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Padre Anchieta: Conheça histórias de moradores do bairro

Bairro do Distrito de Nova Aparecida, na região Norte de Campinas, conta com centro comercial, cultural, hospital e terminal de ônibus

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Dona Paixão organizava uma mesa com frutas do varejo da esquina da Avenida Cardeal Dom Agnello Rossi e da Rua Papa Santo Aniceto. Ela usava um avental e foi receptiva quando questionada sobre há quanto tempo residia no bairro Conjunto Habitacional Padre Anchieta, em Campinas. “Essa casa aqui mesmo, eu esperei dez anos desde a época que fiz a inscrição”, explicou Maria José da Paixão. A aposentada veio de Pernambuco, mas morou em outros bairros da cidade antes de se mudar ao Padre Anchieta. 

“Agora, 5 de setembro vai fazer 56 anos desde que eu cheguei aqui”. Em Campinas, a senhora de 83 anos já morou no Jardim do Lago e em uma chácara na mesma região. Na terra natal, ela se recorda de ter sempre habitado lugares mais rurais. “Em Pernambuco, eu morava em uma fazenda muito grande. Era igual nesse Padre Anchieta no começo”. No bairro, ela encontrou uma oportunidade de ter uma qualidade melhor de vida.

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“Eu gosto de morar aqui. Eu gosto da minha casa. Aqui tem tudo”, embora haja elogios, ela se recorda que, no início da década de 80, as coisas eram diferentes aos moradores.

“Quando eu comecei aqui não tinha nada. Não tinha mercado, nem terminal e nem hospital”,

afirma a senhora.

Na frente do varejo, atravessando a Rua Papa Santo Aniceto, é possível ver a parede dos fundos do Centro Cultural Maria Monteiro. Há uma porta grande azul e uma rampa ao lado. Referindo-se ao espaço, ela mencionou que nem sempre foi um bom lugar. “Aqui no início, foi muito difícil. No teatro mesmo, saiu até gente morta daí”. Ela se referia a bailes que ocorriam na década de 90. Hoje, sobretudo, as coisas mudaram e, na avaliação da moradora de mais de 40 anos, o Centro respira cultura. “Aqui é um lugar para atividades, não bagunça”.

Sobre violência, de acordo com o último diagnóstico realizado pela Feac (Federação das Entidades Assistenciais de Campinas), divulgado em 2019, o distrito de Nova Aparecida, lugar que abriga o bairro Padre Anchieta, era considerado como um dos mais violentos de Campinas. “A região de Nova Aparecida apresenta uma mancha maior de violência, o que abrange o território inteiro do distrito Nova Aparecida em Campinas, entre os bairros Jd. Rosália, Chácara Boa Vista, Vila Réggio, a mancha com maior intensidade fica bem na região central do Conj. Hab. Padre Anchieta”, diz o levantamento.

Segundo a moradora, 30 anos depois dos incidentes nos bailes e quase cinco anos após a divulgação dos dados de violência de Campinas pela Feac, ela alerta que a violência não parece ser um problema no bairro. “Eu não tenho o que queixar. Eu trabalho aqui há muitos anos e nunca fui assaltada. Na verdade, o que falta aqui são bancos. A gente tem que andar muito para chegar em um”.

CENTRO CULTURAL NO QUINTAL DA CASA

Morador desde a década de 80, João Batista já viveu inúmeras histórias na Praça do Centro Cultural (Foto: Tudo EP)

João Batista varria a calçada e olhava o movimento da rua. No Padre Anchieta, as ruas parecem que nunca param, mesmo dentro do bairro. Na frente da casa quase de esquina, ele tem uma visão privilegiada da praça do Espaço Cultural Maria Monteiro. Não por menos, ele já testemunhou momentos bons e momentos ruins naquele lugar.

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“Sabe, eu acho que nós vivemos em uma boa cidade do interior”, brinca o homem de 71 anos que mora na “cidade do interior” desde 1987. Embora seja aposentado, ele continua atuando como motorista. “Estamos aqui na luta. Eu também gosto muito de dirigir e voltei à minha atuação antiga”.

Olhando para a rua, que é também parte de seu ofício diário, Batista se recordou dos primeiros anos morando no bairro. “Quando viemos para cá, aqui era um bairro cheio de problemas”. Ele se referia às ruas de terras e ao transporte público que, na avaliação dele, eram ruins. Embora o Conjunto Habitacional tenha sido planejado com possibilidades de comércios, ele se recorda que havia poucas opções para compras.

“Foi melhorando aqui as coisas. O pessoal foi cuidando mais. Um ponto que acho importante é o comércio, eu acho que melhorou muito. Hoje, nós temos opções de três ou quatro supermercados que são muito bons”,

afirma o morador.

No outro lado da Rua Papa São Dionísio, às sombras de algumas árvores, alguns moradores trocavam palavras, outros utilizavam os equipamentos da academia ao ar livre. “Antes, aí no teatro, tudo era cercado com tela”. Para Batista, que sempre teve a praça do Centro Cultural como extensão do quintal da casa, houve muitas melhorias no espaço. Ao longo de toda a praça, é possível ver placas incentivando o uso responsável dos equipamentos públicos. Antigamente, ele lembra que o Centro era utilizado como abrigo por moradores de rua.

