Diversidade e sustentabilidade foram duas temáticas que marcaram o terceiro dia do São Carlos Experience (SCX), nesta sexta-feira (27).
Nossa reportagem acompanhou dois painéis e uma palestra ao longo do dia. Confira um pouco de como foi cada uma logo abaixo:
Mulheres negras no empreendedorismo
A cobertura desta sexta de SCX começou no painel “Resistência e Excelência: trajetórias, desafios e conquistas de mulheres negras empreendedoras”, no auditório Boulevard, em Onovolab. O diálogo teve a presença de Indioepê Omin, proprietária do espaço cultural Roots Bar; Vanessa Nunes, coordenadora e cofundadora da Afrokali, empresa de equidade e inclusão educacional/empresarial; Loany Santos, fundadora da empresa de jogos ambientais Gaia Lila; e Adla Viana, fundadora da startup de dados e IA de Gente e Cultura Tech Viz
Loany começou o projeto como um presente à primeira filha. Inicialmente, vendia os jogos pelas redes sociais e em feiras livres. Depois, migrou o negócio para o chamado B2B (business to business, ou seja, vendendo para outras pessoas jurídicas). “Fiz uma grande venda para a prefeitura de São Carlos e aí eu me senti uma grande empresária”. O produto lúdico comercializado pela empresa é feito com materiais orgânicos, oferecendo uma experiência de sustentabilidade.
Indioepê também falou com orgulho da trajetória iniciada em 2018, segundo ela com direito a “muita especulação imobiliária e violência policial”. “Trabalhar com uma cultura preta e periférica não é fácil. Para nós, pretos e periféricos, a música é a melhor forma de se expressar. A gente acredita que o único sistema bom é o sistema de som.”
Vanessa adicionou ao discurso. “Na comunidade negra a gente não faz nada sozinho. Quando a gente consegue subir degraus, queremos levar os nossos junto. “Resistindo aos obstáculos a gente tem uma perspectiva de existência plena. Não dá para falar de excelência sem falar de resistência”, acrescentou Adla.
“Hackear” o sistema
Em seguida, a engenheira civil Adriele Fonseca, formada pela Universidade de São Paulo (USP), liderou a palestra “Empreendedorismo Feminino e Financiamento Universitário”. Falou da experiência como bolsista em vários programas durante a graduação e apresentou sua empresa, a Lilith SS, que vende produtos eróticos na internet.
Adriele recorreu a uma pesquisa desenvolvida durante os Jogos Interrepúblicas Universitárias, em 2021, e descobriu que São Carlos contava com pelo menos seis mil estudantes morando nesses locais, mostrando um potencial para negócios. “A empresa é um movimento de empoderamento do nosso próprio prazer.”
A engenheira, inclusive, acredita no impacto coletivo do empreendedorismo. Tanto que usou uma fatia das vendas dos produtos para financiar um projeto de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de estudantes de Imagem e Som, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
O curta-metragem “Vibrações Positivas” foi exibido durante o evento e o editor e roteirista Jonathan de Almeida reconheceu a dificuldade de captação de recursos para a produção nessa fase acadêmica. “Precisamos pegar essa centralização que existe: do dinheiro, do gênero e do poder e fazer uma descentralização. Temos que hackear o sistema, principalmente o financeiro: tirar o dinheiro de onde tem mais e colocar onde tem menos”, afirmou Adriele.
Resíduos sólidos
Outra discussão importante da programação envolveu o tema “Resíduos sólidos: São Carlos precisa avançar”, com o promotor público Flávio Okamoto e o consultor na área de PCR (resíduos pós-consumo) Amarildo Bazan. A idealização e mediação foi da professora Alessandra de Almeida Lucas, do DEMa/UFSCar.
De acordo com Bazan, os últimos dados da cidade relacionados ao assunto são de 2019, retirados do Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólido (Sinir). No estudo, São Carlos ocupava o 213º e o 651º lugares, respectivamente, no Índice de Sustentabilidade e Limpeza Urbana a nível estadual e nacional.
Bazan ainda apresentou um número impactante. Afirmou que, se fosse possível coletar 100% do material reciclável descartado na cidade, poderia haver uma arrecadação municipal de R$ 27,8 milhões ao ano.
Okamoto acrescentou que “sobretudo nas periferias, não é aceitável que as pessoas vivam nessa proximidade com o lixo”.
O promotor também lembrou que as localizações dos ecopontos nem sempre são tão estratégicas. “Alguns modelos de ecoponto se mostram falhos. Não adianta você ter o ecoponto e acreditar que uma pessoa da periferia, que não tem carro, vai levar um metro cúbico de entulho a pé. Aí ela paga 10 reais para o carroceiro, ele pega e joga a duas quadras da casa dessa pessoa, no próprio bairro dele”, citou.
O SCX
O São Carlos Experience acontece até o próximo domingo (29). O festival foi previamente nomeado como “um evento feito de vários eventos”. A programação completa e o formulário de inscrição para participar estão no site oficial (https://saocarlosexperience.com)
De acordo com a organização, esta é uma oportunidade de acesso ao “melhor que se produz no ecossistema de inovação, ciência, tecnologia e empreendedorismo de São Carlos”. A programação completa está no site oficial.
O evento também vai reunir arte, cultura e gastronomia como pilares complementares. As atividades do São Carlos Experience serão pautadas pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU).