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BairrosPlácido Soave: Conheça o primeiro cineasta a fazer filmes com som em Campinas

Plácido Soave: Conheça o primeiro cineasta a fazer filmes com som em Campinas

Professor, artista e morador da Vila Industrial, Plácido Soave, usava os próprios moradores do bairro como atores

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A família Soave deixou montada uma antiga mesa de madeira logo na entrada da histórica casa na Rua 24 de Maio, na Vila Industrial, em Campinas. Em cima dela, álbuns, papéis antigos e fotografias das décadas de 40 e 50. “Você sabia que na garagem, o meu avô Plácido Soave gravou uma das últimas cenas de Fernão Dias?”, afirmou o empreendedor Sidney Soave, 52. 

Na verdade, nas redondezas da antiga casa da Vila Industrial, o entusiasta do cinema Plácido Soave faria muito mais do que apenas criar um cenário improvisado. Ele mobilizou os moradores e criaria figurinos e contextos. O então professor do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) foi o responsável pelos primeiros filmes com som de Campinas. 

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“Plácido Soave nasceu em Campinas em 1914 e, por sinal, aqui na Vila Industrial”, enfatizou Míriam Soave, 74, filha do cineasta campineiro. “Ele trabalhou na telefônica e entrou na escola Senai, para lecionar como pintor”, disse com empolgação.

Mais tarde, Míriam revelaria uma pequena parte do acervo do pai dentro da casa que hoje passa por reformas. Era um auto retrato, no estilo realista, como uma selfie de outros tempos. Plácido Soave era um homem branco, de bigode e cabelos bem feitos, mas virava outra pessoa quando estava em frente às câmeras.

“Quando ele fazia os filmes, ele deixava crescer a barba”, explica Sidney.

“Na época, eu morria de vergonha. Eu era criança e ele precisava da barba para gravar. E não era tão comum homens deixarem a barba assim. Então, quando andávamos na rua, eu ia na frente e ele ficava mais para trás”,   

relembrou Miriam, com um sorriso nostálgico.

Na época, Alfredo Roberto Alves, filho do jornalista Amilar Alves, o convidou para participar da produção do curta “Falsários” – primeira obra no mundo do cinema que Soave participaria. “Ele [Plácido Soave] fez o papel principal e contribuiu, enquanto produtor, para a gravação da banda sonora do filme em fitas de rolo, simultâneas à captação em película 16mm”, explica o cineasta campineiro Ramiro Rodrigues.

O filme estreou em 1952 e foi um marco para a carreira do artista. “Esse filme foi gravado em disco. Funcionava assim: eles gravavam a cena e ficavam à noite no teatro do Senai, gravando os sons”, explicou o neto. A princípio, a obra “Fernão Dias, o Governador das Esmeraldas”, escrita pelo jornalista Amilar Alves, formado em cinema, seria pensada em uma peça de teatro. 

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Na década de 50, Plácido foi um dos responsáveis por fundar o “Fox Cine Campinas”, que foi a principal deixa para a produção do primeiro longa-metragem com som da cidade, com a obra “Fernão Dias”. “Tudo era amador. Eu acho isso bonito. Ele pegou muita gente aqui do bairro. Tinha por exemplo o já falecido Pedrão, ele trabalhava como segurança”, diz Miriam.

PARTICIPAÇÃO DOS MORADORES DA VILA

Cena de beijo do filme Fernão Dias, de Plácido Soave (Foto: Tudo EP)

Além de Pedrão, Antônio Borges, 94 anos, também chegou a participar da produção do filme. Ele relembra que, na época, ajudava a levar os equipamentos para a Fazenda Roseira, lugar em que as gravações foram feitas. “Ah, o seu Plácido!”, rememorou. “A família do seu Plácido foi o que fez o cinema aqui em Campinas”, confirmou. “Eu só uma vez, quando fizeram um filme, fui junto. Eles precisavam de gente para levar coisas. E a gente foi lá”.

Em toda a produção, houve a participação de apenas uma artista profissional. “Por causa de uma cena de beijo, eles tiveram que contratar uma artista de São Paulo, já que as mulheres do bairro não queriam interpretar a cena”. Sidney fazia referência à Mara Mesquita, que já trabalhou também no seriado “Sítio do Pica-pau Amarelo” (1956) e das novelas “Pollyana” e “Nicholas”.

“Nas últimas cenas do filme, estava chovendo muito. Então, eles tiveram que gravar na garagem desta casa”, diz Sidney. “Eles forraram as paredes e fizeram lá. Foi tudo improvidaso”. 

Sidney foi até a mesa escura de madeira e puxou um dos álbuns, folheou três ou quatro páginas e parou em um recorte de jornal. Havia uma foto de seu Plácido junto com outros homens. Parecia um evento, daqueles importantes. “Em 1952, aconteceu o primeiro Congresso de Cinema Nacional, no Rio de Janeiro, e ele estava lá”, ele explicou. No evento, pautas como definição do filme brasileiro, distribuição e exibição e desdobramentos do cinema paulista foram discutidos. “Meu avô foi representar os domínios da arte que ele fazia”.

“Na filmagem do Fernão Dias, ele pegou uma doença”, explica a filha. “As gravações eram feitas no meio do mato”, complementa Sidney, sugerindo que o avô tenha contraído uma complicação em meio aos trabalhos em campo. Aos 77 anos, Plácido Soave, o primeiro cineasta a produzir um filme com som em Campinas, morreu por causa de complicações da doença de chagas. 

O seu legado continua disponível para quem quiser conferir através do MIS (Museu da Imagem e do Som) de Campinas e disponível, pela família, no YouTube

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