A versão apresentada pelo policial militar que foi preso por atirar e matar duas pessoas em um show sertanejo no último dia 20, em Piracicaba, contraria os relatos de testemunhas e até das imagens gravadas no local do crime. Por esse motivo, a Deic (Divisão Especializada de Investigações Criminais) informou que vai confrontar o depoimento dele com o material colhido durante as investigações.
Leandro Henrique Pereira, de 25 anos, está preso no Presídio Militar Romão Gomes desde ontem (22), quando se apresentou e prestou depoimento. No relato, segundo a delegada Juliana Ricci, alegou que o desentendimento começou após uma briga de casais. Além disso, disse que arma caiu na confusão e que, quando a recuperou, disparou por se sentir ameaçado por pessoas que avançaram contra ele.
“Não houve briga de casal. O que houve foi um empurra-empurra. O local estava lotado e aí acabou havendo um desentendimento. Ele estava com a esposa, que é policial militar, e mais dois casais de amigos. Legalmente, ele poderia estar armado. A lei garante o porte em qualquer local do Brasil para os policiais. A revista do evento permitiria a entrada desde que se identificasse”, explica ela.
A versão da Polícia Civil é confirmada por testemunhas que já foram ouvidas e também por um vídeo que circula nas redes sociais e que mostra o militar em pé e com a arma em punho. Após o crime, cápsulas e outros materiais foram recolhidos pela perícia. Os laudos não ficaram prontos, mas a expectativa da Deic é apontar quantos tiros foram feitos. A arma usada não foi entregue aos investigadores.
Ainda segundo a Deic, Leandro já tinha sido identificado e as equipes estavam preparadas para cumprir o mandado de prisão nesta terça-feira. O atirador, porém, se entregou após o advogado dele comparecer à delegacia, em Piracicaba. Ele foi levado pela Corregedoria da PM logo após depor de forma preliminar. Além dele, testemunhas, o fotógrafo e os organizadores da festa foram ouvidos pela polícia.
PRÓXIMOS PASSOS
O investigado é soldado da Polícia Militar e atua no 46º batalhão, na Zona Leste da Capital Paulista. No dia da festa, ele estava em Piracicaba a passeio junto com a esposa, que também é policial militar, e dois casais de amigos. O envolvimento de todos na briga também será investigado, segundo a Deic, mas até agora não há indícios de que mais alguém estivesse armado, ou que outra pessoa tenha atirado.
De acordo com o comandante do CPI-9 (Comando de Policiamento do Interior), coronel Cerqueira Leite, não há detalhes sobre o histórico de Leandro na corporação. A conduta, no entanto, será apurada por um Conselho de Disciplina e ele pode ser demitido. Além disso, o militar deve responder por quatro crimes: dois homicídios e duas tentativas de homicídio, já que duas pessoas ficaram feridas.
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O CASO
A festa onde tudo aconteceu foi no distrito Unileste. Durante um tumulto, quatro pessoas foram baleadas e duas delas morreram. As vítimas fatais são Leonardo Victor Cardozo, de 26 anos, e Heloíse Magalhães Capatto, de 23. Outros dois homens foram atingidos: um deles foi baleado de raspão. O outro, foi atendido em uma hospital de Piracicaba, de onde teve alta após ficar internado por três dias.
Ao todo, cerca de 4 mil pessoas estavam no local. As duas pessoas que morreram estavam na pista VIP, perto do camarote. Já os dois jovens baleados estavam na pista comum. Os disparos foram feitos durante a apresentação da dupla sertaneja Hugo & Guilherme e causaram desespero e correria entre o público. Quem estava no local aponta que houve falhas na segurança e no atendimento às vítimas.
TESTEMUNHAS RECLAMAM
Em relato feito à EPTV Campinas, os irmãos Márcia Mazzero e Luis Gustavo dos Santos, que estavam no evento, detalharam que houve falha na revista antes da apresentação. Além disso, contaram como foi a correria logo após os disparos e dizem não ter visto saídas de emergência, ou equipes socorrendo as vítimas.
“Não revistou. Só olhou e liberou. Minha amiga estava com uma bolsa e eles nem pediram pra abrir”, detalhou ela. Já o jovem diz que passou por uma verificação rápida. “Só apertaram o meu bolso. Eu estava com celular e chave nas mãos. Eles apertaram meu bolso e mandaram entrar”, afirmou ele.
Márcia e Luis Gustavo contam ainda que, quando ouviram os disparos, ninguém entendeu o que acontecia. Até que começou uma correria. A mulher também alega que viu as vítimas que foram atingidas caídas no chão e que os primeiros socorros foram feitos pelos próprios frequentadores do show e não por equipes.
“Não tinha saída de emergência. Haviam duas partes de saída. Aí todo mundo saiu correndo e a gente ficou no canto, porque foi onde a gente se sentiu mais seguro até melhorar a ‘muvuca’. Quem estava socorrendo as pessoas feridas era o público, porque não tinha preparo”, disse a testemunha à EPTV Campinas.
O QUE DIZ A EMPRESA
A Burn19 Produções, empresa organizadora do evento, emitiu um comunicado sobre o caso. “A organização do evento presta toda a solidariedade às vítimas deste terrível episódio, se colocando à disposição das autoridades, e ainda está aguardando apuração da Polícia Civil e Polícia Militar para poder se posicionar com mais informações do ocorrido”, disse em nota.
A empresa também informou que a festa contava com documentos legais e alvará para funcionamento, e que no local do evento também teve revista pessoal e seguranças particulares, além de atendimento ambulatorial.
“Vale ressaltar que a festa contava com todos os documentos legais e alvará para estar acontecendo. No local do evento, também teve revista pessoal e seguranças particulares, além de atendimento ambulatorial, assim como aconteceu na primeira edição do evento, que ocorreu no mês de março deste ano”, finaliza.
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