Presente em roupas, adereços, peças de decoração e cosméticos, o glitter atinge o auge de popularidade no Carnaval. Apesar dos benefícios estéticos, a cientistas tratam o material colorido como poluente emergente.
Os microplásticos não são filtrados pelos sistemas tradicionais de tratamento de água e terminam lançados em rios e oceanos, onde interferem diretamente em aspectos da vida aquática, segundo os estudiosos.
Pesquisa conduzida na UFSCar detectou um problema a mais no uso de glitter: além do microplástico, partículas de metais, como o alumínio também podem levar malefícios ao meio ambiente.
Resultados divulgados em revista científica internacional mostram que o metal presente no glitter pode alterar a passagem de luz pela água e comprometer a fotossíntese – e, consequentemente, o crescimento – de uma das espécies mais comuns de macrófita do Brasil, a Egeria densa, popularmente conhecida como elódea.
As macrófitas são plantas aquáticas visíveis a olho nu que servem de abrigo e alimento para diversas espécies, proporcionam sombreamento, produzem oxigênio e até podem ser usadas como biofiltro em projetos de fitorremediação. A elódea, por exemplo, é muito usada na ornamentação de aquários e lagos artificiais.
Os pesquisadores analisaram a ação do glitter por meio de ensaios de laboratório, que envolveram incubações in vitro com 400 unidades da macrófita submersa aclimatadas em água do reservatório Monjolinho, localizado na UFSCar. Foi utilizado no experimento glitter comum, do tipo comercial, com área de superfície média de 0,14 milímetro quadrado.
O experimento mostrou que a taxa fotossintética da espécie foi 1,54 vez maior em ambiente sem glitter. O material reduziu a intensidade de luz que incidia no interior dos frascos. Os pesquisadores notaram, ainda, redução nos processos respiratórios das plantas, mas não significativa.
“Essas descobertas apoiam a hipótese inicial de que a fotossíntese sofreria potencial interferência do glitter, possivelmente devido à reflexão da luz pela superfície do metal presente nesses microplásticos”, diz a Luana Lume Yoshida, pesquisadora e primeira autora do trabalho
Carnaval sustentável
“Nesse experimento, observamos especificamente a interferência física do glitter em uma espécie macrófita, mas já há outras referências mais conhecidas na literatura científica sobre a contaminação da água e o consumo dessas partículas por diversos outros organismos aquáticos”, conta Marcela Bianchessi da Cunha-Santino, que integra a coordenação do Laboratório de Bioensaios e Modelagem Matemática, da UFSCar.
“Encaixando todas essas peças, conseguimos traçar um panorama do funcionamento do ecossistema como um todo e do que pode acontecer com a cadeia alimentar completa – e esse é o grande diferencial da abordagem ecológica.”
Irineu Bianchini Jr, que também coordena o laboratório, afirmou que a pesquisa pode pautar políticas públicas para indução de consumo consciente deste tipo de material. “Mas, por ora, é importante passar para a sociedade que alterações nas taxas de fotossíntese, embora possa parecer algo distante de nossa realidade, estão interligadas a outras mudanças que nos afetam mais diretamente, como a diminuição da produção primária das cadeias tróficas dos ambientes aquáticos [organismos na base da cadeia alimentar]”.
“Se já há alternativas mais sustentáveis de adereço, por que, então, não fazer a mudança desde já?”
FIQUE ON!
Quer ficar ligado em tudo o que rola em São Carlos? Siga o perfil do acidade on São Carlos no Instagram e também no Facebook.
Receba notícias do acidade on São Carlos no WhatsApp e fique por dentro de tudo! Basta acessar o link aqui.
Faça uma denúncia ou sugira uma reportagem sobre São Carlos e região por meio do WhatsApp do acidade on: (16) 99149-9787.