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CoronavírusApós consolidação de vacinas, corrida agora é pelo melhor remédio anticovid

Após consolidação de vacinas, corrida agora é pelo melhor remédio anticovid

Nas últimas semanas, anúncios de ao menos três farmacêuticas trouxeram otimismo; primeiros pedidos de autorização de uso são feitos

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Pesquisas ocorrem no mundo todo. (Foto: Fiocruz/Arquivo)

Primeiro, ganhou velocidade a corrida para criar uma vacina anticovid. Deu certo, com bons resultados e queda de mortes nos locais onde há imunização em massa. Agora, a guerra contra o coronavírus tem avançado por outra trincheira: os remédios. Não produtos sem eficácia comprovada contra a doença, como a cloroquina, mas os que têm aval dos especialistas. Desenvolvidos não só para tratamento, mas até como forma de prevenção, os medicamentos prometem abrir nova perspectiva para o controle da pandemia.

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A vacinação, dizem especialistas, continua como o carro-chefe da estratégia de combate. Mas, em um cenário com risco de novas ondas e surgimento de novas cepas, a variedade de remédios pode ajudar a fechar o cerco contra a covid-19, sobretudo para grupos mais vulneráveis, como idosos e quem tem comprometimento do sistema imune. Para que isso funcione, porém, é preciso superar questões como os altos custos e a dificuldade de testagem no País.

“Sempre existirão aqueles que vão desenvolver a doença, mesmo tendo porcentual grande da população vacinada. Para esses, ter perspectiva de terapia medicamentosa é importante”, diz a epidemiologista da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Ethel Maciel.

Nas últimas semanas, anúncios de ao menos três farmacêuticas trouxeram otimismo. O primeiro foi um remédio produzido pelas empresas Merck Sharp & Dohme (MSD) e Ridgeback Biotherapeutics, a pílula Molnupiravir. O laboratório divulgou, em outubro, potencial de reduzir em 50% o risco de hospitalização ou morte dos pacientes. Nesta sexta-feira, 26, a farmacêutica informou que novos testes apontaram eficácia de 30%.

O medicamento age induzindo mutações na enzima RNA-polimerase do Sars-CoV-2 conforme o material genético do vírus é replicado. “Com o aumento das mutações, o vírus não vai mais ser como era originalmente e isso vai acabar o enfraquecendo”, explica a professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Ana Paula Herrmann.

O Molnupiravir foi o primeiro tratamento oral anticovid aprovado no mundo, no Reino Unido, e caminha para ter aval nos Estados Unidos. Por ser um comprimido, a expectativa é de que no futuro possa ser vendido em farmácias. Ainda não há previsão para liberação no Brasil, mas houve uma pré-reunião de submissão de dados com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 19 de novembro, segundo o próprio órgão regulador.

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Também neste mês, a Pfizer divulgou resultados de estudos apontando que o antiviral Paxlovid teve eficácia de 89% na redução do risco de internação ou morte entre pessoas com casos graves de covid. Com os bons resultados, a farmacêutica solicitou à agência reguladora dos Estados Unidos (FDA) autorização para uso da droga, e o pedido está em análise.

Como os dois são remédios orais, a expectativa é de que, se tiverem aprovação da Anvisa, possam chegar ao mercado por custo menor do que os de remédios via injeção, como o antiviral Remdesivir e os anticorpos monoclonais.

Alto custo

Atualmente, o tratamento com o Remdesivir, por exemplo, um dos seis remédios aprovados pela Anvisa para tratar a covid-19, pode custar cerca de R$ 15 mil. O custo-efetividade foi um dos motivos para, após avaliação da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec), o SUS não ter incorporado o Remdesevir na rede pública. Dos seis remédios aprovados pela Anvisa, todos são recomendados para administração hospitalar.

“O primeiro desafio foi a descoberta científica desses medicamentos. Agora, a segunda barreira a ser enfrentada é como esses medicamentos podem chegar a um preço acessível a todos os países”, diz Ethel. A MSD indicou que pretende pedir registro no Brasil, mas não disse quando. A Pfizer não se manifestou.

Enquanto as pílulas são recomendadas para logo depois da infecção, os anticorpos monoclonais são usados para tentar impedir que o vírus entre no organismo e/ou se desenvolva a ponto de causar infecção.

Desse modo, podem ser administrados em pacientes com comorbidades antes mesmo da contaminação, a depender da orientação médica. “Os anticorpos monoclonais atuam como os próprios anticorpos do nosso organismo. Com a diferença que eles são selecionados por sua forte capacidade de combater o vírus e, por isso, são produzidos como medicamentos”, explica o professor do Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP) Adriano Andricopulo. Já há anticorpos monoclonais aprovados no Brasil.

Segundo ele, por serem derivados de pessoas contaminadas ou mesmo de camundongos expostos a antígenos do Sars-CoV-2, os anticorpos monoclonais são agentes biológicos que provêm imunidade passiva. No caso da vacinação, há a imunidade ativa, já que é o próprio corpo que produz a proteção. O problema é que em alguns casos a vacinação não é suficiente para desencadear a produção desses anticorpos, a exemplo de alguns idosos ou imunossuprimidos. Nestes casos, os anticorpos monoclonais têm papel importante.

