Desenvolver jogos de terror são sempre desafiadores, pois é necessário que esses games tenham uma narrativa forte e interessante, efeitos gráficos de qualidade, sons marcantes e a dose certa de sustos e momentos arrepiantes.
Se esses elementos não estiverem presentes e em perfeita sintonia, o jogo fica chato, sem graça e, dependendo do caso, pode até ficar ridículo.
Todos os títulos de terror de que me lembro, possuem esses elementos. Mas isso acabou de mudar com o lançamento de Scorn, jogo independente desenvolvido pela WBB Software e distribuído pela Kepler Interactive. Ele foi lançado oficialmente em 14 de outubro.
O jogo, que é resultado de um Kickstarter muito bem-sucedido (arrecadou quase R$ 1 milhão), trouxe algo realmente inovador e único para o gênero games de terror. Scorn não traz uma história muito clara e nem explica o que está acontecendo. Nós simplesmente acordamos em um mundo bizarro, sem termos nenhuma informação sobre quem somos, onde estamos e o que estamos fazendo lá.
Mas quando falo que não temos nenhuma informação, é sério. O jogo começa sem um texto, sem uma informação, nada. Temos um vídeo de abertura e acabou. Essa acaba sendo uma jogada arriscada, pois ao mesmo tempo em que pode instigar a curiosidade do jogador, pode ser um tiro no pé.
Sem informações, referências ou explicações, ficamos um pouco perdidos no começo do jogo. Mas isso não afeta somente a narrativa, mas também impacta na jogabilidade. Como não existe um tutorial ou algo do gênero, em determinados momentos ficamos sem saber ao certo o que precisamos fazer e o que procurar.
É necessário ter uma visão aguçada para não deixar passar nada. Preciso destacar que isso me cansou um pouco, pois achei que o jogo estava demorando para engrenar. Mas como disse, ao mesmo tempo que é um risco, é um potencial, pois fiquei muito instigado a continuar.
Vale destacar que como não temos uma história clara e definida, podemos interpretar os eventos ocorridos dentro do game como bem queremos. Ou seja, nós criamos a narrativa conforme nossa interpretação do jogo. Outra sacada muito bacana é que tudo é feito em primeira pessoa, do jogo em si aos eventos e cenas. Em nenhum momento temos mudanças de ângulo ou de câmeras, o que contribui muito para uma experiência imersiva.
O visual de Scorn contribuiu para deixar o jogo bem instigante, pois ele foi inspirado no artista plástico H.R. Giger, que possui um estilo que mistura o surrealismo e a fantasia. No game estamos em um mundo biomecânico, onde é possível fundir elementos mecânicos vivos aos nossos corpos.
Isso está bem claro e nítido nos cenários do jogo, com estruturas onde carne e metal se misturam, por exemplo. Nesse ponto, a riqueza de detalhes impressiona e, ao mesmo tempo, desafia, pois precisamos explorar cada pedaço do mapa para conseguirmos progredir. Existem, nos mapas, pequenas charadas, que precisam ser resolvidos para podermos continuar. Algumas um pouco complicadas.
Um ponto importante e positivo é que a jogabilidade é bem simples, pois tudo é feito no teclado e mouse (no caso da versão para PC, que foi a que joguei). Scorn também está disponível para Xbox, mas acredito que os controles também são simples na versão para console.
Basicamente, há os movimentos do personagem e os de combate (tiro, cura e habilidades). Nada complexo e fácil de pegar. Acredito que tenham seguido isso porque, como não existe uma introdução ou um tutorial, ficaria muito difícil assimilar os comandos.
O jogo está em português do Brasil, mas como não tem muitos textos e diálogos, acaba sendo um complemento positivo, mas não essencial. Talvez, mais para frente, seja necessário, mas até o momento, não vi grandes necessidades.
Ao avaliar tudo isso, posso dizer que Scorn tem muito potencial, mas é preciso um pouco de disposição. Por hora, está com nota 6,5 no ranking do Repórter Nerd.
Confira a primeira hora do jogo.