A inflação – impulsionada pela alta de combustíveis e alimentos – vem dizimando a popularidade de presidentes na América do Sul, incluindo os que foram eleitos recentemente. A insatisfação popular não respeita ideologias e afeta tanto esquerdistas, como Gabriel Boric, no Chile, quanto conservadores do naipe de Guillermo Lasso, no Equador, e Mario Abdo Benítez, no Paraguai.
A vítima mais recente é Boric. Com pouco mais de 100 dias no cargo, o líder mais jovem do continente viu sua aprovação cair de 50% para 34%, segundo o instituto Cadem. A inflação de 11,5%, muito alta para a estável economia chilena, é apontada como a principal vilã.
“No Chile, não se esperava uma inflação tão alta, mas se sabia que a recuperação pós-pandemia seria difícil. Esses dois fatores tiveram um efeito adverso na popularidade do presidente”, disse ao Estadão o economista Luis Eduardo Escobar, diretor do Centro de Estudos do Desenvolvimento de Santiago.
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FRAGILIDADE
No Peru, o presidente Pedro Castillo, há 11 meses no cargo, vive em guerra com o Congresso e o próprio partido. A inflação desestabilizou o governo, que já nasceu frágil em razão da estreita diferença de votos no segundo turno para a rival Keiko Fujimori.
O Peru, assim como o Chile, estava desabituado ao cenário inflacionário, já que os preços estavam controlados desde os anos 90. Nos últimos 12 meses, a inflação subiu para 8,78%, enquanto a aprovação de Castillo caiu para 23%, segundo o instituto Datum – uma rejeição parecida com a de Alejandro Toledo, presidente mais mal avaliado da história peruana.
“O Peru vinha de um ciclo de crescimento que garantiu um certo controle macroeconômico. Com a pandemia, retrocedemos dez anos”, disse a economista Milagros Campos Ramos, da Pontifícia Universidade Católica do Peru. “O governo não está tomando medidas contra a crise e temos um presidente fraco que responde a tudo isso de improviso e com declarações contraditórias.”
A baixa popularidade afeta também líderes de direita, como é o caso de Lasso, às voltas com violentos protestos de indígenas no Equador que o enfraqueceram politicamente nas últimas semanas.
QUEDA
Na Argentina, onde a inflação é um problema crônico há 20 anos, a popularidade de Alberto Fernández, presidente desde 2019, foi de 67%, no auge das medidas contra a covid, em abril de 2020, para 23%, segundo a consultoria Management & Fit. Para os argentinos, a inflação é um pesadelo. Nos últimos 12 meses, os preços subiram 29,3%, segundo o Instituto Nacional de Estatísticas.
Quem anda na contramão dessa onda é a Bolívia, onde o presidente Luis Arce, afilhado político de Evo Morales, eleito em 2021, tem conseguido manter a inflação sob controle. Com isso, sua popularidade está perto de 50%. A receita de Arce combina câmbio fixo, mantido com as receitas da exportação de gás, com a distribuição de subsídios para segurar os preços de alimentos e combustíveis. Para analistas, a fórmula é uma bomba-relógio. “O governo recorre a subsídios”, disse o cientista político boliviano Roberto Laserna. “Mas o déficit fiscal é grande e esse processo não é sustentável.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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