Bons resultados

Concorrente direta da Pfizer na corrida das vacinas, a AstraZeneca informou semana passada que seu coquetel de remédios AZD7442 é capaz de reduzir em 83% o risco de desenvolvimento de covid-19 sintomática ao longo de um período de seis meses. Para diminuir hospitalizações e mortes, a eficácia seria de 88%. O resultado foi obtido após estudo em mais de 5 mil participantes, que receberam o coquetel de remédios antes mesmo de serem contaminados.

O AZD7442 é uma combinação de dois anticorpos monoclonais de longa ação. Foi enviado pedido de uso emergencial à agência reguladora americana em outubro. Se aprovado, a AstraZeneca negociou o fornecimento de 700 mil doses do coquetel aos Estados Unidos. A empresa não informou sobre planos de pedir registro no Brasil.

Como diferencial, a farmacêutica anglo-sueca reforça que o medicamento pode ser complementar – uma vez que tem como foco pessoas imunocomprometidas, sujeitas a não responder bem às vacinas, e poderia ser usado por pacientes de alto risco antes mesmo de uma eventual infecção.

O AZD7442 poderia fornecer avanço significativo sobretudo para o controle da doença em pessoas sujeitas a dar respostas inadequadas às vacinas e em pacientes que estão tratando doenças como o câncer. Esses grupos, reforça Andricopulo, correspondem a cerca de 2% da população mundial.

No Brasil

Há seis medicamentos com uso emergencial aprovados pela Anvisa para a covid-19 no País, além de uma sétima solicitação em análise. Mais da metade desses remédios são anticorpos monoclonais, administrados por injeção intramuscular. Diferentemente da vacinação, que confere imunidade ativa, eles provêm a chamada imunidade passiva – imitando as defesas naturais do organismo e atuando contra a proteína spike do Sars-CoV-2.

Desenvolvido pela farmacêutica GSK, o sotrovimabe demonstrou redução de 79% em hospitalizações ou do risco de morte por covid, informou a fabricante. Segundo a empresa, o anticorpo monoclonal seria eficaz inclusive contra variantes como a Gama e a Delta, consideradas mais transmissíveis.

Já o Regn-Cov2, fabricado pela Regeneron em parceria com a Roche, reduziu a chance de desenvolver covid sintomática em 81,3%. Os dados foram disponibilizados em estudo clínico publicado na revista científica New England Journal of Medicine.

Segundo a Roche, a Conitec está avaliando as diretrizes para tratamento ambulatorial de pacientes com covid-19, o que contempla, entre outros medicamentos, os anticorpos monoclonais. “A Roche reforça que tem priorizado, globalmente, o fornecimento centralizado aos Ministérios de Saúde”, disse a farmacêutica. Desse modo, o Regn-Cov2 ainda não está disponível no Brasil nos sistemas público ou privado.

Produzido pela Celltrion Healthcare, o regdanvimabe é um remédio que, segundo estudos clínicos de fase 3 conduzidos pela farmacêutica, reduz o risco de progressão da covid-19 em 70%. Desenvolvido especificamente para o tratamento da doença, o medicamento deve ser administrado em até sete dias após o início dos sintomas. Em outubro, a farmacêutica brasileira Biomm, que também busca aprovação da vacina contra covid-19 da CanSino com a Anvisa, anunciou acordo com a Celltrion para distribuir o regdanvimabe no País.

O coquetel da farmacêutica Eli Lilly é outro aprovado pela Anvisa. Após estudos de fase 3, observou-se que ele reduziu o risco de hospitalizações e morte em 87%, informou a fabricante.

Somam-se a esses quatro anticorpos monoclonais o Remdesivir, antiviral injetável do laboratório Gilead, que tem benefício marginal no controle do vírus, e o Olumiant, inibidor seletivo da Eli Lilly, também usado no tratamento da artrite reumatoide. Segundo a fabricante, o remédio “potencialmente reduz em 38% a mortalidade de pacientes hospitalizados com covid-19”.

Análise

No caso do tofacitinibe, medicamento da Pfizer, um estudo clínico conduzido pela farmacêutica em parceria com o Hospital Albert Einstein aponta que ele poderia mitigar a inflamação sistêmica e alveolar em pacientes com pneumonia resultante de covid. O pedido para uso emergencial deste que seria o sétimo remédio anticovid foi recebido pela Anvisa em julho e ainda está em análise.

Nenhum dos remédios aprovados para uso no Brasil trata-se de pílula antiviral de via oral, solução possivelmente mais acessível entre as disponíveis e ainda a mais fácil de ser manuseada.

No âmbito dos planos de saúde, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que regula o setor, informou que os medicamentos aprovados pela Anvisa para tratar a covid não foram incorporados ao rol de procedimentos Saúde para uso ambulatorial A cobertura, portanto, não é obrigatória.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Bruno Moraes
Bruno Moraeshttps://www.acidadeon.com/saocarlos/
Bruno Moraes é repórter do acidade on desde 2020, onde faz a cobertura política e econômica. É autor do livro “Jornalismo em Tempos de Ditadura”, pela Paco Editorial.
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