Apesar das quedas nos indicadores de mortes e novos casos de Covid-19 em julho, a situação da pandemia em São Carlos e país ainda é preocupante, na avaliação do médico sanitarista Rodolpho Telarolli Júnior.
Para o médico, dentre os diferentes fatores é difícil apontar um como o principal responsável pelo arrefecimento da pandemia de Covid-19 na região. A vacinação, as medidas restritivas e a própria colaboração da população têm pesos diferentes nessa equação.
O que é líquido e certo, na opinião do professor, é que o atual momento da pandemia é melhor, na comparação temporal, mas ainda bastante ruim, se tomar como base o cenário externo.
“A tendência é que com o avanço da vacinação e com a conscientização da população continuemos nessa rota de redução dos números de casos e mortes aqui na nossa região e no país como um todo”, afirma.
Diante do cenário atual, governos estadual e local trataram de afrouxar as regras vigentes no plano de quarentena. Bares estão abertos, algo impensável há dois meses, assim como o comércio quase não tem mais restrições de horários.
A abertura é boa notícia, segundo Telarolli, mas há um suspense de como a curva de contaminação vai se comportar diante da maior movimentação de pessoas nas ruas.
“Olha, fico temeroso, porque, na verdade nós temos vacinadas com duas doses uma porcentagem pequena da população [22%, nas contas do governo]. Com pelo menos uma dose, no Estado de São Paulo, tem entre 55% e 60% da população. É pouca gente”, conclui.
Na equação que leva à determinação para onde vai a pandemia no país, há uma variável completamente inesperada e cujos reflexos são difíceis de calcular: a variante Delta.
Aos poucos, diferentes lugares do país confirmam casos da variante, cuja identificação se dá somente via sequenciamento genético. Hoje, por exemplo, foram confirmados casos da variante em navio de bandeira de Singapura atracado em Santos, no litoral de SP.
Os efeitos da nova cepa ainda são desconhecidos, mas autoridades sanitárias de diversos países estão tratando de mapeá-los. Informe interno do Centro de Prevenção e Controle de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, expõe que a variante Delta é tão contagiosa quanto a catapora.
“É difícil de mensurarmos qual vai ser o papel da presença da variante Delta. É um fator adicional de preocupação para todos”, afirma.
Para o professor de saúde pública da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unesp de Araraquara, o melhor a ser feito é vacinar mais rápido e completar a imunização para quem tem que tomar as duas doses.
Vacinação da “molecada”
O pedido do Instituto Butantan à Agência Nacional de Vigilância Sanitária para que sejam imunizadas crianças e adolescentes de 3 a 17 anos contra a Covid-19, festejado pelo governador João Doria (PSDB) é positivo e “seria um sonho”, de acordo com o sanitarista.
Mas, há a necessidade de estudos robustos sobre os efeitos das vacinas contra a Covid neste público, ressalta Telarolli.
“Vacinar todos os cidadãos do ponto de vista epidemiológico para contenção da doença seria um sonho perfeito. Para isso, precisaríamos de um estudo que mostre que a vacinação dessas faixas etárias não traz riscos”, relata.
Entre os imunizantes presentes no país, tem uso aprovado para adolescentes a Pfizer. A vacina da Astrazeneca/Oxford está em estudo no exterior e a Coronavac, tem pedido para testes na mesa da agência.