Três em cada quatro hospitais privados do Estado de São Paulo relatam que o tempo médio de espera em atendimentos de urgência e emergência passa de duas horas para pacientes com suspeita de covid-19 ou síndrome gripal. Os dados evidenciam a pressão causada pela explosão de infecções pelo coronavírus com o avanço da variante Ômicron, que é mais transmissível.
O levantamento foi feito pelo Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (SindHosp), com 81 estabelecimentos na capital e no interior entre os dias 12 e 19 de janeiro. Quatro em cada dez hospitais apontam uma espera de duas a três horas, e 32% informam que têm filas superiores a três horas.
Todos os hospitais relatam que houve aumento no atendimento de urgência nos últimos 15 dias a pacientes com a covid-19. Em 60% dos casos, a demanda para esse tipo de atendimento mais do que dobrou. Com boa parte da população vacinada e, ao mesmo tempo, alta transmissibilidade do vírus, a tendência é de pressão justamente nos atendimentos de urgência – a porta de entrada dos hospitais.
Só nos primeiros 19 dias do ano, o número de casos de covid no Brasil (1.135.488) é equivalente a 30% do total de casos confirmados ao longo de todo o segundo semestre de 2021 (3.726 209). O número de casos nos primeiros 19 dias do ano já supera em 132% o total de confirmados no último trimestre de 2021 (859 596).
Srag
Boletim da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgado nesta sexta, 21, apontou sinal de forte crescimento dos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave. Em 22 unidades da Federação, houve pelo menos uma macrorregião de saúde com nível de casos semanais de SRAG classificado como muito alto ou extremamente alto, segundo o levantamento da Fiocruz. Em relação às capitais, 24 das 27 apresentam sinal de crescimento na tendência das últimas seis semanas.
Pessoas com sintomas da covid-19 lotam os hospitais para testes de detecção da doença, consultas e para obter atestado médico. Boa parte dos casos são leves, graças à vacinação. No entanto, o altíssimo número infectados também leva, inevitavelmente, a um aumento no volume de hospitalizações, em leitos clínicos ou Unidades de Terapia Intensiva (UTI), como mostram os dados do SindHosp.
Em mais de um terço dos hospitais privados de São Paulo, a taxa de ocupação de UTIs passa de 81%. Já a ocupação de leitos clínicos atinge esse mesmo porcentual em um quarto dos estabelecimentos.
Conforme o levantamento, quase metade dos pacientes com a covid-19 internados em UTIs está na faixa etária de 60 a 79 anos, e 34% têm entre 30 e 50 anos. Já nos serviços de urgência e emergência, metade dos pacientes tem entre 30 e 50 anos, e 30,5% estão na faixa etária de 60 a 79 anos.
Em um comunicado à imprensa, o médico Francisco Balestrin, presidente do SindHosp, afirmou que a tendência de queda nas internações em UTI, verificada desde outubro do ano passado, sofreu uma reversão logo após o período das festas de fim de ano A situação, afirma, acende um alerta.
Gestores em todo o Brasil já se mobilizam para dar conta do aumento da demanda. O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) encaminhou ofício ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, argumentando que pode haver aumento de pressão na rede hospitalar.
Além do aumento de pacientes, os hospitais privados lidam com outros problemas. Entre eles, o afastamento de colaboradores (38% dos hospitais) e a falta de testes de covid-19 (20%). A maioria dos estabelecimentos tem dificuldade para repor os testes que detectam a doença.
Teste
Conforme o Estadão mostrou, a escassez de testes tem levado até redes públicas a restringir o acesso à testagem. Nesta semana, a Prefeitura de São Paulo, por exemplo, informou que só tem testes para mais 15 dias e que, por isso, daria preferência aos casos considerados prioritários, como gestantes, pacientes com comorbidade e moradores de rua.