Crianças não vacinadas contra a covid-19 correm mais risco de adoecer pela doença e de repassar o vírus a outras pessoas, situação que alimenta o surgimento de novas variantes, informou o Instituto Butantan.
Pesquisas já demonstraram que crianças infectadas podem desenvolver a Síndrome Inflamatória Multissistêmica, manifestação grave da covid-19 que pode levar à hospitalização e causar sequelas.
Diante destes riscos, especialistas reforçam a necessidade de incluir as crianças no calendário de vacinação contra covid-19 o quanto antes. As declarações foram dadas durante o CoronaVac Symposium, evento online promovido pelo Butantan que aconteceu em dezembro com especialistas de cinco países.
Crianças podem espalhar o vírus
Segundo a infectologista Natasha Ferreira, do Hospital Estadual de Serrana, a inclusão da população pediátrica no plano de imunização é uma maneira de protegê-la da infecção e frear o avanço do novo coronavírus.
“É um risco manter um número tão grande da nossa população não imunizada. As crianças e adolescentes, além de estarem expostos, passam a ser vetores. E quanto mais o vírus se espalha, mesmo em casos leves, maior a chance de surgirem mutações e outras variantes, que talvez sejam resistentes às vacinas.”
Segundo a infectologista, diante destes riscos, há de se priorizar a vacinação de crianças. “Precisamos começar a vacinar crianças o mais rápido possível para garantir a segurança de todos nós”, afirmou.
Risco de desenvolver síndrome grave
Pelo menos 1.400 crianças foram diagnosticadas com a Síndrome Inflamatória Multissistêmica associada ao SARS-CoV-2 desde o começo da pandemia no Brasil. A doença é rara, mas grave: nela, crianças com Covid-19 desenvolvem uma inflamação que afeta diferentes órgãos do corpo. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), crianças com essa condição precisam de cuidados especializados e podem precisar ser internadas em cuidados intensivos.
O risco da doença é outro motivo da necessidade de imunização do público pediátrico contra a Covid-19.
“Ainda não temos antecedentes suficientes para saber se as novas variantes como a ômicron podem causar enfermidades mais graves nas crianças, mas elas também se infectam, transmitem e podem desenvolver doenças muito severas, como a Síndrome Inflamatória Multissistêmica”, explica a professora da Pontifícia Universidade Católica do Chile, Susan Bueno.
O Chile autorizou a vacinação de crianças de seis a 11 anos em setembro e em novembro ampliou a faixa etária a partir dos três anos. Antes disso, já vacinava adolescentes de 12 anos ou mais e, como resultado, observou queda de casos da doença.
“Com a vacinação de 12 a 17 anos houve uma diminuição importante tanto de casos assintomáticos quanto severos da doença e, agora que teve início desde os três anos, confiamos também na redução”, enfatizou.
Risco de miocardite
Casos de miocardite (inflamação no músculo cardíaco) associados à vacinação contra a Covid-19 em crianças também vêm causando alerta.
Porém, ensaios clínicos realizados no Chile demonstraram que entre as crianças imunizadas com a CoronaVac não houve relatos de miocardite, pericardite ou trombose, como já relatados em outras vacinas.
Ao apresentar os dados preliminares dos ensaios clínicos com CoronaVac em crianças no Chile, Susan defendeu a tecnologia de vírus inativado.
“Já comprovamos que a vacinação com imunizantes de vírus inativado gera imunidade em crianças. Trata-se de uma plataforma vacinal que é usada nesta população há décadas com um bom padrão de segurança”, afirmou.