São Carlos (SP) tem 9.455 pacientes recuperados da Covid-19 entre os quase 10 mil casos que foram confirmados desde o início da pandemia. Mas o drama de algumas pessoas não termina com a cura. São cada vez mais numerosos os pacientes que relatam sequelas, mesmo tendo poucos ou nenhum sintoma no período de infecção.
Um dos casos é da professora Adélia Regina Florêncio, de 54 anos. O diagnóstico ocorreu em meados de dezembro e de lá para cá, mesmo vencendo a infecção, ainda sofre com as consequências do Sars-CoV-2 no organismo.
“De lá para cá percebi que ia esquecendo as coisas e tendo muita dor de cabeça. (Por exemplo), ia para o quarto pegar algo e acabava esquecendo, isso ficou com maior frequência”, relata.
A prática de crochê ficou mais dificultosa com a memória falhando, segundo Adélia. Não são raras as ocasiões em que pontos precisam ser desmanchados porque foram feitos de modo errado.
“Faço crochê, começo bem e depois desmancho tudo novamente porque acabo esquecendo dos pontos. Isso atrapalha bastante. Coloco as coisas em um lugar e depois não sei onde estão. Estou procurando um documento que até agora não sei onde está, não sei onde coloquei. É horrível”, relata.
A são-carlense ainda relata uma dor de cabeça diferente da que todo mundo já deve ter sentido: ela vem em forma de pontadas. “Era raro, antes não tinha dor de cabeça, agora ficou assim. Acho que é uma consequência mesmo”.
A funcionária pública afirma ainda que sentiu fraqueza, mas melhorou conforme a passagem do tempo. Adélia relata ter tomado vitaminas para ficar melhor.
“A dor de cabeça é uma coisa muito chata, então com pontada (é pior). Vou até procurar um neuro para fazer uns exames. Eu tomo remédio para dor de cabeça, analgésico, e não para. Você balança a cabeça e dói tudo. É horrível, sabe, ter isso quase todos os dias”, diz.
Além de dores de cabeça, perda de memória e fraqueza, a comunidade médica tem relatado outras sequelas, segundo a infectologista e coordenadora do Serviço de Controle de Infecção Relacionado à Assistência em Saúde (SCIRAS) da Santa Casa, Carolina Toniolo Zenatti.
“As principais complicações, sequelas são a fadiga, cansaço inespecífico que permanece, a persistência da falta de paladar e de olfato, são as principais complicações”, afirma.
A infectologista ainda lembra que há ainda os pacientes que chegaram a ser internados por longos períodos em terapia intensiva ou não que sofrem “complicações inerentes à paralização prolongada”.
Para evitar as sequelas, a dica é se cuidar, de acordo com Adélia. “A coisa é muito séria, o pessoal leva na brincadeira. É muito sério mesmo sendo assintomática. E o povo não está levando a sério. Já perdi parentes, amigos então tem que se cuidar”, orienta a ex-paciente.