Chegou a hora de São Carlos (SP) endurecer ainda mais as medidas de restrições e pensar na possibilidade de partir para um lockdown. Possibilidade foi aventada pelo professor da Universidade de São Paulo (USP), Hamilton Varela.
Para o docente do Instituto de Química de São Carlos (IQSC-USP), há vários aspectos que devem ser considerados nas medidas de restrição de circulação. Um desses aspectos, segundo o professor, é o fato de que a cidade apresentou em março grande número de mortos por Covid soma que inclusive supera os de 2020 e ainda teve avanços nos números de novos casos o que faz supor, na opinião do professor, um recrudescimento da pandemia nas próximas semanas.
“São Carlos já tem fortes indícios de que deveria tomar um pouco de cuidado”. “Eu acho que é necessário, no momento, tomar medidas um pouco mais rígidas, mas mais importante do que tomar essas medidas, a adoção é a forma que elas são tomadas”, avalia.
Mais do que ação em si, o professor pondera que os gestores públicos precisam analisar a forma como será feita. Se decidir por um lockdown, é necessário pensar em meios a evitar que a população corra para supermercados e causem aglomerações, como o ocorrido em Ribeirão Preto e em outros municípios paulistas.
Um meio menos traumático para a economia é a realização de testagem em massa com efetivo confinamento das pessoas infectadas, algo inclusive que Araraquara tem indicado fazer, segundo Varela.
“Talvez a saída mais viável e mais importante que poderia ser feita e prejudicaria um pouco menos a economia”. “Araraquara anunciou que está trabalhando nessa linha, mas talvez fosse a melhor solução para São Carlos, mais testes, identificar quem está contaminado e promover o isolamento dessas pessoas. Isso aqui talvez fosse o mais importante”, comenta.
O professor do Instituto de Química publicou no Jornal da USP um artigo comparando as medidas realizadas em São Carlos com as de Araraquara. No paralelo traçado pelo cientista, dois fatos são postos: o lockdown araraquarense e a fase emergencial estadual seguida por São Carlos.
A partir daí o professor mensura a efetividade de ambas ações por meio de algumas variáveis, entre elas a taxa de ocupação de leitos, número de novos mortos por Covid e média móvel de novos casos.
Após um pico de 138 na média móvel diária em 27 de fevereiro, em meio ao lockdown, Araraquara viu a média móvel diária estacionar-se em 70 nos últimos dias. São Carlos, que seguiu o protocolo estadual, registrou 9% no número de novos casos na última semana de março, mas ainda sofre com alta taxa de ocupação em hospitais e tem enviado dezenas de pacientes para outros municípios. Somente Araraquara haviam cerca de 30 pessoas na quinta-feira (1º).
“A queda aqui em São Carlos está muito mais lenta (do que Araraquara”. “A notícia que não é muito boa é que provavelmente o número de óbitos aqui em São Carlos vai seguir crescendo até a segunda semana de abril, pelo menos, se nenhuma medida for tomada, pois a queda está muito lenta”, compara.
A comparação entre as duas cidades é possível, segundo o professor, devido ao fato de os municípios serem de tamanhos semelhantes em termos populacionais, de densidade demográfica, pirâmide etária e índice de desenvolvimento humano (IDH).
“É muito difícil pensar num isolamento que se faz aqui pode ser feito independentemente das cidades vizinhas, ou de Araraquara. Precisamos dessa perspectiva regional”, opina.
O professor ainda pediu “cooperação entre as esferas” para que se tenha um enfrentamento mais efetivo à disseminação do novo coronavírus. Esse trabalho em conjunto, pondera, é um problema que acontece em todo o país.
“Um dos principais aspectos do enfrentamento que não está sendo bom, se dá justamente pela ausência de liderança que consigam articular minimamente e coordenar o processo. É muito difícil imaginar o poder municipal de São Carlos que consiga fazer medidas que tenham impacto aqui sem conversar com vizinhos e sem essa articulação, o que deveria ser feito pelo Estado. Eu acho que é um problema”, finaliza.