Você sabia que a música pode mudar a forma como saboreamos o chocolate? Uma pesquisa de mestrado desenvolvida na FEA (Faculdade de Engenharia de Alimentos) da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) analisou a percepção do gosto do doce a partir da escuta de sons de alta e baixa frequência.
A dissertação “Com música ou sem música: um estudo sobre o efeito cross-modal de sons doces e amargos numa experiência de consumo de chocolate” foi desenvolvida pela engenheira de alimentos Renata Shimizu. Com base nos seus anos de experiência no mercado profissional, ela decidiu realizar uma pesquisa com foco na área sensorial, analisando os alimentos a partir da influência de outros estímulos.
O experimento começou a ser desenvolvido em 2019, quando Renata entrou no mestrado, orientada pelo professor Jorge Behrens. A escolha em trabalhar com a relação entre a música e o chocolate foi motivada por conta de serem dois estímulos muito apreciados pela população geral, o que também facilitaria na hora de conseguir pessoas para participarem do estudo.
LEIA TAMBÉM
O que é “cacau alucinógeno”? Tendência entre jovens em festas viraliza nas redes sociais
Jair Bolsonaro pode ser preso?
Para a análise, foram selecionados dois sons que já tinham sido utilizados em outros trabalhos do tipo, desenvolvidos para provocar experiências sensoriais. O primeiro é caracterizado como uma música doce, com tom agudo, de notas musicais em alta frequência. Já o segundo é uma música amarga, composta por um tom mais grave, de notas em baixa frequência.
O uso de canções mais abstratas foi para que não existisse um histórico pessoal ou cultural que pudesse ser transferido para a relação do ouvinte com o produto analisado. Se fossem usadas músicas de artistas já conhecidos, a pessoa poderia ter tido uma experiência prévia que fosse boa ou ruim com a produção sonora em questão, conforme explicou Renata.
A partir da relação entre os dois elementos, foi possível concluir que a música tem a capacidade de exercer um efeito gustativo. “Nessa música doce, a percepção de intensidade do doce foi aumentada, e as emoções associadas à experiência foram positivas. E com a música amarga, foram todas emoções negativas. Então você vê que distinguiu muito bem a natureza delas”, disse a pesquisadora.
Estudos que relacionam o som com alimentos são pouco comuns, principalmente no Brasil, enquanto a associação entre cores e comida, por exemplo, acaba sendo vista com mais frequência. Renata Shimizu acredita que esse é um campo a ser descoberto, e cita estudos que já utilizaram alimentos vegetais no experimento, podendo indicar até mesmo uma nova estratégia para a redução de açúcar.
“Isso é muito importante para várias estratégias de desenho de experiência para marcas que queiram usar a música como um estímulo de construção de marca. Então esse conhecimento inspira a trazer mais harmonização dos estímulos para um objetivo da empresa ou de quem estiver usando essa estratégia”, conclui.
DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA
Com o início da pandemia em 2020, a fase experimental do projeto precisou ser adaptada para o modo remoto. Ao todo, foram quatro etapas feitas à distância, para a classificação das sensações do público em relação aos sabores dos chocolates e à percepção das músicas escolhidas.
Na etapa inicial, a engenheira de alimentos selecionou chocolates do tipo meio amargo e distribuiu para pessoas que quisessem participar. “Distribui aqui no meu prédio, ao trabalho do meu marido, quem ia ao trabalho presencial também levava para os colegas. Foi uma colaboração de todo mundo para poder distribuir essas amostras. Algumas eu até mandei por Sedex para outras cidades”, contou ela.
As pessoas que degustaram o chocolate precisaram responder um formulário on-line logo em seguida, para que Renata analisasse quais sabores eram percebidos. Também foi preciso selecionar as músicas para serem incorporadas no experimento, para que o público respondesse outro questionário, relatando as sensações ao escutar cada som.
Então, na fase final, já no formato presencial, as pessoas envolvidas no experimento recebiam três amostras de chocolate para degustar. Primeiro, elas saborearam sem qualquer som, e, em seguida, a degustação foi feita ouvindo cada uma das músicas escolhidas.
Ao final de cada etapa, os grupos responderam o quanto gostaram ou não de cada chocolate, apontando o grau de equilíbrio entre os gostos doce e amargo, e indicando com qual intensidade sentiram 25 emoções registradas em um questionário.
LEIA MAIS
Clipe de Juliette e Marina Sena recebe críticas na internet; veja o motivo
*Sob supervisão de Luciana Félix