo mais coloquial para o formalíssimo etarismo, imagine eu, Patrícia, um idoso de 74 de idade.
Você estava tão contente em cursar biomedicina, não? Era a sua primeira semana de aula e estava contente por, finalmente, realizar seu sonho de vida. Ah, Patrícia, imagino como você lutou para chegar lá, menina! Já tive muitos alunos e alunas que tiveram essa garra enorme por conseguir estudar, coisa tão inacessível a milhões. E é lindo ver a vontade de vencer barreiras.
Escrevo a você, embora saiba que você talvez nem leia esta carta, para pedir desculpas pelo preconceito que você sofreu por ter seus 44 de idade e ter sofrido o cancelamento de jovenzinhas, suas colegas. Elas se indignaram por você ousar estudar. Perguntaram, nas redes sociais, como é que se desmatriculava uma colega por ela ser velha. Disseram que você deveria estar é aposentada. E completo o que certamente disseram, que você não se enxerga não?
Patrícia, querida, eu também já sofri preconceito por ser idoso. Deixa eu te contar só um, entre tantos episódios que sofremos dos novinhos, estas pessoinhas fofas, fofas. Uma amiga muito próxima teve a liberdade de me dizer que o filho dela não queria ser meu aluno porque eu era velho demais.
Sabe, Patrícia, em vez de me indignar, de ficar nervioso, eu dei risada. Dei risada porque, da vida, o filhinho dela sabia tão pouco, coitado! Como suas colegas de classe também sabem da vida apenas uma vírgula e estão só na página dois da Existência.
Fica chateada com elas não, viu? Elas vão amadurecer. Aliás, já amadureceram, tal a repercussão que o vídeo delas gerou. Acho que bateu a casa dos 7 ou 8 milhões de visualizações. Tiveram até que abandonar a faculdade pelo estrago que suas declarações fizeram. Aprenderam a lição. Quer dizer, espero que sim, né?
Um abraço, Patrícia! Aceite as minhas desculpas pelo estrago que as coleguinhas fizeram a você. Vá em frente! E, quando você se formar e pegar o seu diploma, diga, como Fernando Pessoa, que valeu a pena. Sempre vale a pena, Patrícia, quando alcançamos nossos objetivos.
