A decretação de restrição de circulação de pessoas a partir de sexta-feira (26) pode ser um “balão de ensaio” do governo para outras medidas mais duras e integrais. A avaliação é do médico sanitarista Rodolpho Telarolli Júnior, professor de saúde pública na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unesp.
Apesar da boa intenção da gestão João Doria (PSDB) em restringir a contaminação por Sars-CoV-2, a medida que vale das 23h às 5h tem baixa efetividade, uma vez que no horário proposto há poucas pessoas em circulação nas ruas das cidades.
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“O que eu acredito é que seja um balão de ensaio da parte do governador e da equipe técnica para avaliar a reação da população, dos números (da pandemia) e dos políticos em cada localidade, com vistas de, no futuro, se necessário, definir lockdown total em regiões ou municípios onde o número de casos justificar que a coisa aconteça desta maneira”, opina.
Entre as regiões que preocupam as autoridades sanitárias estaduais estão a de São Carlos e Araraquara, Bauru, Presidente Prudente e Barretos, todas atualmente na fase vermelha do Plano São Paulo e com altas taxas de ocupação de UTI. Todavia, há outra fonte de preocupação do governo do Estado: a circulação da nova cepa brasileira em algumas localidades.
“Por si só esse toque de recolher não vai ter grande repercussão na redução do número de casos, pois é um período em que as pessoas já circulam pouco usualmente e não impede a proliferação do vírus que se dá, predominantemente durante o dia nos transportes coletivos, ambientes de trabalho e outros locais de aglomeração”, comenta.
Para o epidemiologista Bernardino Alves Souto, professor da UFSCar, toda medida que ajuda a reduzir a circulação de pessoas é importante para combater a pandemia, mas “precisamos de medidas bem firmes, estamos precisando de lockdown”.
“Precisamos garantir o efetivo isolamento de pessoas doentes, pessoas que tiveram contato com os doentes, estamos precisando de medidas de rastreamento e de testagem em massa da população e de celeridade na vacina e na distribuição dela”, reitera.
O especialista afirma ainda que o toque de restrição, como medida isolada, pode ter “efeito muito pequeno”. “Precisamos associar um conjunto de outras medidas mais restritivas para poder, realmente, combater a pandemia”.