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Conservar, restaurar e dar vida àquilo que ninguém mais ‘botava fé’. As mãos calejadas do funileiro Anselmo José de Almeida, de 56 anos, representam o trabalho duro e árduo que executa desde os 10.
Conhecido por Xuxa, o morador da Vila Xavier, é proprietário de uma funilaria – uma das poucas de Araraquara que é focada em carros antigos.
Mas não são apenas os modelos dos automóveis que são vintage, o modo do Seu Xuxa trabalhar também. Ele confessa que preservou a forma de realizar o ofício como aprendeu lá no passado, quando ainda era discípulo de Raul e Basílio Batistela.
“Era tudo manual, na marretada mesmo, não tinha maquininha”, disse o funileiro.
Tudo foi aprendido na prática, assim como o capricho e a perfeição, como as tradições e segredos da profissão.
“Foram os primeiros funileiros da cidade. Tinham poucos profissionais dessa área aqui e eles ensinaram os meninos que, na época, tinham a minha idade.”
Hoje, Xuxa é um dos únicos dos colegas aprendizes que seguiu a jornada dos mestres. Muitos, segundo ele, já faleceram. “Só tem um ou dois que trabalham. Vou trabalhar até onde der, sou apaixonado. Gosto de adaptar”, disse Xuxa.
Parte da insistência do funileiro está no fascínio por tudo aquilo que é antigo. “Eu gosto de colecionar coisas antigas. Sempre gostei, desde criança”, assumiu.
“Eu acho que o carro antigo é mais fácil, porque você pode até fazer peça, o novo acho mais complicado de trabalhar, as vezes você não consegue fazer a peça, o antigo você faz no martelo.”
Muita história pra contar ( …ou mostrar)
Na casa do funileiro, no mesmo terreno da oficina, ele mostra com muito orgulho lembranças de suas criações e de sua juventude.
Como um personagem muito peculiar, Seu Xuxa tem muita história para contar (e mostrar). Nas cadeiras, discos, vitrolas e rádios antigos, que mostram as paixões do restaurador. “Tem bastante coisinhas aqui”, disse Xuxa enquanto mostrava um bolo com 15 anos de registros fotográficos.
Ele passou pelo Tiro de Guerra em Araraquara e dali foi designado para ser como maestro de fanfarras, outra grande paixão.
“Fui designado quando era maestro do tiro de Guerra. Dai as cidades me procuraram para fazer esse trabalho”, disse.
Maestro pelas fanfarras de Santa Lúcia, Bocaína, Américo Brasiliense, também fundou bandas marciais de Araraquara como a La do Felipe e a Dragões, que hoje não existem mais. “Eu ensinava tudo, desde a coreografia até a banda completa”, contou com saudosismo.
As lembranças estão por todo lugar. Nas paredes uma coleção de 20 instrumentos, dos mais variados e inusitados, como um contrabaixo de quase dois metros de altura, uma escaleta, coleções de bandolins. Entre os preferidos do momento estão o Saxofone e o Oboé.
“Cada um tem uma história, mas o mais difícil de conquistar foi esse bandolim.”
O bandolim no caso era de um amigo do tiro de guerra, que ganhou o artefato de uma bailarina. Anselmo mandou restaurar em um luttier e depois deixou, como uma obra de arte, exposto na parede.
O talento e facilidade para música no caso do Xuxa foi uma questão geracional, como ele explica. “Minha mãe tocava acordeon, a gente também é meio parente do Jair Rodrigues”, disse o funileiro que já foi professor de música.
Um escultor de muitas criações
Entre o bolo de imagens, algumas raridades foram surgindo, as quais Xuxa sabe todos os destinos. Cidade por cidade, cliente por cliente, tudo está ali, não só nas mãos mas também nas memórias do HD interno do funileiro.
“Esse carro aqui é uma história, a última Ximbica de Santa Lúcia, briguei com uma família mais de 20 anos e depois consegui comprar. Ela veio para Américo toda enferrujada, restaurei ela inteira. Hoje ela está no Rio de Janeiro”, contou com certa euforia.
“Desse caminhão, fiz uma jardineira”, mostra com um grande orgulho de seu trabalho.
A jardineira citada por ele foi responsável por carregar a banda Demônios da Garoa no aniversário de 201 anos de Araraquara. “Foi o mais top mesmo, deu o que falar.”
Perguntado como é ver uma obra de arte que saiu de sua oficina andando pelas ruas da cidade, ele responde.
“É muito legal, gratificante. Igual esse Ford 46 (mostra), é a coisa mais linda do mundo, já vi até em exposição”, finalizou.