Pesquisadores da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da Universidade de São Paulo (USP) estão desenvolvendo um robô para ser utilizado durante cirurgias realizadas em crianças que sofrem de epilepsia, um dos problemas neurológicos mais frequentes na infância.
Na prática, a partir de imagens em 3D do cérebro do paciente recebidas online, a máquina irá auxiliar os profissionais de saúde a interpretá-las e a calcular exatamente onde os eletrodos devem ser inseridos, posicionando uma ferramenta tubular na cabeça da criança para que a equipe médica coloque os sensores, uma forma colaborativa de trabalho entre o robô e o cirurgião que tornará a cirurgia mais rápida, segura e eficiente.
“O robô conta com câmeras e sensores de distância. Um sistema de inteligência artificial analisa as imagens, os dados captados e mapeia os pontos para inserir os eletrodos. O médico vai ter um guia. Não tem erro. É mais segurança para as crianças que passam por esse tipo de procedimento”, comemora o engenheiro.
O professor Hélio Machado, docente do Departamento de Cirurgia e Anatomia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, instituição parceira no estudo, explica que lesões cerebrais ocorridas de forma precoce, ainda durante a formação do órgão, estão entre as principais causas de convulsões em crianças.
“Essas lesões levam ao mau funcionamento de parte do cérebro, que se torna gerador de crises convulsivas. Nesses casos, é preciso descobrir o local exato onde a crise começa e para onde ela se propaga. Atualmente, a melhor forma de se estudar cada caso é inserindo no crânio do paciente de 5 a 15 eletrodos, que são conectados a um sistema de monitoramento”, explica.
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Criação da tecnologia
Para criar a nova tecnologia, os pesquisadores importaram da Alemanha um braço mecânico articulado de última geração com aproximadamente 1,6m e 45 kg, que será controlado por códigos computacionais que estão sendo desenvolvidos na EESC.
“Estamos aplicando na neurocirurgia sistemas criados para diferentes áreas e adaptando softwares já disponíveis no mercado, alguns desenvolvidos por universidades brasileiras, para deixar o custo de produção mais barato e, consequentemente, a inovação mais acessível para os hospitais”, explica o docente da EESC.
O novo “robô-neurocirurgião” está sendo construído e testado dentro de um dos hangares do Departamento de Engenharia Aeronáutica (SAA) da EESC. O equipamento tem um encaixe na ponta para que diversos instrumentos médicos sejam acoplados e, durante a operação, o médico poderá alterar as ferramentas de acordo com a tarefa que deseja realizar.
“Ele mostra um QR Code para o robô identificar qual utensílio ele está recebendo naquele momento. A cada avanço de etapa, o médico aperta botões de comando. É bem simples, mas os profissionais vão precisar de uma capacitação”, pondera Glauco.
A parceria entre EESC e FMRP começou em 2014. Pelo menos metade das mais de duas mil crianças atendidas pelo Hospital das Clínicas (HC) de Ribeirão Preto, onde há um setor dedicado exclusivamente à abordagem de epilepsia, podem ser beneficiadas com o novo robô-assistente.
“O trabalho com grupos de outras áreas do conhecimento permite um avanço tecnológico espetacular para o nosso país, evitando a importação de equipamentos que às vezes são extremamente caros. A cirurgia robótica em nosso meio tem todas as condições de ser muito bem-sucedida, trazendo benefícios incalculáveis aos nossos pequenos pacientes”, comemora Hélio.
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A tecnologia em desenvolvimento na EESC tem sido testada por meio de simulações em crânios artificiais, visando identificar eventuais erros do sistema e prever todos os problemas que podem surgir no momento da cirurgia.
“Do ponto de vista de engenharia, as técnicas de controle que nós utilizamos são as melhores disponíveis atualmente no planeta. Antes da conclusão de testes exaustivos, o robô não será levado para os hospitais”, garante o coordenador do estudo.
Os primeiros resultados da pesquisa já estão sendo compilados e preparados para publicação em revistas científicas internacionais. Os especialistas esperam que no segundo semestre deste ano seja possível iniciar uma fase de testes com pacientes.
No futuro, os cientistas pretendem criar sistemas que interpretem dados captados pelos eletrodos e implantar no equipamento tecnologias para que ele reconheça gestos e trabalhe com Realidade Aumentada.