O dólar abriu em queda no mercado à vista, nesta sexta-feira (11), depois de uma alta de mais de 4% nesta quinta-feira (10). Apesar da abertura, a moeda estrangeira seguiu a manhã volátil, voltando a subir e a cair novamente. Por volta das 11h30, o dólar operava em queda de 1,53% e a bolsa em alta de 0,76%.
O mercado de câmbio se beneficiou mais cedo do apetite por ativos de risco no exterior nesta manhã de queda de mais de 1% do índice DXY do dólar ante pares principais, valorização do índice EWZ do Brasil nos negócios no pré-mercado em Nova York e de salto em torno de 3% do petróleo após o relaxamento das restrições à covid-19 na China.
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Mas a Capital Economic avalia que as consequências do relaxamento de algumas restrições relacionadas à política de covid-zero na China são incertas, na visão do economista sênior para o país, Julian Evans-Pritchard.
A recuperação do real nesta manhã é moderada à medida que persiste grande temor fiscal em meio à transição de governo. O mercado continua ressabiado com os ativos locais até que sejam definidos o valor final da PEC da Transição, os nomes para a equipe de transição e a esplanada de ministérios, principalmente os relacionados à Economia, segundo analistas.
Os investidores estão avaliando os dados do setor de Serviços no País. O volume de serviços prestados subiu 0,9% em setembro ante agosto, acima do teto das projeções do mercado e, no mês anterior, o resultado do indicador foi revisto de 0,7% para 1,1%, indicando recuperação mais consistente no setor e podendo adicionar pressão à inflação local.
MERCADO NERVOSO
O mercado reagiu mal às declarações do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, nesta quinta-feira. Enquanto nas bolsas internacionais havia um forte apetite por risco em Nova York, onde os ganhos ficaram em 3,70% (Dow Jones), 5,54% (S&P 500) e 7,35% (Nasdaq), na esteira de leitura mais fraca do que o esperado para a inflação ao consumidor nos Estados Unidos em outubro, que pode abrir caminho para Federal Reserve mais ameno em dezembro. Aqui, o Ibovespa fechou em queda de 3,35%, aos 109.775,46 pontos, após ter chegado a 108.516,46 pontos na mínima da sessão (-4,46%), em nível não visto desde o fim de setembro.
Afirmações de Lula sobre a necessidade de resgate da dívida social, rumores sobre a possibilidade de que o Bolsa Família (atual Auxílio Brasil) fique de vez fora do teto de gastos, comentários do futuro presidente sobre Petrobras e BNDES, e a indicação de que o vice eleito Geraldo Alckmin não deve ocupar ministério derrubaram a expectativa por comedimento na largada da próxima administração, ante situação fiscal, para 2023, que já era vista com reservas pelo mercado.
Os comentários de Lula foram fortes, mas não tudo. Mais cedo, os ativos brasileiros já refletiam grau maior de aversão ao risco fiscal, mas, em direção ao fim da tarde, a situação se deteriorou com a confirmação oficial de que o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega estará envolvido, na equipe de transição, com a área de Planejamento e Orçamento. Assim, o que parecia ruim, ficou ainda pior aos olhos do mercado, com pressão observada também no câmbio e nos juros futuros.
Em outro desdobramento negativo para o dia, após três meses de deflação, a leitura a 0,59% para o IPCA de outubro, acima do que se esperava para o mês, contribui para reforçar a percepção de que o BC terá de manter a Selic elevada por mais tempo, em contexto ora agravado pela deterioração da perspectiva para a política fiscal, em viés ainda claramente expansionista.
“MERCADO FICA NERVOSO À TOA”
Ainda nesta quinta-feira, Lula afirmou que o mercado financeiro fica “nervoso à toa” no Brasil. “Nunca vi tão sensível como o nosso”, disse na saída do CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) sede do governo de transição. “Engraçado que mercado não ficou nervoso com quatro anos de Bolsonaro”, acrescentou, em tom de ironia.
Ao deixar seu gabinete no CCBB rumo ao hotel onde se hospeda em Brasília, Lula conversou com apoiadores e respondeu, brevemente, a perguntas da imprensa. Questionado sobre a PEC da transição, que visa abrir espaço no Orçamento, o presidente eleito afirmou que não está à frente das negociações.
“Eu não estou negociando a PEC, quem negocia é Alckmin e Aloizio Mercadante”, disse Lula. Questionado por apoiadores sobre dívidas do Fies (Fundo de Financiamento Estudantil), Lula disse que o programa “não é dívida, é investimento”.
“PODEM FICAR TRANQUILOS”
Lula ainda publicou nas redes sociais vídeo de sua declaração à imprensa em que relativiza a reação do mercado financeiro às suas críticas à “estabilidade fiscal”. Junto ao vídeo, Lula escreveu: “Podem ficar tranquilos”. (Com informações da Agência Estado)
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