Em um feito inédito no Programa de Pós-Graduação em Linguística (PPGL) da UFSCar, o aluno Fernando Cardoso dos Santos se tornou o primeiro doutor surdo titulado.
Professor de Libras da Universidade Federal do Tocantins, o aluno defendeu um trabalho sobre o perfil sociolinguístico de surdos nos municípios com baixa ocupação territorial de seu Estado. A tese foi apresentada no fim de junho, sob orientação de Cássio Florêncio Rubio, do Departamento de Psicologia (DPsi) da UFSCar.
A pesquisa de Santos, desenvolvida entre agosto de 2021 e maio deste ano, teve como tema o perfil sociolinguístico de surdos em municípios com baixa ocupação territorial no Estado do Tocantins. O objetivo era conhecer processos fenomenológicos de surdos em regiões distantes de grandes centros urbanos.
“Por ser surdo e experienciar a vida e a cultura de um surdo e com a experiência profissional como docente de surdos desde a Educação Infantil até o Ensino Superior”, conta o doutor em Linguística, “tive oportunidade de vivenciar a transversalidade em comunidades surdas situadas em pequenas cidades com menor densidade populacional”. Outro fator que motivou o desenvolvimento da pesquisa, segundo o autor, “foi a falsa percepção de que somente a Libras é vista como comunicação junto às pessoas surdas, embora esta ainda não seja dominada pelos surdos das cidades interioranas”.
Para dar andamento à investigação, foram consideradas como variáveis: diversidade, heterogeneidade e multiplicidade de recursos linguísticos e extralinguísticos usados na comunicação dos surdos em diversos contextos interativos. As etapas da pesquisa contaram com o desenvolvimento do projeto, contato com os participantes surdos, entrevista via WhatsApp e presencial, análise dos dados e conclusões.
Conquista inédita
Esta foi a primeira vez que um estudante surdo defendeu uma tese de doutorado no PPGL.
O orientador do estudante conta que houve desafios iniciais para acessibilidade e para participação do Fernando em disciplinas, eventos acadêmicos e demais atividades relacionadas ao doutorado.
Para a orientação, houve o apoio de intérpretes e até de legendas durante videoconferências virtuais.
“Cabe ressaltar, inclusive, que boa parte do doutorado se desenvolveu à distância, já que o Fernando reside no Tocantins”, explicou Cássio Florência Rúbio, orientador.
“Pela qualidade e disposição de todos os suportes da UFSCar, não percebi grandes obstáculos na realização das aulas remotas, bem como nos demais encontros, que foram mediados pela SeTILS”, complementou o aluno. Segundo ele, no Brasil, há vários doutores surdos, em especial nas universidades que estão atentas às necessidades específicas dos surdos.
O doutor em Linguística pela UFSCar aproveitou para deixar uma mensagem às pessoas surdas que queiram seguir seus passos na vida acadêmica e profissional: “Persistência, dedicação e que se mantenham firmes na certeza de que seus conhecimentos são fontes científicas que precisam ser reveladas à sociedade surda e ouvinte”.