A Santa Casa de São Carlos está tratando de pacientes com efeitos colaterais leves do “tratamento precoce” contra o novo coronavírus. A informação foi dada pelo gerente médico do hospital, Roberto Muniz Júnior, em vídeo enviado nesta quinta-feira (25) à imprensa (assista abaixo).
Questionado sobre a ocorrência de pessoas que adoeceram por conta do “kit Covid”, Muniz afirma que há “casos de efeitos colaterais e outros hospitais começam a relatar casos de transplante hepático secundário ao uso destes medicamentos.” O hospital não detalhou quais sintomas foram apresentados pelos pacientes que teriam feito uso do “tratamento precoce” e não indicou quantas pessoas reportaram o problema. Especialistas apontam que entre os efeitos reportados em hospitais brasileiros estão arritmia cardíaca, sangramentos e inflamações no fígado.
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Medicamentos como hidroxicloroquina/cloroquina, ivermectina, nitazoxanida, azitromicina e colchicina, entre outras drogas, foram “indicadas” pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), chegaram a ser mencionados pelo próprio Ministério da Saúde em documentos oficiais. Mesmo após ser rechaçado pela Associação Médica Brasileira (AMB), entidades científicas globais, Organização Mundial da Saúde, e outros organismos internacionais, o “tratamento precoce” encontrou eco entre políticos locais. Lucão Fernandes (MDB), vereador e presidente da Comissão de Saúde da Câmara, chegou a “indicar” o método.
“É consenso entre as entidades médicas brasileiras e internacionais de que o tratamento precoce não tem nenhum efeito, não diminui as chances de o paciente ficar grave, não o faz melhorar mais rápido”. “Deveria ser abandonado como discurso perverso você ofertar a esperança a uma pessoa que passa a não se proteger e funciona como meio de propagação do vírus na sociedade”, critica o médico.
O gerente médico do hospital pediu “medidas extremas” para diminuir a pressão sobre o sistema de saúde. Segundo o gerente, mesmo com a fase emergencial decretada pelo governo do Estado e acatada pelo município, “não há espaço para pacientes” em São Paulo. “UTIs praticamente ocupadas”.
“Neste momento medidas extremas são necessárias para diminuir a pressão sobre o sistema de saúde e ocorrerem mortes desnecessárias”, afirma.
O médico afirmou que notificou a Prefeitura, a Câmara Municipal, o governo do Estado, o Conselho Regional de Medicina e os ministérios públicos Federal e Estadual na “tentativa de obter as medicações necessárias para continuar o atendimento e notificar que nenhum atendimento poderá ser feito a partir deste momento em que as medicações acabaram”.