Sobre as festas, ao longo de todo o ano, o Centro Cultural e a subprefeitura de Nova Aparecida realizam festivais sociais para a população de Campinas. Em 2019, sobretudo, no final de uma festa de Carnaval, Batista se recorda de um momento em que houve confusão e quebra-quebra. “Foi no final da festa. O pessoal começou a invadir. Teve bomba moral da polícia. Quebraram tudo e foi triste”. 

O episódio foi relembrado pela servidora pública Cleudiran Sales Dias, atual gestora do Centro Cultural Maria Monteiro. De acordo com ela, o Centro promovia matinês de Carnaval para que as famílias do bairro pudessem levar as crianças. “Era feito concurso das fantasias e os brindes eram brinquedos arrecadados da comunidade mesmo”. A servidora explica que o matinê terminou às 20h e depois houve confusão com um grupo que permaneceu no espaço. “Ficou uma turminha na praça e a polícia chegou dispersando com aquela fumaça ardida. Não demorou 20 minutos e todos já tinham ido embora”.

Embora a praça tenha sido palco de episódios negativos, Batista revela que tem mais lembranças positivas do que negativas. “Em outra festa, acho que foi Festa Junina, antes da pandemia, começou a chover muito e nós abrimos o portão para o pessoal ficar aqui na frente de casa. E tinha gente no palco falando: ‘Cuidado! Não estraguem as coisas da Aninha não!’. Aninha é minha esposa”.

Para ele, o que mais traz orgulho de habitar o Padre Anchieta é a própria comunidade local. “É um povo bacana. Eu e a Aninha participamos das atividades da igreja, então nós temos muitas amizades”.

UMA DAS FUNDADORAS DA IGREJA LOCAL

Paróquia Nossa senhora da Conceição de Nova Aparecida foi erguida com esforços dos moradores (Foto: Tudo EP)

Dona Ondina é uma das primeiras moradoras do Conjunto Habitacional Padre Anchieta. Na Rua Papa Santo Aniceto, ela mora na mesma casa há mais de 40 anos. “Aqui era tudo terra. Eu lembro que, nas ruas, tinham valetas, que a gente precisava pular”. Os anos iniciais do bairro parecem ter sido os mais difíceis para os primeiros habitantes do bairro. 

No Padre Anchieta, Dona Ondina está desde 30 de maio de 1980, antes ela morava na Vila Marieta, lugar que passou 30 anos. No bairro novo, ela diz que não era a falta de opção de transportes públicos ou a condição das ruas que a chateava, mas a falta de uma igreja local.

“Eu encostava no muro e conversava com uma vizinha já de idade e eu falava: ‘aonde é que vamos na missa? Precisamos descobrir um lugar para ir!’”. 

No São Judas, bairro de Sumaré, que é vizinho do Padre Anchieta, elas encontraram uma comunidade religiosa coordenada por um padre local. “Em outros dias, a gente passou a se encontrar nas próprias casas. Na verdade, era tudo na calçada. A gente ia na calçada e começava a conversar, sabe?”. Para Ondina, no lugar que decidiu chamar de lar, essa foi uma das primeiras missas realizadas, dessa maneira, na calçada, nas sombras das árvores, como eles podiam fazer.

De acordo com o Censo de 2022, a religião católica apostólica romana é expressiva em Campinas, com 636.703 adeptos. Em seguida, aparecem a igreja evangélica, com 273.812 fiéis, e outras religiões cristãs, com 11.788 seguidores. Os dados mostram uma influência forte da religião cristã em Campinas e dona Ondina, assim como tantos outros, fazem parte desta realidade.

O sonho de construir uma igreja local do zero surgiu nesses encontros com a comunidade e tão influentes foram, que o pedido de conquistar um espaço para a paróquia chegou ao prefeito de Campinas da época, Francisco Amaral. “A gente precisava de um local. E aí, chegaram outras pessoas e nós ficamos no pé do Chico Amaral, queríamos um lugar para fazer as nossas missas”. 

Com o dízimo e arrecadação em festas feitas para a população do bairro, a recém comunidade religiosa católica começou a ganhar força. “Um dia, estavam terminando já os apartamentos e sobrou um barracão. E depois o dono da Cohab cedeu esse espaço, que hoje é a igreja”. Dona Ondina apontou para o lugar que hoje é o prédio da paróquia. “E a gente fez dívida. Compramos todos os materiais para construir a igreja”. 

Entre trabalhos e sonhos, ela relembra sobre os desafios de erguer o prédio do zero. “Um dia, choveu tanto, mas tanto, que a ventania levou metade do barracão. Foi uma luta”. Hoje, ela diz que as lutas ainda não chegaram ao fim. Embora a paróquia possa crescer e se desenvolver mais, Ondina explica que o lugar é um dos mais importantes do bairro para ela. “Foi aqui que celebrei meus 25 anos de casado. Só tinha as ferragens no salão”.

Vozes da Nossa Gente

Essa matéria faz parte do Projeto “Vozes da Nossa Gente”, que tem como foco no jornalismo hiperlocal e busca uma maior conexão com a comunidade. O “Vozes da Nossa Gente” pretende inspirar com boas histórias, que são contadas de maneira humanizada pelos moradores de dez bairros da cidade.

A cada duas semanas, uma região será o foco das pautas desenvolvidas pela equipe de jornalismo do portal, que produzirá, para cada região visitada:

  • Matérias especiais que serão publicadas no ACidade ON Campinas
  • Conteúdos interativos, que serão postados nas redes sociais do portal
  • Um mini documentário que será disponibilizado no canal do ACidade ON no YouTube.
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