Após uma denúncia de maus-tratos contra idosos, a Justiça determinou a interdição do Asilo e Lar Evangélico das Assembléias de Deus (Asilar) – Lar Redenção, em Descalvado (SP). O pedido foi feito pelo Ministério Público (MP). O abrigo tem até hoje (6) para transferir os idosos para outras instituições ou aos cuidados de parentes.
A direção do Asilar informou que já havia se manifestado sobre o caso em nota de repúdio e não comentou a interdição.
Questionada, a Prefeitura de Descalvado informou que a Justiça determinou o sigilo no processo judicial e, por isso, a administração municipal não pode comentar o caso.
Interdição e transferência de idosos
A decisão, em caráter liminar (provisório), é do dia 1º de abril. O asilo, que é ligado à uma igreja evangélica, também está impedido de receber qualquer novo idoso até a conclusão do processo, assim como de aceitar valores ou bens de abrigados ou de seus familiares. A multa estipulada para caso de descumprimento é de R$ 50 mil por idoso.
A liminar também determina que o asilo também tem cinco dias para entregar, aos familiares ou às novas entidades, toda a documentação e todos os valores de propriedade dos acolhidos, sob pena de multa de R$ 5 mil por idoso e por dia de atraso.
A ação foi instruída pelo Promotor de Justiça Lucas Corradini da Silva após ouvir relatos e fotos mostrando idosos nus, dormindo no chão, em meio a urina e fezes. Uma ex-funcionária do local afirmou à promotoria ter presenciado a oferta de alimentos malconservados e com larvas. Após as denúncias, uma equipe multidisciplinar da prefeitura foi até o local para uma vistoria.
O relatório técnico feito pela equipe apontou falta de acompanhamento por parte dos profissionais da saúde e ausência de práticas recreativas e de lazer. A única atividade disponível eram cultos evangélicos, dos quais os idosos precisavam participar mesmo que fossem de outra ou nenhuma religião.
Relatos da cuidadora
Nas imagens gravadas pela cuidadora Andreza Borba de Souza, a maioria dos idosos filmados está no chão, alguns em colchões e outras apenas com cobertor ou lençol. Alguns também aparecem nus ou seminus, com camiseta ou fralda geriátrica. Pela casa há urina no chão e fezes.
“Não tem fruta, nada. Às vezes, vem leite em pó do fundo social e ela manda por mais água, para render mais, para não gastar”, disse a cuidadora Andreza Borba de Souza em entrevista à EPTV.
Ela contou que foi despedida do lar por tentar ajudar os idosos, principalmente porque deu frutas e bisnaguinha para uma moradora. Ela disse que sofreu ameaças de uma gerente e seu marido e registrou boletim de ocorrência. Eles negam.
“Prometi para Deus que eu fiz o bem. Se eu morrer, eu não estou com esse peso na consciência, de deixar esses idosos lá”, afirmou emocionada na ocasião.