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PolíticaBolsonaro fica ainda mais nas mãos do Congresso com CPI da Covid

Bolsonaro fica ainda mais nas mãos do Congresso com CPI da Covid

Governo terá que negociar no varejo com centrão para conter estragos na comissão

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Presidente Jair Bolsonaro (Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil)

 

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – No ano passado, Jair Bolsonaro decidiu terceirizar a operação política do governo. Com popularidade em queda, aliados sob investigação e murmúrios sobre impeachment, o presidente fechou um acordo de proteção no Congresso.  

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Agora, a abertura da CPI da Covid no Senado embaralha os termos dessa negociação.
Controlar uma comissão de inquérito exige processos políticos complexos.  

O governo precisa monitorar a escolha do presidente e do relator, a indicação de senadores para o colegiado, a convocação de depoimentos explosivos e a aprovação de quebras de sigilo. Se o centrão soltar alguma dessas engrenagens, o estrago pode ser grande.
 

Aliados de ocasião, esses parlamentares conhecem as fragilidades de Bolsonaro e sabem o tamanho do prejuízo que ele pode sofrer na CPI.  

Mas até aqui, em vez de derrubar o presidente, eles estão mais interessados em extrair benefícios do governo.
 

Essa proteção tem um preço, porque o mero funcionamento da comissão tende a ser um fator considerável de desgaste para Bolsonaro.
 

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Mesmo que o presidente consiga montar uma tropa de choque, ficarão em exposição contínua documentos que apontam a omissão do governo na pandemia, testemunhos de decisões equivocadas e críticas de uma oposição que se mostrou tímida nos dois últimos anos.
 

Os primeiros movimentos para a montagem da CPI indicam o tamanho do problema.
 

De um lado, o governo tenta convencer senadores a adiar a indicação dos membros da comissão -o que deve ter um preço. De outro, parlamentares articulam a escolha de Renan Calheiros (MDB-AL), crítico de Bolsonaro na pandemia, para a relatoria do colegiado.
 

Se o ritmo dos trabalhos estiver sob o comando de desafetos do governo, o Palácio do Planalto correrá um risco maior.  

A base governista precisará fazer um trabalho de contenção de danos por até seis meses -tempo máximo de funcionamento da CPI.
O balcão de negócios deverá funcionar por todo esse tempo.  

A vulnerabilidade de Bolsonaro nessa CPI deve fazer com que o governo tenha que tratar com senadores no varejo, para evitar derrotas na comissão.
Nos primeiros dois anos de mandato, o Planalto conseguiu manter o Senado sob controle porque fez acordos de cúpula com Davi Alcolumbre (DEM-AP) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG).  

O corpo de parlamentares recebeu recursos e cargos direcionados por esses presidentes, mas não foi atendido de maneira direta pelo governo.
 

Agora, pode ser necessário fazer negociações pontuais a cada decisão importante: formar maioria, mudar o comando da CPI, evitar a exposição de contratos para a fabricação de cloroquina e barrar a convocação de operadores negacionistas do governo, para citar alguns exemplos.
 

O resultado desses acordos também vai depender do humor do centrão diante dos números da tragédia.
Até aqui, os partidos escolheram continuar sócios de Bolsonaro, mas a escalada de mortes e o comportamento conflituoso do presidente podem ativar o instinto de sobrevivência política dos parlamentares.
O caixa limitado do governo é outro ponto de atenção.  

O Planalto já tem dificuldades para encaixar no Orçamento o apetite dos parlamentares por emendas. Se a CPI aumentar essa fatura, pode ser impossível fechar a conta.
 

No fim de 2019, quando rascunhava o contrato de parceria com o centrão, o Planalto conseguiu apoio para esvaziar a incômoda CPI das Fake News.  

Não foi uma operação sofisticada: esses partidos aproveitaram a apatia da oposição e passaram a fazer corpo mole para dificultar o andamento das investigações.
 

Aquela mesma CPI ensinou ao governo que é possível apostar numa estratégia simples, mas arriscada: o tumulto. A comissão virou um palanque para enviados do gabinete do ódio e um espaço para que os governistas mais radicais fizessem ameaças a seus desafetos.
 

Esse movimento deve se repetir na batalha da CPI da Covid. Nesta sexta (9), Bolsonaro já deu cores políticas à comissão e disse que governadores e prefeitos deveriam estar sob investigação. Seus aliados levarão esse espírito para o colegiado.
 

O presidente aposta em um caminho adicional de conflito com o STF (Supremo Tribunal Federal). Contrariado, ele acusou o ministro Luís Roberto Barroso de “imprópria militância política” ao determinar a abertura da comissão.
 

Mais uma vez, Bolsonaro investe na tensão institucional para se defender. Se as negociações com o Congresso na CPI desandarem, os parlamentares também se tornarão alvos do presidente.

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