Por Eduardo Amaral, especial para o Estadão
Seis pessoas foram presas suspeitas de fornecer carne de cavalo para lanchonetes de Caxias do Sul, na serra gaúcha. As prisões aconteceram durante a Operação Hipo, do Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP/RS) deflagrada na manhã desta quinta-feira, 18. As investigações iniciadas há dois meses apontaram que um grupo mantinha um abatedouro ilegal e vendia as carnes aos estabelecimentos sem nota fiscal “certamente por um valor mais barato”, afirmou o promotor de Justiça Alcindo Luz Bastos, coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) durante coletiva realizada no final da manhã na sede do MP da cidade serrana.
Além das prisões, a operação também cumpriu 15 mandados de busca e apreensão. As investigações iniciaram após relatos enviados ao MP/RS pela Inspetoria de Defesa Agropecuária de Caxias do Sul, segundo as quais um abatedouro clandestino estava sacrificando cavalos e triturando a carne para vender a estabelecimentos da cidade e da região. Depois da denúncia, o MP/RS conseguiu autorização da Justiça para interceptar conversas dos suspeitos
Com a análise das conversas, os investigadores descobriram que o abatedouro fornecia grandes quantidades de carne em forma de hambúrgueres e bifes aos estabelecimentos. Através de testes de DNA foi confirmado que a proteína vendida como gado era na verdade carne de cavalo. Para comprovar a prática ilegal, o Gaeco comprou hambúrgueres em três estabelecimentos que tinham o abatedouro como fornecedor. A perícia confirmou a presença da carne equina nas hamburguerias Miros Burguer e Natural Burguer.
Os suspeitos também misturavam ao produto carnes de peru e suíno, e distribuíam cerca de 800kg de carne por semana. Além de misturar carne de cavalo, os responsáveis pelo abatedouro também alimentavam porcos com restos de restaurantes. De acordo com Alcindo Bastos, cerca de 60% das hamburguerias de Caxias do Sul tinham o abatedouro ilegal como fornecedor. Isso será investigado, mas, desde já, reforça a importância de que os estabelecimentos jamais adquiram produtos sem inspeção.”
O MP também afirmou que, além de não ter autorização para abate e comercialização de carnes, o local de processamento dos produtos também estava em péssimas condições de higiene. O esquema era coordenado por quatro pessoas. Três homens lidavam diretamente com o abate e processamento enquanto uma mulher, parente dos outros três, exercia a função de telefonista, tendo conhecimento das práticas ilegais e auxiliando no esquema. Um outro homem ligado a família, era responsável por recolher os restos de alimentos em estabelecimentos da cidade para serem usados como ração de porcos. A comercialização era de responsabilidade de um sexto homem, enquanto outros dois faziam os hambúrgueres.
As escutas apontam também a utilização de carne estragada, lavada para tirar o odor e misturada a outras na confecção dos hambúrgueres. Há indícios, ainda, de que alguns dos animais abatidos pelo grupo seriam subtraídos de carroceiros, sendo que os próprios carroceiros estariam furtando os cavalos uns dos outros para fornecer ao abate para o grupo criminoso.