ARARAQUARA 205 ANOS – Ao longo desta semana, o acidade on irá publicar uma série de
reportagens, que destacam pontos históricos de Araraquara e celebram seu aniversário.
A Vila Xavier nasce da ferrovia, que corta Araraquara ao meio. De um lado ficou o Centro da cidade e do outro um monte de histórias, como a do Senhor Jair Cevelino, de 72 anos, que chegou antes da luz elétrica.
Eu nasci na Vila Xavier e nunca sai daqui. Então, eu lembro muito bem da inauguração da luz elétrica, em 10 de maio de 1.958. A noite era tudo escuro, a gente só brincava à noite quando tinha lua nova”, contou.
Com a chegada da luz elétrica, o morador clareou ainda outras lembranças, como a lenda da ‘’Rua do Tesouro’’.
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“A Rua Bento de Barros era chamada de Rua do Tesouro porque na Segunda Guerra Mundial falaram que um alemão que estava refugiado no Brasil tinha escondido um grande tesouro ali, que era uma rua de terra”, lembrou. “Então, a rua ficou totalmente esburacada porque as pessoas escavavam em busca do tesouro”, completou.
A Vila foi distrito antes de se tonar bairro. A nomeação aconteceu por volta da década de 1.960.
Por aqui a arquitetura parece não ter rompido muito com o tempo: as casas são geminadas em sua maioria, têm portões de grade e vizinhos que se conhecem a longa data.
Em algumas ruas, por baixo da camada de asfalto que se esfarela com o vai e vem dos carros, ainda dá para ver o que restou dos paralelepípedos.
O coordenador de Acervos e Patrimônio Histórico, Weber Fonseca, explicou que a construção de dois importantes pontilhões foi um marco desta mudança: o da Barroso e o da 22 de Agosto.
“E posteriormente ela se torna uma cidade, tão grande quanto o lado de lá do rio. Posteriormente, surge a ferrovia, o asfalto, e a Via Expressa”, resumiu o coordenador.
Subindo a Avenida Santo Antônio dá para notar os comércios que se fundaram junto às casas mais antigas. Do lado direito, bem próximo à Igreja, tem uma daquelas lojas que vendem um pouco de tudo: filtros de barro, panelas, parafusos, banquetas.
O dono deste comércio tradicional é o Senhor José Roberto Rosato, 62 anos. “A Vila Xavier sempre foi boa”, cravou.
Por falar em comércio, não dá para esquecer o ‘’Ponto Chic’’ – bar boêmio que nasceu em 1.923 e está quase com 100 anos de idade, e que hoje está pintado com o verde e rosa da Mangueira.
O bar já foi palco dos mais tradicionais sambas da Vila. Hoje, quem toma conta do lugar é o Gilson Carvalho.
“O samba veio antes de mim, inclusive. Então, sempre rolou samba aqui. No fim de ano tem um samba muito tradicional”, contou Carvalho.
Para Weber Fonseca, o bairro tem uma relação muito forte com a comunidade negra, com o samba, uma proximidade muito grande com esses valores.
O desenvolvimento do bairro está intimamente relacionado à construção e conservação da Estrada de Ferro. Na Vila, havia um grande número de moradores que trabalhavam na ferrovia, exercendo atividades braçais, ferroviários negros que moravam às margens do Centro da cidade.
O núcleo fundante, que a gente vai chamar de Centro Histórico, de alguma é composto por parte da elite, do comércio, da aristocracia, no momento de fundação da cidade. Então, este lugar apartado, que depois vamos chamar de periférico, acaba recebendo estas comunidades socioeconomicamente distantes do capital, de quem tem o dinheiro”, explicou o coordenador.
Do distrito sem luz ao bairro que, de uma travessia pra outra, foi tomando vida própria ao longo dos anos, quem mora na Vila Xavier tem orgulho de dizer que é mora na Vila Xavier.
A Dona Maria Rosa Mendes, 72, e há 50 mora na Rua Barão do Rio Branco. Ela disse que todo dia vai até o armazém que fica na esquina com a Avenida Antônio Lourenço Correa para contar casos enquanto a amiga tricota em panos de prato.
“Eu fui criada no Carmo, mas quando me casei me mudei e estou aqui até hoje. Nós tivemos comércio por 37 anos e não saí mais”, concluiu.