Ainda que as vacinas tenham reduzido de forma significativa os casos de COVID-19, medicamentos antivirais e outros capazes de bloquear respostas imunes exacerbadas no organismo ainda são fundamentais para salvar vidas. O reposicionamento de fármacos já usados contra outras doenças e o desenvolvimento de novas entidades químicas são os dois caminhos possíveis para chegar a esse objetivo.
O assunto foi tema do webinário “Fármacos Promissores contra a COVID-19”, realizado em 25 de abril no âmbito do Ciclo ILP-FAPESP de Pesquisa e Inovação. A iniciativa tem o objetivo de divulgar a legisladores, gestores públicos e à sociedade em geral os avanços das pesquisas científicas financiadas com recursos públicos.
“A vacinação é fundamental, precisa continuar para evitar a infecção. Mas precisamos de fármacos também, pois os imunizantes não são suficientes. As pessoas ainda ficam doentes de COVID-19. A farmacoterapia para vírus respiratórios tem sido em geral malsucedida. Para além das variantes conhecidas [do SARS-CoV-2], existe o fator da resistência aos antivirais. E existem muitos outros coronavírus que nunca desapareceram”, ressaltou Carlos Alberto Montanari, professor do Instituto de Química de São Carlos da Universidade de São Paulo (IQSC-USP) durante sua apresentação.
O pesquisador relatou os avanços de um projeto, financiado pela FAPESP, que busca inibidores para a 3CLpro, principal protease do SARS-CoV-2, essencial para o desenvolvimento do vírus.
“Utilizamos aprendizado de máquina e selecionamos 702 substâncias químicas que estão sendo testadas no nosso laboratório contra essa protease. Em paralelo, estabelecemos a hipótese de que elas poderiam ser testadas diretamente no próprio vírus e 72 delas foram ativas”, contou.
Uma infraestrutura instalada de pesquisa é fundamental para esses estudos, como ressaltou Rafael Guido, professor do Instituto de Física de São Carlos (IFSC-USP).
Em uma das etapas do projeto “Desenvolvimento de antivirais para o tratamento da COVID-19”, o grupo do qual Guido faz parte foi o primeiro a utilizar os recursos do Sirius, o novo acelerador de partículas do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM).
Graças à luz síncrotron do Sirius, foi possível determinar a estrutura de mais de 200 cristais de duas proteínas do SARS-CoV-2 e obter candidatos a medicamentos antivirais (leia mais em: https://agencia.fapesp.br/34396/).
Guido é integrante do Centro de Pesquisa e Inovação em Biodiversidade e Fármacos (CIBFar), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) apoiado pela FAPESP.
No Instituto de Ciências Biomédicas (ICB-USP), uma das linhas de pesquisa lideradas por Cristiane Guzzo também envolve a protease 3CLpro. Com auxílio de ferramentas de inteligência artificial, o grupo fez a triagem virtual de mais de 11 mil medicamentos. O objetivo foi encontrar inibidores da protease viral.
“O uso dessas técnicas trouxe alguns possíveis fármacos. Vamos testar a eficiência dos sete mais promissores em ensaios laboratoriais”, disse.