Especialistas em saúde criticaram a flexibilização do uso de máscaras no Estado de São Paulo. Eles aconselharam a Prefeitura de São Carlos a não aderir ao movimento de derrubada da obrigatoriedade da proteção em locais abertos.
O epidemiologista e professor de medicina da UFSCar Bernardino Alves Souto afirmou que a decisão estadual é “temerária”, uma vez que a transmissão do vírus é bloqueada pela máscara e o distanciamento físico. O equipamento, na opinião dele, deve ser mantido mesmo com o avanço da vacinação no país.
“Se flexibilizarmos o uso de máscaras e o distanciamento físico poderemos ter novas ondas epidêmicas. Essa tem sido a experiência internacional. Todos os países europeus, mesmo com alta cobertura vacinal e que flexibilizaram estão vivendo momentos muito difíceis com a pandemia”, afirma.
Para o professor da UFSCar e diretor da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Rodrigo Stabeli, em situações de pandemias de doença respiratória o ideal é a máscara ser a primeira medida adotada e a última a ser flexibilizada. A ação do governo paulista contraria a lógica pensada por estudiosos do assunto.
“É óbvio que se tivermos em local isolado, fazendo o nosso exercício não usando a máscara não temos maneira de contaminar. O problema é quando se estabelece uma política pública incentivando ou encorajando o não uso de máscara em locais abertos, onde não há a capacidade de entender se aquela quantidade de pessoas que está próxima a mim é caracterizada uma aglomeração ou não”, relata.
São Carlos deve definir nos próximos dias se fará a flexibilização do uso de máscaras ou não. O governo estadual definiu o dia 11 de dezembro como o marco do fim da obrigatoriedade em locais abertos.
À administração local, os especialistas aconselham que o melhor é manter a obrigatoriedade do jeito que está.
“A melhor sugestão que se pode dar para São Carlos e Araraquara é não flexibilizar a máscara. O ideal é que os municípios mantenham a obrigatoriedade, independente se for ao ar livre ou lugar fechado”, comenta Souto.
Casos em alta no Velho Continente
Os países da Europa e da Ásia Central estão lutando diante das infecções e mortes por Covid-19. Quase metade das mortes por Covid no mundo ocorreram no continente europeu, o que fez com que autoridades sanitárias de diversos países da região apertassem os cintos para barrar a disseminação do Sars-CoV-2.
A situação no leste europeu é pior. A European Comission mostra que países mais atrasados na marcha da vacinação, como os casos de Bulgária, Romênia e Letônia, têm mais vítimas fatais da doença na proporção de número de habitantes.
Mas os países mais ricos e avançados na vacinação também têm sofrido. A Alemanha, principal economia do continente, ultrapassou a marca dos 100 mil mortos por Covid, viu as UTIs lotarem novamente, reportou 67 mil casos nas 24 horas encerradas ontem (24) e tem discutido a obrigatoriedade da vacinação à toda a população. Por lá, 81% dos adultos estão completamente imunizados, número que não parece ter sido suficiente para barrar as infecções e mortes.
“O mesmo comportamento (da pandemia) que observamos na Europa, observaríamos no Brasil se tivéssemos um bom sistema de notificação desses casos. Não temos, então por isso deveríamos usar máscaras”, finaliza Stabeli.