A pandemia foi decretada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 11 de março, quando já se tinha um aumento significativo de casos de Sars-Cov-2 pelo mundo. Em São Carlos (SP), o primeiro caso foi registrado sete dias após, em 18 de março. Após um ano, a cidade enfrenta o seu pior momento no sistema de saúde.
Na avaliação do secretário municipal de Saúde, Marcos Palermo, o entendimento no início da pandemia era de que os municípios precisaram conter a circulação de pessoas. E a cidade até que conseguiu, mas apenas até a chegada do segundo semestre, quando houve uma primeira explosão de casos.
“Nós tivemos vários momentos oscilantes da pandemia. A pandemia reage com a contaminação, e quanto maior a quantidade de pessoas testadas e maior positivadas, maior será o pico. Considerando que os resultados adversos da situação clínica dos pacientes acontecem após a data de contaminação e evolui nos próximos 10 dias, nós tivemos diversos picos”, disse em entrevista ao portal ACidade ON.
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Em comparação ao quadro pandêmico atual, o coronavírus era “um cisco”. O agravamento de suas características ocasionou, ao longo deste um ano, uma mudança drástica de perfil na cidade.
De acordo com Palermo, até o ano passado, os pacientes ficavam em média cinco dias na UTI e conseguiam se recuperar, mas nesta nova ‘performance’, os casos se agravam mais rápido e a ocupação dos leitos de UTI se tornou mais intensa, chegando a durar 20 dias sem possibilidade de reversão.
“Tínhamos uma característica do vírus que não era tão forte e o contágio não era tão disseminatório como agora, e a letalidade também não. O perfil do paciente está mudando. Ontem, você tinha 90% de idosos nas UTIs, pessoas com comorbidades, acima dos 60 anos, e hoje [a Covid] já pega aquele jovem senhor de 30 a 50 anos. O fortalecimento desse vírus está proporcionando essa situação caótica, com o sistema todo colapsado”, comentou.
Planejamento do Centro de Triagem
Os casos de Covid-19 começaram a crescer significativamente na cidade em meados de outubro, mas a ‘explosão’ veio mesmo no final de ano, em dezembro, quando a cidade ultrapassou a marca dos 6 mil.
Palermo comenta que desde esse período, a secretaria da Saúde já observava indicadores de crescimento e fortalecimento do vírus. Naquela época ainda não se falava em novas cepas, mas alguns estados já registravam falta de oxigênio em hospitais.
Com isso, a pasta se reuniu com o grupo técnico formado por profissionais de diversas áreas para decidir o que seria feito. Em novembro, a cidade tinha uma estrutura adaptada no Ginásio Milton Olaio para atender exclusivamente os pacientes suspeitos da doença.
“Nós tínhamos a necessidade de reativação da rede básica para atender outras comorbidades. Imagina você: se eu sou cardíaco e vou a um posto de saúde que estaria testando pessoas possivelmente contaminadas, como conseguiria colocar uma pessoa possivelmente positiva ao lado de um cardíaco? Isso ia provocar um óbito ou, no mínimo, sobrecarga nos leitos de UTI. Então nós desviamos o fluxo, criamos o Centro de Triagem e Síndrome Respiratória”, explicou.
O Centro de Triagem hoje recebe cerca de 200 pessoas por dia, principalmente pacientes com doenças respiratórias e que procuram a unidade para testagem, tratamento, isolamento e até internação para observação do quadro.
“Dentro do nosso planejamento, nós fizemos uma ação paliativa. Se não tivéssemos feito isso em novembro, em janeiro teríamos triplicado o número de letalidade e não teríamos mais leitos em janeiro”, disse.
Guerra contra EPIs
A pandemia também trouxe consigo uma guerra definitiva para a aquisição de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) que eram, e ainda são, a peça fundamental de proteção contra a Covid-19, em conjunto com outras medidas sanitárias.
No entanto, segundo o secretário, o município começou a se planejar logo quando surgiram os primeiros casos e acabou não sofrendo tanto pela falta desses materiais no mercado.
“Tivemos sim no ano passado algumas dificuldades, mas não chegou a faltar porque fizemos um planejamento antecipado, quando veio a pandemia a gente já cuidou dessa questão e começamos o abastecimento. Hoje, no momento, a gente não diz que está tranquilo, a demanda é muito alta e os índices estão aumentando gradativamente, mas nós estamos conseguindo abastecer as unidades”, comentou.
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Ações concretas
A cidade está há mais de um mês com lotação de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) e atendendo também demandas de outras cidades da região pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Para Palermo, a região está acompanhando o colapso vivido em todo o país e não é a única sofrendo com a pandemia. Ele comenta que, em comparação a cidades do mesmo porte, São Carlos ainda tem a menor taxa de letalidade e segue tentando abaixar a taxa de contaminação, assim como toda a região.
“Dentro de uma pandemia não existe previsibilidade, existem estudos futuros e de ações futuras que precisamos fazer. Nós sabíamos que a evolução era muita rápida e tínhamos que agir. Aumentamos os leitos de UTI, conseguimos leitos de enfermaria, fortalecemos as Unidades de Pronto Atendimento. Nós estamos tomando tratativas, só que veja bem, enquanto não baixar o número de contaminados diariamente, o reflexo será esse”, detalhou.
O secretário ressalta que, além do distanciamento social e o seguimento aos protocolos sanitários – que são de certa forma medidas individuais -, a vacinação pode ser a única medida concreta a nível municipal capaz de baixar o índice diário de contaminação.
“Eu entendo que foram tardias nossas medidas finais, fomos os últimos a entrar nessa questão da vacina, infelizmente acredito que faltou planejamento, dedicação e comprometimento porque ficamos em uma discussão politica lamentável e nós da saúde enxergamos isso. A gente precisa da colaboração não só do poder público, mas também da conscientização popular para que não percamos mais vidas. Não neguem o vírus, não neguem a vida e usem máscaras. O que vocês têm que negar é esse momento político”, finalizou.