Os resultados de São Carlos no novo Censo, que foram divulgados na semana passada, mostram que a cidade deve continuar apostando na tecnologia e no ensino superior para colher desenvolvimento e crescimento urbano nas próximas décadas.
A avaliação é sob a ótica de professores de geografia e de história ouvidos pelo acidade on.
O município, que no passado tivera posição de “vanguarda” na adoção de novos vetores de crescimento econômico, deve aproveitar o impulso dado pela tecnologia para garantir mais algumas décadas de bonança econômica e social.
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A nova contagem do IBGE revelou que o município ganhou 32.872 habitantes desde o Censo 2010, quando foi feita a última aferição populacional no país. O movimento do crescimento do número de moradores foi impulsionado pelo êxodo das cidades menores para as médias, em busca de melhor qualidade de vida e empregos.
Além de manter fluxo populacional quase que por gravidade, por ser a maior cidade da região e o local moradores do entorno buscam serviços, São Carlos tem a força das universidades, USP e UFSCar, que atraem estudantes das mais variadas regiões do Estado de São Paulo e do país. Muitos dos que chegam ao município para estudar acabam adotando a cidade como moradia permanente, segundo o geógrafo Rafael Gotardi Brússolo.
“São Carlos tem um fluxo gigantesco de pessoas, sobretudo no início do ano por conta das universidades. Parte destes universitários que vêm para cá estudar e posteriormente irem embora podem ficar no mercado de trabalho local, fazendo a população crescer. Então a questão da migração pode aumentar a população”, relata.
Para o estudioso, o crescimento natural – ou vegetativo – do município também influi no aumento da população, porém em menor escala. De 2015, início da série histórica do Portal da Transparência do Registro Civil, até 2022, o saldo de vidas na Capital da Tecnologia (diferença entre nascimentos e óbitos) foi de 9,6 mil.
Localizado no Centro do Estado de São Paulo, São Carlos tem se beneficiado com o movimento de saída das empresas da região da capital, fuga intensificada pelo aumento dos custos na Grande São Paulo. Às margens da Rodovia Washington Luís – corredor que corta ao meio o Estado de São Paulo – tem fácil acesso à Macrometrópole Paulista, mancha urbana que congrega as regiões metropolitanas de Campinas, Baixada Santista, Vale do Ribeira, Sorocaba e Grande São Paulo, importante centro logístico e consumidor do país.
Ao mesmo tempo em que assume uma posição de centralidade na região, em que quase que por força gravitacional atrai moradores, conhecimento e recursos, São Carlos ainda funciona como local de difusão.
Para o professor Marco Antônio Leite Brandão, o Marco Bala, um dos maiores conhecedores da história são-carlense, a posição vanguardista do município de outras gerações deve ser preservada pelas atuais classes dirigentes do município.
O município foi um dos primeiros a entrar no ciclo de ouro do café, que enriqueceu os municípios – e as elites – locais no século XIX. Na mesma época, São Carlos embarcou na expansão das linhas férreas que potencializou a economia cafeeira local.
Com a acumulação de capital e o gérmen de urbanização, São Carlos se industrializou cedo, em comparação com outros municípios do interior paulista. Catálogo da década de 1940 mostra crescimento expressivo da presença de estabelecimentos industriais na cidade, sobretudo nos ramos de vestuário e alimentação, mas com aumento da metal-mecânica e mobiliário, em que pese o tímido crescimento urbano da mesma época.
“Em meados da década de 1930, São Carlos tinha a produção industrial maior do que a agrícola em valor. No Brasil, a indústria se torna maior do que a agricultura somente na época do JK [Juscelino Kubistchek, presidente da República entre 1956-1961]”, explica.
Os esforços dos moradores da cidade para a vinda da Escola de Engenharia de São Carlos, embrião da USP local, também aconteceram por movimento de aprofundamento da industrialização local. A chegada a paulista e, a posteriori, da federal, enraizou o desenvolvimento tecnológico e científico local.
“Hoje temos o maior número de doutor por habitante, um parque industrial que tem polos de tecnologia. Isso por si só torna uma atração”, afirma o professor.
Para os próximos anos, o especialista na história local afirma que o desenvolvimento tecnológico nacional “passa por São Carlos, pela USP e pela federal” e pelas Embrapas sediadas na cidade, além dos “hubs” de startups sediadas aqui.
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Caberá ao atual governo municipal e aos próximos manterem a atratividade local e conduzirem o desenvolvimento econômico e social da cidade.
Nos últimos 18 anos, entre 2002 e 2020, São Carlos experimentou desenvolvimento econômico que alavancou o PIB per capita em 288,4%, conforme dados da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados), do governo paulista.
Apesar do crescimento da riqueza, o município ainda convive com bolsões de pobreza, em que famílias de baixíssima renda vivem em verdadeiros barracos às margens de bairros pobres. Conforme o atual Censo, 172 domicílios eram improvisados na cidade.
“É uma baita ferramenta para os gestores municipais, estaduais e federais e nas próximas fases teremos os detalhes de demografia, faixas etárias e escolaridades. É uma lupa que a gente pode ficar de olho”, declarou Brússolo.
Com os dados em mãos, caberá aos gestores do município nortear as políticas públicas, de forma a levar serviços de qualidade à população e direcionar o crescimento para que ele aconteça da melhor forma, sem prejuízos às próximas gerações.
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