Nesta quinta-feira (18) faz um ano que São Carlos (SP) registrou seu primeiro caso de Covid-19. Desde então, o trabalho tem sido intenso para conter o avanço da pandemia, principalmente neste momento em que a cidade enfrenta um colapso em hospitais públicos e privados.
Além dos diversos ensinamentos, a pandemia também trouxe consigo os desafios de reunir profissionais de diversas áreas para encontrarem soluções que ajudassem a combater o coronavírus.
O Comitê Emergencial de Combate ao Coronavírus do município foi criado logo no início da pandemia e formado por membros das diversas secretarias da administração pública. Mais tarde, profissionais da saúde representantes de hospitais públicos e privados da cidade também se juntaram ao grupo.
Segundo publicação do Diário Oficial, entre os objetivos da frente estão a supervisão da situação e elaboração de ações que diminuem o impacto da pandemia na cidade, assim como realizar o monitoramento de casos e óbitos.
Para o coordenador do comitê, Mateus de Aquino, o trabalho do grupo tem sido de constante aprendizado. No entanto, mesmo com tantas medidas sendo definidas e as reuniões com a sociedade civil para atender todas as demandas da classe econômica, a cidade não resistiu à crise nacional.
“Todos nós aprendemos a entender as particularidades da pandemia e as coisas foram se adaptando e evoluindo e a tomada de decisão foi melhorada, mas infelizmente isso não nos permitiu ficar longe do pior momento, que são as filas em hospitais, saturação de leitos e o aumento exponencial na quantidade de casos e dos óbitos”, disse.
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O secretário de Comunicação comenta que o comitê tem observado outros centros de contingência estaduais e regionais, além de acompanhar estudos, para colocar novas ações em prática através dessas análises e adaptar o município para a gestão da pandemia.
“A gente monitora a medida tomada, a aceitação da população, e isso não só de comitês regionais, mas também observamos as consequências de cidades praticamente do mesmo tamanho de São Carlos e Araraquara para poder comparar e entender os efeitos colaterais de cada ação. Como São Carlos reagiu na primeira fase, como foi o respeito do são-carlense, como foi na capital. A gente tem que monitorar pra ver se somos exceção pro bem ou pro mal e poder corrigir sempre que necessário”, explicou.
Segundo o coordenador do comitê, mesmo com a crise vivenciada, a cidade ainda é motivo de orgulho por ter a menor letalidade entre cidades do mesmo porte no Estado e também outros indicadores abaixo do que é refletido em outros municípios.
“Num geral, São Carlos tem um comportamento macro como todo estado, mas talvez tenha sido um dos municípios que conseguiu conter muito mais a evolução da pandemia, foi uma das últimas DRSs a precisar passar mais de 30 dias em uma fase vermelha do Plano São Paulo, por exemplo”, comentou Mateus de Aquino.
Medida judicial
Desde o início da pandemia, São Carlos tem em vigor uma decisão judicial que determina que o município siga, sem alterações, as definições do Plano São Paulo de flexibilização econômica.
Essa medida, no entanto, dividiu opiniões no município. De acordo com Mateus de Aquino, entre os pontos negativos está a falta de possibilidade de negociação do governo municipal junto às atividades econômicas.
“A gente perdeu nosso poder de personalização. O prefeito perdeu a sua possibilidade de poder negociar protocolos seguros e sanitários bem definidos, e fomos medidos como todos os outros 645 municípios. Por esse lado, acho que foi negativo porque a gente tem condição de entender melhor a necessidade dessa situação, de como viver em pandemia e como regular a sua própria cidade”, disse.
Ele aponta que existe uma diferença muito grande no convívio cultural, social e de atividades econômicas em um município como São Carlos e como São Paulo. Porém, o plano traz algo positivo para a gestão da crise: a ciência.
“Ao mesmo tempo, o estado tem capacidade, tem institutos ao seu redor que podem ajudar ainda mais a criar um plano mais regular. Todo esse batalhão de conhecimento técnico e institutos fornecidos pelo Plano São Paulo, eu não tenho dúvidas de que ensinou os municípios o que era priorizar decisões a partir de dados científico comprovados”, ressaltou o secretário.
A decisão judicial não impede que o município restrinja ainda mais as atividades, caso julgue necessário, mas segundo Mateus de Aquino, esse não é o objetivo da administração, que segue tentando flexibilizar as atividades econômicas para diminuir o prejuízo futuro.
“A sociedade entendeu que a limitação é imposta pelo Estado, de forma clara e baseado em dados científicos, e a gente não gostaria de forma nenhuma precisar ser mais restrito. Até mesmo para não tomar uma decisão hoje e ter que voltar atrás um dia depois por ferir alguma tributação estadual”, disse.
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Reuniões e monitoramento
Neste um ano de pandemia, o Comitê se reuniu diversas vezes junto a sociedade civil na tentativa de criar um equilíbrio para proteger as estruturas hospitalares e não permitir uma instabilidade ainda maior da economia. No entanto, não houve como fugir do panorama pandêmico global.
“Eu entendo que São Carlos, como outras cidades que fazem parte de um contexto geral, não teria como sair de um comportamento macro, não teria como ter um comportamento muito diferente do geral. É uma cidade completamente inserida no sistema econômico comportamental de um estado extremamente produtivo”, explicou.
Mateus de Aquino finalizou a entrevista concedida ao portal ACidade ON explicando que o comitê tem abastecido o gabinete do prefeito a respeito dos monitoramentos e que tem solicitado para que seja levado em conta o prejuízo de decisões tomadas repentinamente.
“Não pode faltar coragem para tomar medidas, mas as medidas que forem tomadas como maiores restrições, se assim for necessário, que elas sejam muito bem ponderadas, responsavelmente tomadas, e principalmente com clareza comunicadas, para que a gente tenha um efeito colateral positivo e não nocivo”, finalizou.