Seis meses após a apresentação, uma proposta do Comitê Independente de Combate ao Coronavírus (Comind) pode sair do papel nas próximas semanas. O projeto visa um “lockdown inteligente” na cidade, em que somente são confinadas pessoas positivadas ou que tiveram contato com contaminados pela Covid-19.
Segundo o secretário de Saúde, Marcos Palermo, nesta semana a equipe técnica da pasta e membros do Comind deverão se reunir para discutir a viabilidade da proposta. A ideia é formatar um projeto, apresentá-lo ao prefeito Airton Garcia (PSL) e então abrir espaço no Orçamento para cobertura das despesas com testes.
“Testes custam dinheiro, mas acho que conseguiremos fazer um trabalho diferenciado nessa questão e trabalhar em cima disso, fazendo um bloqueio de contactantes e assintomáticos”, afirma.
A iniciativa de ouvir o comitê mostraria uma abertura da Secretaria ao diálogo com diferentes grupos. Porém, questionado sobre a demora em colocar em prática o plano proposto, Palermo afirma que entre outubro e novembro a realidade era diferente.
“Chegou novembro, quando começamos com o Centro de Triagem de Síndrome Respiratória, foi justamente na perspectiva porque já via a sinalização de que poderia ter uma evolução. Chegou dezembro e continuou estagnado. Em janeiro subiu, foi isso que aconteceu”, relata.
Apresentada à Prefeitura em duas ocasiões, a proposta visa rastrear indivíduos que estiveram com pessoas que testam positivo para Covid-19. Segundo Mário Casale, representante do Comind, a ideia é aplicar um questionário aos positivados buscando possíveis novos casos.
Segundo o empresário, a proposta trabalha em duas frentes. Uma delas é a da busca ativa dos contactantes. Uma possível parceria com o curso de medicina da UFSCar disponibilizaria os estudantes para o contato com os pacientes. A partir de então, as pessoas com suspeitas de terem sido infectadas serão testadas. Com o resultado dos testes em mãos, os positivados são colocados em quarentena.
“O que acontece é que a pandemia segue seu rumo, principalmente, por pessoas pré-sintomáticas ou assintomáticas. São essas pessoas que passariam o vírus para frente “, observa.
Na mesma frente, estatísticos trabalhariam com os dados coletados pelos estudantes para que epidemiologistas entendam para onde, como e em qual velocidade a epidemia está evoluindo.
Noutro front, explica Casale, estaria a comunicação, com trabalho focado na divulgação do plano e na conscientização. “A ideia é que façamos de forma que fique claro para a pessoa que está recebendo a ligação entenda que aquilo é algo oficial e não um trote”.
Aumento de testes na cidade
Caso seja colocado de pé, o plano exigiria maior realização de testes RT-PCR. No mês de março foram realizados, via Sistema Único de Saúde, 6.170 testes de Covid-19, dos quais 2.428 tiveram resultados positivos. Se cada um destes positivados tivessem quatro contatos chamados para testes seriam mais 9.712 exames feitos. Se estivesse em ação no mês passado, o total de PCRs feitos em São Carlos seria de 15.900, aproximadamente. Esse volume representa 2,5 vezes o realizado, o que implicaria custos para o município.
“A questão é que em um primeiro momento aumenta a quantidade de testes, no entanto, como estaríamos segurando as pessoas que descobriram a Covid, a curva epidêmica reduz, assim como o número de pessoas que pegariam a doença. No final das contas, a Prefeitura até economizaria com os testes”, vaticina.
Para Casale, São Carlos “estaria em outro patamar” caso o plano tivesse sido adotado no ano passado. “Não tenho dúvidas de que poderia ter salvado muitas vidas e economizado dinheiro”, reflete.
Novas medidas adaptadas à realidade local
Um dos idealizadores da proposta, o professor de medicina da UFSCar e epidemiologista Bernardino Alves Souto, afirmou que o município não pode se limitar somente a seguir à risca o que estabelece o Plano São Paulo.
“Se continuarmos a seguir o Plano São Paulo, são esperados muitos doentes e mortos por Covid-19 na região, o que poderá ser evitado ou minimizado se a proposta apresentada for colocada em prática”, comenta.
O docente disse ainda ser necessário, para além da testagem, bloqueio sanitário, medidas de confinamento e subsídios às pessoas que forem prejudicadas.
Procurado, o Departamento de Medicina da UFSCar se manifestou sobre a proposta de voluntariado de alunos do curso de medicina. O órgão afirmou que tem conhecimento do projeto, que está em fase de avaliação, mas “oficialmente ainda não há uma parceria firmada com relação a isso”.