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Lazer e CulturaPesquisadora de São Carlos aponta casas e quintais negros como espaços de resistência

Pesquisadora de São Carlos aponta casas e quintais negros como espaços de resistência

“São espaços que emergem enquanto quilombos urbanos”, conta Dra. Joana D’Arc de Oliveira

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Durante muito tempo os negros não eram “bem-vindos” em certos espaços. É preciso compreender essa afirmação para entender o apontamento da cientista social e pesquisadora Dra. Joana D’Arc de Oliveira de que casas e quintais negros, frente a esse cenário, são hoje considerados espaços de resistência: “Emergem enquanto quilombos urbanos”.

Na história são-carlense, sem fugir de uma realidade mundial, pontos hoje considerados turísticos já foram ambientes onde o racismo era explícito. Como, por exemplo, a Catedral de São Carlos, onde os frequentadores negros lidavam com olhares preconceituosos logo ao entrarem na igreja.

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É nesse contexto que espaços como o Flor de Maio e os antigos Clube Aliança e bar ‘De Repente Acontece’ se tornam locais de representatividade, de valorização e contribuição com a cultura preta, mas não é só isso – as próprias casas se transformam nessas referências.  

“Eu fui identificando ao longo da pesquisa que esses espaços que concentram o chão de terra batida, garantem a subsistência das famílias. A gente tem horta, criação de animais, cultivo de árvores, plantio de ervas sagradas […] o solo sagrado para essas famílias. Essas casas emergem enquanto quilombos urbanos”

Cientista social e pesquisadora Dra. Joana D’Arc de Oliveira

Tais circunstâncias faziam desses espaços locais de partilha entre famílias, encontros para ensaios carnavalescos e até mesmo de desenvolvimento de reuniões para montagem de agendas do movimento negro local.

“Outra coisa extremamente importante dentro do espaço é que há uma forma de ocupação coletiva desse lote. Ou a gente encontra mais de uma casa, para que a família sempre seja acolhida na necessidade, ou uma casa que está sempre em ampliação, os chamados ‘puxadinhos’, de uma forma carinhosa”, explicou.

SÃO MEMÓRIAS E HISTÓRIAS

Sua pesquisa também identifica a forma aquilombada nos quintais espalhados em cidades como Araraquara, Piracicaba, Americana e Santa Bárbara D’Oeste. Joana explica que o abrir de portas resgata história, cultura, acervos riquíssimos, uma série de elementos relacionados ao continente africano.

“A gente enfrenta um pouco do discurso de ‘Ruy Barbosa mandou queimar tudo, então não tem como contar a história do povo preto’, mas a gente tem sim. A partir desses documentos preservados, das fotografias, das práticas culturais e dos vários códigos que regem aqueles espaços onde não é qualquer um que entra”.

Cientista social e pesquisadora Dra. Joana D’Arc de Oliveira
Locais frequentados por famílias negras (Foto: Arquivo pessoal)

PATRIMÔNIO CULTURAL

A pós-doutoranda relata que pretende, com sua pesquisa, auxiliar as famílias nos âmbitos jurídico, legislativo, educacional e cultural no reconhecimento desses lares como patrimônio cultural afro-brasileiro.

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“O historiador baiano Walter Fraga Filho demarca que a casa da família negra no pós-abolição se tornou um símbolo material mais forte do que o significado de liberdade. E essa casa, além de trazer a liberdade para essa população, permite que eles executem, pratiquem, sejam quem são longe do olhar racista presente na sociedade”

Cientista social e pesquisadora Dra. Joana D’Arc de Oliveira

Seu projeto de pós-doutorado atual tem foco de pesquisa no distrito de Santa Eudóxia por conta da toponímia presente no território que “faz uma experiência existente de quilombo naquela região”, e pretende, também, encontrar conexões desses quintais com Luanda, em Angola.

Leia mais: São Carlos ficou marcada por luta e resistência do povo negro, aponta pesquisadora

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Thayná Cunha
Thayná Cunhahttps://www.acidadeon.com/saocarlos/
Repórter do acidade on desde 2019. Graduada em jornalismo pela Uniara e pós-graduada em Marketing e Mídias Digitais, atuou como assessora de imprensa e social media e escreve, principalmente, sobre lazer, cultura e comportamento.
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