Aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL) assumiram a defesa do comentarista Adrilles Jorge, demitido da rádio Jovem Pan, ao mesmo tempo em que cobram a cassação do deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP); ambos, entretanto, se envolveram em polêmicas sobre o mesmo tema, nazismo.
O tema voltou a ganhar destaque nas redes sociais nesta quinta-feira, 10, na esteira das declarações do presidente Jair Bolsonaro, que se pronunciou na noite de ontem. O chefe do Executivo atacou a ideologia nazista, dizendo repudiá-la de forma “irrestrita e permanente”.
No mesmo dia, mais cedo, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) anunciou ter protocolado uma representação cobrando a cassação do mandato de Kataguiri na Câmara pelo suposto crime de apologia ao nazismo.
Eduardo Bolsonaro também destacou ter apresentado projeto de lei que criminaliza a apologia tanto ao nazismo quanto ao comunismo, tema que seu pai resgatou ao se pronunciar sobre o tema.
“É de nosso desejo, inclusive, que outras organizações que promovem ideologias que pregam o antissemitismo, a divisão de pessoas em raças ou classes, e que também dizimaram milhões de inocentes ao redor do mundo, como o comunismo, sejam alcançadas e combatidas por nossas leis”, escreveu o presidente, após condenar o nazismo.
As hashtags “Criminalização do Comunismo” e “Criminaliza Comunismo Já”, “Boicote Jovem Pan” e “Renuncia Kataguiri” se destacaram entre os Trending Topics do Twitter ontem e seguem em alta nesta quinta-feira.
Postura distinta
Em entrevista ao Flow Podcast na última segunda-feira, Kim Kataguiri disse considerar errado o fato de a Alemanha ter criminalizado o nazismo, e, concordando com o apresentador Monark (que acabou demitido do programa), cobrou liberdade de expressão e critérios similares para tratar do nazismo e comunismo, representado por partidos já tradicionais no País.
Um dos fundadores do Movimento Brasil Livre (MBL), Kim Kataguiri se afastou do governo Bolsonaro e anunciou apoio ao pré-candidato do Podemos, o ex-juiz Sérgio Moro.
Mas, enquanto pedem a cassação de Kataguiri, crítico contumaz do comunismo, bolsonaristas citam a defesa da liberdade de expressão para apoiar Adrilles, ao mesmo tempo em que criticam “a cultura do politicamente correto”, associada por eles à esquerda.
Escritor e comentarista, Adrilles Jorge foi afastado da Jovem Pan por fazer uma saudação associada ao nazismo ao encerrar sua participação num dos jornais da emissora após comentar o caso Monark. Ministros e parlamentares ligados ao presidente saíram em defesa do escritor, citando argumentos contra a “cultura do cancelamento”.
O Secretário de Incentivo e Fomento à Cultura, André Porciuncula, saiu em defesa de Adrilles e classificou a repercussão do gesto feito pelo comentarista como “assustadora”.
“Não sou próximo do Adrilles Jorge e creio que ele até tenha algumas críticas a minha atuação. Contudo, não deixa de ser assustador que consigam vinculá-lo a apologia ao nazismo, em um vídeo em que ele está falando clara e abertamente contra essa abominação”, publicou ele. “Transformar gestos banais em crimes de nazismo virou hábito na esquerda. Estratégia batida, mas que ainda tem repercussão devido a absoluta hegemonia que possuem.”
O secretário Mário Frias, da Cultura, descreveu a situação como “preocupante”. “É preocupante que um vídeo em que a pessoa fala, de forma explicita, ser contra o nazismo seja usado para imputar a essa pessoa o crime de ser nazista. A realidade virou massa de modelar?”.
Também aliada de Bolsonaro, a deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) compartilhou vídeos do comentarista se defendendo das acusações e criticou sua demissão pela Jovem Pan. A parlamentar publicou a hashtag #AdrillesdeVolta, dando a entender que gostaria que o jornalista fosse readmitido na emissora. No dia anterior, ela também havia manifestado repúdio à ideologia nazista.